sábado, 26 de dezembro de 2009

CURSOS TEOLÓGICOS DE VERÃO

Amados irmãos e irmãs, no mês de Janeiro de 2010, eu (Airton Williams) e o professor Denes Izidro estaremos oferecendo uma série de cursos teológicos através da Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares. Caso lhe interesse, acesse o link abaixo para maiores informações.

http://www.quebarato.com.br/sola-scriptura/anuncios/

sábado, 19 de dezembro de 2009

CONTRATO DE CASAMENTO

Há alguns anos atrás, li o texto "Contrato de Casamento", de Stephen Kanitz, e o achei maravilhoso. Hoje, após meus erros e pecados, tento aprender esta rica lição, de que o casamento é um contrato de amor que não se baseia em sentimentos, mas na oferta da própria vida pelo outro, o nosso cônjuge. Os sentimentos? Se decidirmos amar, na concepção da entrega, eles nos acompanharão. Um forte abraço e excelente leitura.
Pr. Airton Williams
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Na semana passada comemorei trinta anos de casamento. Recebemos dezenas de congratulações de nossos amigos, alguns com o seguinte adendo assustador: "Coisa rara hoje em dia". De fato, 40% de meus amigos de infância já se separaram, e o filme ainda nem terminou. Pelo jeito, estamos nos esquecendo da essência do contrato de casamento, que é a promessa de amar o outro para sempre. Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato.

Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo "vou sempre amar você", como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. "Eu amarei você para sempre" deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro.

Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível. Antigamente, os casamentos eram feitos aos 20 anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gêmea nesse curto período de pesquisa era de somente 10%, enquanto 90% das mulheres e homens de sua vida você iria conhecer provavelmente já depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher "ideal" para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes. Isso significa que provavelmente seu "verdadeiro amor" estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar? O contrato de casamento foi feito para resolver justamente esse problema. Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas.

As promessas e os contratos preenchem essa lacuna, preenchem essa incerteza, sem a qual ficaríamos todos paralisados à espera de mais informação. Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei dezenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia". Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento.

O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm.

Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente, se sua esposa se transformou numa megera ou seu marido num monstro, ou se fizeram propaganda enganosa, a situação muda, e num próximo artigo falarei sobre esse assunto. Para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo.



Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1873, ano 37, nº 39, 29 de setembro de 2004, página 22
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fonte www.kanitz.com.br

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

MANIFESTAÇÕES ABSURDAS

Amados irmãos e irmãs, a paz de Cristo. Convido-os a assistir este vídeo do Rev. David Wilkerson. Conheço o trablho deste pastor desde minha adolescência, quando li o livro "A Cruz e o Punhal". Este irmão tem dedicado a sua vida ao Evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Com larga experiência no ministério, sendo muito usado por Deus para a salvação de almas, neste vídeo se mostra decepcionado com o rumo que o anúncio do evangelho tem tomado. Que Deus tenha misericódia de nós, e nos livre dos falso profetas que invadiram as igrejas com ensinos de demônios.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ISTO É EVANGELHO

Amados irmãos e irmãs, a paz de Cristo. Após colocar o vídeo contundente do pastor Donnie, quero lhe convidar, agora, a ouvir esta maravilhosa mensagem do pastor Paul Washer. Este homem é um profeta de Deus em nossa geração. O que você ouvirá é a mais pura exposição do Evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Que o Espírito Santo fale profundamente contigo, como tem falado comigo. Um forte abraço, Pr. Airton Williams.

OS CAFETÕES DA PROSPERIDADE

Amados irmãos e irmãs, esta é uma das mensagens mais contundentes que já ouvi contra este falso evangelho que está sendo disseminado no mundo e contra os seu "pregadores" do inferno. Que Deus levante mais homens como o pastor Donnie.

Orar no nome de Jesus nos dá tudo o que queremos?

Amados irmãos e irmãs, este vídeo é muito esclarecedor sobre este assunto. vale à pena ouvir as sábias palavras do irmão Dave Hunt.


Confira o DVD »

domingo, 25 de outubro de 2009

AUTOFAGIA NA IGREJA - Jehozazak

Amados irmãos e irmãs, há alguns anos atrás, quando os blogs ainda não existiam, recebi o e-mail de um amigo com o artigo de um irmão chamado "Jehozadak" (creio que seja um pastor). Achei o texto maravilhoso e o aguardei, como é de costume quando considero a leitura relevante. Nestes dias o li novamente, e o texto está cada vez mais atual. Assim, decidi publicar no meu blog. Vale à pena ler e refletir. abraços
Pr. Airton Williams
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Autofagia da Igreja
Atos 17:6

Outro dia recebi um e-mail, que me indagava acerca da nossa influência no mundo que nos cerca. Continuamos a influenciar o mundo ainda hoje? Aquela pergunta martelou minha mente durante dias. Temos mesmo influenciado e modificado vidas ainda hoje? Ou estamos a caminho de um processo autofágico onde estamos nos consumindo como igreja, que não se parece com nada - ou pelo menos algumas das nossas igrejas "modernas".

Pode parecer esdrúxulo afirmar que a igreja passa por um processo de autofagia. Mas, é só fazer um pequeno esforço para vermos o quanto isto é uma realidade chocante.

A maior das diferenças - o pentecostalismo e o tradicionalismo - não foi suficiente para dar cabo da igreja brasileira. Durante décadas uns não toleravam os outros. Ser pentecostal era sinal de ignorância em todos os sentidos. Ser tradicional significava ser frio e "incrédulo". As denominações pouco se misturavam, mas num ponto todos concordavam - que o Evangelho deveria ser pregado, não importasse as circunstâncias.

O que fazer com homens que conhecem a Bíblia a fundo, mas somente se guiam pelas suas convicções pessoais? Não aceitam que digam a eles dos seus erros e falhas. Se formos criticá-los então? O resultado será catastrófico e trágico. A Bíblia nos manda
denunciá-los - notem eles - II Tessalonicenses 3:14 "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com
ele, para que fique envergonhado". Mas o que fazer se estes mesmos não se dão ao trabalho de se analisarem e de se sentirem culpados diante de Deus?

O grande e crucial problema dos nossos dias e das nossas hostes é acharmos que todo aquele que vem e se diz "de" Deus, é dos nossos e por isso mesmo temos de recebê-los de braços abertos. Não e não.

Nunca houve na história da humanidade, ou melhor, na história da igreja, tantas portas que muitos teimam em chamar de igrejas, como agora. Há vinte anos atrás, eram algumas centenas de denominações, as divisões eram poucas, e estas mesmas igrejas cresciam por multiplicação.

Hoje se cresce por divisão. Onde havia uma igreja, ou um ajuntamento de pessoas, há mais uma igreja povoando o mercado, com líderes fracos, com homens sem convicção da sua vocação, mas com um único propósito - a de ser líder de si mesmo, e, logo os imediatos deste líder vão passar-lhe uma rasteira, que ele por sua vez passou em alguém, e pronto!

Tempos atrás, as denominações eram poucas em número, mas grandes em congregações, e as igrejas cresciam por multiplicação. Hoje são centenas, senão milhares de denominações que crescem, sobretudo por divisão. Quer ver a constatação disto? Veja no seu bairro ou na sua cidade quantas igrejas novas surgiram nos últimos dois anos. Se puder pergunte a origem delas, e não se surpreenda se ouvir que ela saiu de uma divisão. Aliás, há igrejas que já estão na décima divisão.

Com o surgimento destas novas igrejas e denominações é notório que a falta de compromisso bíblico delas é um dos motivos de - muitas vezes - crescerem tanto. Muitas delas são as chamadas comunidades ou igrejas alternativas, como o Ministério do Espírito Santo em Nome do Senhor Jesus Cristo, fundada por Baby do Brasil, ex-Consuelo.

Não estou e nem pretendo discutir aqui a fé e a conversão de Baby do Brasil, mas quero tomá-la como exemplo. Quantos anos ela tem de conversão? Qual foi o discipulado pelo qual ela passou? Quem foi o seu discipulador? Sob qual autoridade ela abriu uma igreja? Quem a ungiu? Quem a separou para o ministério? Quem a comissionou? Certamente muitos levantarão suas vozes num estrépito para dizer que estou - novamente - errado, como já o fizeram de outras vezes, em que abordei temas ou assuntos espinhosos.

Tempos atrás escrevi um artigo contando as mazelas de um famoso apóstolo, que, enrolado em dívidas, é dos mais processados hoje no Brasil. Centenas de e-mails foram-me enviados, criticando-me por atacar um dos mais "santos" homens de Deus no
Brasil. Gente, se eu for contar o resultado das entrevistas que fiz com quem trabalhou com o "santo", certamente vocês ficariam horrorizados. Até tiro o "santo" mandou dar em desafetos. Um verdadeiro gangster, o nosso "santo".

D. Baby do Brasil, não é única ex-exótica a fazer do Evangelho um meio de vida como tantos outros que campeiam pelo mercado. Estes pensam que a igreja precisa se contextualizar, quando a igreja precisa sim, ser fiel aos princípios da Palavra de Deus. Pensar o contrário é buscar desculpas para justificar seus comportamentos deturpados.

Aqui mesmo onde moro, outro dia tomei um susto. Fui a um dos muitos estabelecimentos da região, e lá havia uma propaganda de uma nova igreja. A figura do pastor estava lá impávida. Eu o havia conhecido tempos antes e ele era ministro de música - muito ruim por sinal, e congregava numa determinada igreja, e agora era o fundador de um novo ministério, de uma igreja só. Até ai nada de mais, é direito de qualquer um almejar o episcopado, mas ele é mais um numa imensa selva a crescer por divisão, e logo, logo alguém vai fazer com ele o que ele fez com o pastor dele.

E aqueles que são os pescadores de aquário? Conheci um diácono, que numa determinada ocasião, quando eu ministrava aula na escola bíblica dominical, pedi que um deles lesse um trecho que estava em Lamentações de Jeremias. Pois o dito cujo não sabia se o livro estava no velho ou no novo testamento. Foi olhar no índice.

Tempos depois ele sumiu da igreja e estava frequentando outra igreja, onde o pastor prometeu fazer dele um evangelista. Evangelista? Sim, na sua antiga igreja ele não tinha, na opinião dele "oportunidades" para trabalhar, e com a possibilidade de um cargo ou de uma função ele se foi carregando a sua ignorância.

Ora, Deus pode usar qualquer um, do modo, do jeito, da forma que Ele quer, mas hoje há entre os nossos que sequer sabem pegar numa Bíblia, que nunca a leram uma vez sequer, que não jejuam, não oram, não se consagram, não buscam a Deus adequadamente, mas que querem ser figuras iminentes.

Antes, um homem queria ser um obreiro por vocação, hoje quer ser para satisfazer o ego e poder dizer que é "alguém". E quem paga e sofre é o corpo de Cristo. Antigamente uma igreja era próspera por causa da quantidade de almas que ganhava a cada ano, hoje, só é considerada assim, se tiver um canal de televisão, uma estação de rádio, se seu líder for influente politicamente, se consegue influenciar a vida da
coletividade onde mora.

Pastores regozijam-se por ser homens "notáveis" e exibem sem constrangimento algum suas condecorações, seus diplomas, seus ternos bem cortados, suas fotos ao lado de personalidades, seus títulos e cargos nas ditas associações representativas, e nos seus cafés da manhã, almoços e jantares, onde se reúnem para exibir suas riquezas pessoais adquiridas no exercício das suas funções pastorais.

Deus não quer nada disto. Deus quer humildade e honestidade de cada um. Recebi recentemente de um amigo o artigo Um Evangelho Anormal, de autoria de J.
Lee Grady, publicado na Revista Ultimato número 4 ano 24, que transcrevo na íntegra, e que nos mostra que a igreja passa por uma crise profunda de identidade, desvirtuada que foi por gente que só pensa em si mesmo, e que não hesita um instante sequer em fazer do púlpito - dinheiro, e das suas influências mais dinheiro ainda.

Um Evangelho Anormal
J. Lee Grady

"Meu mundo foi sacudido violentamente em janeiro, quando dediquei algum tempo entrevistando líderes do movimento ilegal da "igreja nas casas" da China. Durante cinco dias orei, louvei e participei de refeições simples com estes santos preciosos a maioria dos quais passou anos solitários nas prisões comunistas pelo crime de pregarem o evangelho.

À medida que eu ouvia seus relatos em primeira mão de milagres, e do tratamento cruel que receberam dos guardas policiais, senti como se tivesse encontrado pela primeira vez uma fé parecida com aquela que vemos no Novo Testamento. Quando retornei aos Estados Unidos comecei a imaginar se o que nós chamamos de cristianismo aqui tem alguma semelhança com o verdadeiro produto.

Uma líder me explicou que supervisiona 5.000 igrejas numa área rural. "Você é um bispo ou um apóstolo?", perguntei, tentando entender os termos que eles usam. "Nós não usamos títulos", a mulher me explicou. "Nós simplesmente nos chamamos de irmão e irmã". Os 80 crentes que conheci são responsáveis por mais de 35
milhões de cristãos na China. Este é um número impressionante. Mas nenhum deles chegou ao nosso local de reunião numa limusine, nem qualquer um deles era seguido por um grupo de guarda-costas e publicitários. Muitas destas pessoas vivem como fugitivos, mas os seus rostos estavam radiantes de alegria.

O sr.Yu, que é o nome que vou usar para ele, é como o apóstolo Paulo da China. Ele viu pessoas ressuscitarem de entre os mortos, e uma vez ele viu Deus paralisando sobrenaturalmente um oficial do governo que ameaçava suspender uma reunião evangelística ao ar livre. Mas o sr.Yu não esperava nenhum tratamento especial ao
passar algum tempo comigo e com seus colegas em janeiro. Ele usava uma simples camisa de manga curta, comeu o mesmo peixe com arroz que nós comemos, e comparecia para a oração como qualquer outra pessoa, antes de cada reunião. Geralmente ele tomava seu assento no fundo da sala.

Estas pessoas choravam cada vez que orávamos pela China. Elas estavam dominadas por um sentimento de urgência espiritual. Muitos deles estão ansiosos por uma mudança política em seu país não para que tenham liberdade para se mudarem para os Estados Unidos, ou para que possam comprar uma casa, mas para que possam enviar missionários para países muçulmanos vizinhos e fechados como o Casaquistão ou o Uzbequistão.

Eu senti vergonha quando voltei para casa. A humildade dos meus novos amigos chineses expôs a realidade do meu orgulho. A sua fé infantil revelou o quanto eu
confio na tecnologia, na educação e nos ídolos do materialismo ocidental. A sua contagiante paixão pelo cumprimento da Grande Comissão forçou-me a enxergar o
meu autocentrismo. Estou cheio do nosso ramo anormal e americanizado do cristianismo. É tão impotente quanto é letal. Depois de passar esse tempo com meus irmãos e irmãs da China, compreendi que muito do que vejo na igreja e até daquilo que publicamos na nossa revista (a revista norte-americana Charisma) dá náuseas para Deus.

Quão desesperadamente precisamos do Espírito Santo nosso Refinador para que venha nos despojar dos nossos títulos, nossas limusines, nossos lugares nas primeiras fileiras nos templos e nossas mensagens do tipo "que vantagem posso tirar para mim"! Precisamos voltar à simples humildade!

Que Deus nos guarde de algum dia exportarmos para outros países um evangelho adulterado e centrado no homem. Peçamos ao Refinador que envie seu fogo e destrua nossa escória de tal modo que possamos experimentar em nosso país um avivamento estilo chinês. O que eles têm é genuíno. O que temos aceitado é uma imitação barata".

Evangelho barato e deturpado por mentes insanas que corrompem tudo o que os cercam. Poucos sãos os grandes eventos evangelísticos no Brasil hoje, onde
pregadores, cantores e conferencistas não precisem pagar para falar ou cantar. E pagam caro. Principalmente por saberem que ao final de cada evento destes vão vender materiais como livros, discos, vídeos, apostilas, etc, em profusão tamanha que vão recuperar o investimento com sobras. Sabem que se investirem R$ 10 mil, vão arrecadar R$ 50 mil, e assim por diante.

E as almas? E as vidas a serem edificadas? Quem se importa com elas? Quem dá um tostão por elas? Hoje estes grandes "conferencistas internacionais" que pululam o mercado, estão é mais preocupados em manter suas máquinas de fazer dinheiro ativas do que e ganhar uma alma sequer.

Andam cercados de assessores e guarda-costas, para que ninguém chegue perto deles. Será que é medo de que alguém peça para que eles orem por alguma enfermidade ou problema, na esperança de que tais coisas sejam resolvidas? Certamente vão se frustrar.

Sem contar as práticas ditas eclesiásticas, que de eclesiásticas não tem absolutamente nada. Mas o Senhor é soberano e esta matilha que assalta a igreja nos nossos dias não vai exterminar com ela, mesmo porque a igreja é santa, apesar dos homens que as dirigem, e vai prevalecer contra estes todos.

Naqueles tempos de Atos 17:6, nós mudamos a história, transformamos vidas unicamente pela força da Palavra pregada. E hoje? Misturamo-nos no que chamamos de igreja contextualizada, que na realidade é uma massa incrédula e ignara, e transformamo-nos em pessoas que sequer conseguem mudar a si mesmos.

O desabafo do J. Lee Grady nos mostra que há sim, um povo santo, que se preocupa com o bem estar das almas, e que mesmo sob condições inóspitas, pode-se sim, pregar o Evangelho, e que as circunstâncias não importam quando se tem Deus no coração, e, sobretudo, uma vontade imensa de levar a outros esta mensagem.

Fico imaginando o que fariam estes fariseus que travestidos de apóstolos, de bispos, de profetas, pastores e "conferencistas" internacionais, propagadores de auto-ajuda, que eles chamam de livros, fariam se fossem colocados num lugar como a China?

Correriam de lá.

Certamente!

Jehozadak

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO – Parte IV - Jó 42.1-5

Quando pastoreava Luziânia-GO, o que ocorreu entre 1995 e 1997, conheci uma senhora admirável, professora famosa na cidade. Nossa igreja (naquela ocasião eu era um pastor presbiteriano), tinha um terreno muito grande, eram 10 no total, que perfaziam 3.600m. A maioria, 9, se não me falha a memória, havia sido doado por esta irmã. Todavia, ela era uma senhora muito doente, e por isso não podia ir a igreja. Assim, como seu pastor, pelo menos uma vez por mês ia visitá-la para celebrar a Ceia do Senhor com ela.
Sempre que eu chegava era recebido com muita alegria. Mesmo com dificuldades de locomoção, ela vinha à porta para me receber com um braço e um gracioso sorriso. E, normalmente, neste tipo de saudação, costumamos perguntar, mesmo que por costume: “como a senhora está?”. E a resposta daquela senhora era sempre a mesma, e sempre me encantava.
Porém, um dia, a resposta dela passou a ter mais significado para mim. Através de alguém da igreja, soube da triste história que aquela senhora. Ela teve um único filho, a quem ensinou os caminhos do Senhor. Por ele ela fez de tudo. Não somente lhe deu educação espiritual, como também formação profissional.
Quando seu filho completou 18 anos, juntamente com seu marido, decidiu lhe dar um carro novo. O rapaz tirou a carteira, como manda a lei, e dias depois recebeu seu lindo e caro presente. Assim, com ele ia à igreja, participava das atividades departamentais, sociais, de evangelismo e etc. tínhamos, ali, uma imagem de uma família abençoada.
Quando se chega em Luziânia, pela entrada principal, têm-se uma avenida muito grande, reta, que no final dá no centro da cidade. Esta avenida, além de grande e reta, é em declive. Todavia, antes de chegar ao centro, há uma rotatória. Pois bem, num belo dia, à noite, o filho desta irmã voltava de um lazer, e acelerou um pouco mais o carro. Não se pode dizer que estava correndo fora dos limites, mas estava acima do normal. Quando chegou próximo à rotatória, este irmão perdeu a direção do carro, que capotou junto à ribanceira. Para tristeza daquela mãe, seu único filho falecera neste acidente.
A partir do momento que soube desta história as palavras de saudação daquela irmã me soavam mais profundas, e também o alimento de sua alma após a tragédia. Sempre que lhe perguntava: “como está a senhora?”, ela me respondia: “com Cristo no barco tudo vai muito bem”. O barco podia estar à deriva, lançado à tempestade, mas se Cristo estivesse nele, estaria tudo bem, bastava crer.
Estas simples palavras daquela irmã me ensinaram uma coisa muito profunda sobre o sofrimento, e que podia ver o paralelo em Jó: em tempos de sofrimento é necessário saber que Deus está no controle de tudo. Porém, esta percepção só fará sentido para nós se tivermos uma correta compreensão de quem é Deus. E esta percepção que tem levado muitas pessoas às neuras em tempos de aflição, pois o seu Deus não é aquele revelado nas Escrituras, um Deus que tem o controle de tudo e tudo conduz para a sua glória. O Deus de milhares de pessoas é um deus criado à imagem e semelhança da soberba e avareza humana. Assim, quando as coisas não funcionam, quando o bem se transforma em mal, o deus destas pessoas se quebra, o altar idolatra é destruído, e, então, ficam sem rumo, sem norte, sem porto em meio à tempestade.
No livro de Jó, o deus dos amigos de Jó era muito limitado e à serviço do nosso bem. Assim, se fizéssemos as coisas corretamente, andássemos na justiça, é certo que Ele só nos abençoaria. Se, por outro lado, andássemos em pecado, sua maldição também seria certa. Neste tipo de pensamento, o deus dos amigos de Jó é um deus que barganha com o homem, um deus manhoso, que só faz o bem se receber em troca o bem.
Acontece que a história de Jó surge para chocar esta mentalidade pequena de Deus. Para nos mostrar que o soberano Senhor, Criador dos céus e da terra, não está sujeito aos nossos comportamentos; mostrar que sua glória não se negocia com a mesquinhez dos nossos corações. Jó entendia isto, mas somente no final do livro fica claro para ele os fundamentos desta questão.
Até o capítulo 38 todo o debate gira em torno dos amigos de Jó com ele, numa relação acusação-defesa. Foram três rodadas, com nove discursos, sem que a questão fosse resolvida. Atendendo ao clamor de Jó, 31.35, Deus intervém no debate e passa a falar. Na verdade, Deus passa a se revelar em meio ao sofrimento, à dor, às lágrimas, e esta revelação leva Jó a declarar: “eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem”. Esta última frase não deve ser interpretada literalmente, pois Jó não viu a Deus, de fato. O que a frase quer dizer é que, agora, Jó não somente conhecia Deus pelo discurso, mas compreendia quem Ele era em meio à sua história. E é desta experiência que surge a última lição que aprendemos com Jó sobre o sofrimento: vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma correta percepção de Deus.
Hoje, quando vejo inúmeras pessoas sofrendo, quer seja por decisões erradas que tomaram, por pecados cometidos, pelo azar que tiveram ou pelas injustiças sofridas, não consigo entender a forma como se voltam para Deus e passam a lhe ordenar o que deve fazer e como fazer. Não consigo entender como pessoas prostradas mantêm a pose de senhorio e se achegam para Deus cheios de direitos e exigências.
Numa certa ocasião, enquanto pastor-auxiliar em Itapeva-SP, assisti parte de uma mensagem que me deixou chocado. Entrei na farmácia para comprar um remédio, por volta das 23:00, havia um bom movimento, e então, fiquei aguardando o balconista. Durante este período, assisti a referida mensagem na televisão. O pregador, senhor Edir Macedo, anunciava que Jesus tinha vindo nos trazer vida “abundante”, e interpretou isto como sendo bens materiais, físicos: dinheiro, saúde, etc. Depois de explicar isto, passou a ensinar que tais bênçãos são auferidas com a entrega dos dízimos e ofertas especiais. Então, veio o que me assustou, ele disse: “quando você entrega o seu dízimo ao Senhor, é como se você colocasse uma faca no pescoço de Deus e, então, pudesse exigir o que você quisesse”. Sim, estas foram as palavras chocantes. Agora, o mais interessante é que a igreja deste senhor continua cheia em qualquer lugar do país. O que mostra que as pessoas criaram um deus segundo os seus desejos, e no momento da dor, do sofrimento, por desconhecê-lo, de fato, entram em neuras psicológicas.
Este deus frágil, manhoso, manipulável, não é o Deus que a Bíblia apresenta e que levou Jó a se calar. Quem é este Deus? O autor do livro não pretende fazer uma explanação teontológica, ou seja, uma explanação do ser de Deus, conforme revelado no Antigo Testamento. O seu propósito ao nos narrar o final da história de Jó, principalmente o bloco de 42.1-6, era refletir sobre Deus a partir das nossas inseguranças, medos e revoltas. Quem é este Deus diante do nosso sofrimento?
A primeira frase reveladora diz: “Bem sei que tudo podes...”. Esta frase é interessante, pois revela uma faceta tão conhecida de Deus, porém, mal-compreendida em nossa teologia do sofrimento. Quando lemos “tudo podes”, deduzimos, de imediato, a “onipotência” de Deus, e isto é correto. O que está errado com nossa leitura é a unilateralidade de nossa interpretação.
Quando dizemos que Deus “tudo pode”, associamos isto somente com bênçãos, vitórias e sucessos que Ele nos dará. Todavia, Jó sabia que Deus tinha todo o direito de dar o que bem entendesse, tanto o bem quanto o mal. Observe que já no cap. 2.10 ele havia dito, respondendo ao conselho louco de sua mulher: “temos recebido o bem de Deus e não receberíamos tambpem o mal?”
Até o confronto com o Senhor, Jó sabia que Deus tinha todo o poder para nos dar o que bem entendesse. O que muda após o discurso do Senhor, a partir do capítulo 38, é que Jó passa a entender isto, pois estava diante do Senhor soberano, que não deve satisfação a ninguém. Agora, a fala de Jó se reveste de uma tonalidade difente de de 2.10, a tonalidade de quem viveu a experiência de compreender que Deus “tudo pode” realmente: pode nos dar o bem (e.g. bênçãos, vitórias, sucessos, etc.), e também pode nos dar/enviar o mal.
Para continuarmos nossa reflexão, convêm fazer uma observação: quando o texto fala do direito do Senhor nos dar o “mal”, não se refere à ideia de mal moral, ou seja, Deus não nos dará o pecado como experiência. Quando a Bíblia fala que Deus pode e dá o mal aos seus filhos, ela sempre se refere ao conceito de sofrimento, dores, muitas vezes resultado dos nossos pecados (e.g. o caso de Davi), o que não é o caso em Jó.
Em Jó, Deus envia o mal/sofrimento como forma de testar, provar, a fé daquele homem justo. E isto nos intriga, pois segundo a teologia popular, Deus só pode dar ao homem piedoso as bênçãos materiais. Neste caso, Jó soa como blasfêmia para os defensores deste pensamento, pois é exatamente a retidão de Jó que o leva ao sofrimento.
Compreendendo esta questão do “mal”, vemos que o Deus revelado na Bíblia não é Deus que existe para atender nossos caprichos, nossas vontades infantis, imaturas. Ainda que possa dar-nos “o melhor desta terra”, ele também nos faz sofrer para amadurecermos na jornada de fé; ele nos faz sofrer para que possamos expressar nossa total confiança nele, e não naquilo que possuímos, nos bens que conquistamos, os quais são transitórios e estáveis (1 Tm 6.17).
É ilustrativo disto quando lemos Deuteronômio 8.2, quando o Senhor diz que levou o seu povo ao deserto para o “humilhar, para provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos”. É esta a experiência que Jó viveu, a experiência do deserto, de alguém que perdeu tudo, até a própria dignidade para saber se “guardaria” ou não os mandamentos do Senhor.
Sim, Deus pode tudo, inclusive nos conduzir ao deserto e nos fazer passar fome; foi assim com Moisés, foi assim com Cristo, foi assim com Paulo e tantos outros. É importante que entendamos em nossas aflições que Deus não existe para nos poupar das adversidades. Em muitos momentos, ele no-las imporá. E não fará isto por causa de pecados não confessados, ou mesmo confessados; fará isto, em muitos casos, apenas para provar o nosso coração.
É a compreensão deste Deus soberanos, inquestionável em seus atos, que permite Jó sobreviver ao sofrimento e manter-se fiel: o seu Deus não era um “gênio da lâmpada” à seu serviço, pronto a atender seus pedidos, mas o Senhor que governa todas as coisas e que as conduz para a sua própria glória.
Mas quando Jó diz “bem sei que tudo podes”, outra questão nos é ensinada: se Deus pode nos dar também o mal, é certo que não está preso somente ao mal; então, se soubermos esperar, e nele confiar, o bem também chegará sobre aqueles que nele confiaram e a ele se submeteram na adversidade.
Sim, se Deus tudo pode, há tempo para recebermos o bem e o mal. E se vivemos um tempo em que somos afligidos pelas mais diversas provações, com certeza haverá um tempo em que nossa sorte será mudada, em que o Senhor voltará a sorrir para nós. Se “o choro pode durar a noite inteira”, é certo que chegará a manhã, e com ela a “alegria”. Deus não está sujeito nem condicionado a alguma coisa.
Na visão de um Deus soberano, onipotente, Jó encontra conforto para o seu coração. E enquanto esta percepção de Deus não for restaurada em nossas vidas viveremos em revolta com o mundo, com aqueles que nos amam e com o próprio Deus.
Como pastor tenho encontrado inúmeras pessoas destruídas porque criaram um deus falso para si um deus que lhes daria tudo o que desejassem; um deus que poderia ser manipulado com ofertas e dízimos; um deus elitista, que só atenderia alguns poucos, enquanto outros milhares morreriam às mínguas. Estas pessoas, todavia, descobriram da pior forma possível que Deus não é assim. Descobriram que ele não somente permite o sofrimento, como também envia até sobre os justos, os piedosos. E quando a vida lhes mostrou isto, foram abatidas em sua soberba, e desencantaram com a vida, com a fé.
Sou grato a Deus por poder ajudar muitas pessoas em meus 15 anos de ministério pastoral a reencontrarem a fé, redescobrirem Deus e serem gratos a ele por tudo o que passaram. Quando O conhecemos, podemos cantar a canção que diz:
“Sou grato, Senhor, por todas as provações
Que me fazem crescer em Ti,
Ao deixar-Te agir
Sou grato, Senhor
Pois as provas vem transformar
Minha vida e paciência dá,
Me ensinando amar.

“Bem sei que tudo podes” nos convida a entregarmos tudo ao Senhor, a nos despirmos de direitos pessoais, de justiça pessoais, e confiarmos a condução da história de nossas vidas na mão daquele que é soberano sobre todas as coisas.
Mas há uma segunda expressão de Jó quanto à sua percepção de Deus, quando diz: “nenhum dos teus planos pode ser frustrado”. Esta frase explica a primeira num ponto importante: nada do que Deus faça é arbitrário ou ilógico; nada do que ele faça conduz para um fim sarcástico, como aqueles que têm prazer no sofrimento do outro. Deus é soberano, pode fazer o que quiser, mas sempre o fará a partir de propósitos bem definidos que revelarão sua graça no final da história para aqueles que forem aprovados no teste da fé.
Há muitas coisas acontecendo com nossas vidas que nem fazemos ideia do porquê, apenas sabemos que estão acontecendo. E da mesma forma que sabemos, Deus tambem o sabe e a tudo conduz para Se revelar a nós. Jó passou por tudo o que passou, perdeu os bens, a família, a própria saúde, e com ela a sua dignidade (lembre-se, ele passou a ser uma pessoa repugnante por causa de suas chagas), mas no final encontrou Deus, o conheceu de uma forma profunda, intensa, transformadora.
Sim, quando os justos passam por provações há propósitos do Senhor em jogo; quando o filho pecador se rebela e passa por provações, há propósitos do Senhor em jogo; até mesmo quando os ímpios passam por provações, há propósitos do Senhor sendo executados.
Os propósitos de Deus no sofrimento podem ser os mais diversos. No livro de Jó alguns são apontados. Através dos “amigos” de Jó vislumbramos a verdade de que muitas vezes Deus nos faz sofrer para nos corrigir (ainda que não tenha sido este o caso de Jó). Quando pecamos ou o pecado em si nos traz dores como consequências, ou o próprio Deus impõe a nós dores profundas para nos conduzir de volta a si mesmo. E quando isto acontece devemos agradecer-Lhe, pois só nos mostra que somos filhos amados.
Lembro, com tristeza, de minha própria trajetória de fé em 2007. Aquele ano foi o meu grande deserto. Por causa dos meus pecados inúmeras foram as vezes que chorei, com amargor de alma, pois “a mão do Senhor pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio”. Mas o que me consolava era saber que eu só estava passando por aquilo porque Deus me amava e precisava me curar, me restaurar. Lembrava-me da figura do “bom pastor” que para endireitar o caminho da ovelha muitas vezes precisava quebrar-lhe as pernas.
Outro propósito de Deus no sofrimento vemos no discurso de Eliú, quando acusa Jó da soberba. É verdade que Jó não havia pecado para merecer o sofrimento, mas ao defender sua justiça acabou se excedendo, e sem querer, abriu espaço para a soberba. Não podemos condenar Jó por isso, afinal de contas, se já não bastasse estar sofrendo, ainda teve que aguentar acusações maldosas dos seus três amigos. E no afã de se defender das mentiras que proferiam contra ele acabou se excedendo. A dor faz isto. Mas para que não abra espaço para o orgulho pessoal, o sofrimento nos impõe o abatimento da alma e a dependência do nosso Deus. Sim, no sofrimento Deus nos ensina o caminho e a beleza da humildade; a singeleza do esvaziamento da altivez, e nos faz orar como Davi:
“SENHOR, não é soberbo o meu coração,
nem altivo o meu olhar;
não ando à procura de grandes cousas,
nem de cousas maravilhosas demais para mim.
Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma;
Como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,
Como essa criança é a minha alma para comigo.

Através do sofrimento Deus tem como propósito, também, ensinar-nos a confiar plenamente nele, à despeito do que passemos ou vivamos. Este é o teste da fé. O que queremos do Senhor? Ele ou as bênçãos que dele provém? Quando somos expostos ao sofrimento Deus revela os nossos corações, nos faz ver quem somos e as motivações da nossa piedade. Um dia o promotor da corte celeste disse ao Senhor: “Jó só te é fiel porque tu o tens protegido; tira a proteção, deixa-lhe a mercê da sorte e vê se te é fiel”. A fé precisa ser provada para que se manifeste na história e produza evidências da sua veracidade, da sua autenticidade. A sorte de Jó foi mudada; a cerca de proteção foi retirada, e o seu mundo ruiu. Ele sofreu pressões de sua mulher para apostatar; seus amigos lhe impuseram revolta com injúrias; seu coração até se ensoberbeceu, mas não deixou de amar o seu Deus, não deixou de lhe ser fiel, não deixou a integridade de sua fé.
Os planos de Deus estavam em execução, e todos eles apontavam para o Deus soberano que tudo conduz para a sua própria glória e bem dos que o amam. É por isso que o apóstolo Paulo enfatiza: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8.28). Deus não age arbitrariamente, tresloucadamente. Ainda que não saibamos o por que de certas coisas, de certas situações, com certeza ele está conduzindo esta história para um fim proveitoso se soubermos confiar na sua soberania.
Mas na frase “nenhum dos teus planos pode ser frustrado”, aprendemos que os planos de Deus não podem ser “frustrados”, ou seja, eles cumprirão o seu propósito, não podendo ser interrompidos por ninguém, nem mesmo pelo diabo e seus anjos.
Ora, se os planos de Deus não podem ser frustrados, não adianta nos desesperarmos nas adversidades, pois elas cumprirão o tempo que têm que cumprir. Na condução da história Deus levará à cabo tudo o que começou, e após cncluído contemplará as obras de suas mãos em nós. Assim, no sofrimento, vale à pena esperar o desfecho da história. Como diria um ditado: “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Os que querem antecipar o final acabam se perdendo, e muitos acabam por descobrir a morte.
Se os planos de Deus não podem ser frustrados, é importante saber ler o que está acontecendo, na certeza que muitas coisas Deus tem a nos ensinar, e em todas as coisas nos dirigindo para ele mesmo. É esta a lição final que Jó aprende (v.3,4): o seu Deus é aquele que se preocupa em se revelar a nós no sofrimento para que gozemos de uma experiência mais profunda de comunhão com ele; comunhão que transcende o que temos.
Se não temos aprendido de Deus no sofrimento as ricas lições que ele tem a nos ensinar, então somos convidados, com Jó, a nos arrependermos de nossa soberba, ou quem sabe pecados (se este for o seu caso), e nos humilharmos no pó e na cinza, reconhecendo que nada somos para merecer alguma coisa boa de Deus, e que Ele é justo em todas as suas obras.
Que o Senhor se compadeça de nós e se revele a nós em nossos sofrimentos levando-nos a conhecê-Lo como de fato ele é, a fim de não sermos destruídos em nossa própria confiança e autojustiça. Amém.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO - Parte III - Jó 1.20-22; 2.9,10

Há alguns anos atrás li um folheto que contava a seguinte história:
“Num certo dia, um professor de filosofia começou sua aula com a seguinte indagação: o que esperamos da vida? Ninguém na classe respondeu.
O professor, então, direcionou sua pergunta para um rapaz da classe. Ao ver que o mestre falava com ele, pensou por alguns instantes e respondeu:
- Bom, a vida deve ser considerada em etapas, e a primeira coisa que eu espero é terminar o ensino médio.
Em seguida, o professor indagou novamente:
- E após ter concluído o ensino médio, o que você espera da vida?
- Eu pretendo entrar numa universidade e me formar – respondeu o aluno.
Ao que o professor indagou, novamente:
- E depois?
- Ah, eu pretendo me casar e ter dois filhinhos com minha esposa.
- E depois? – perguntou o professor.
- Aí eu pretendo economizar bastante para ter uma bela aposentadoria. Na realidade, almejo abrir meu próprio negócio.
O professor perguntou:
- E depois?
- Depois de abrir um negócio próprio, e meus filhos haverem crescido, pretendo deixar a empresa nas mãos deles e viver com sombra e água fresca. Viajar bastante, aproveitar ao máximo o que restar da vida.
O professor estava refletindo bastante nas respostas do aluno, e então perguntou novamente:
- E depois disso tudo?
- Ah, eu creio que vem a morte – respondeu o aluno.
Pensava o aluno que o interrogatório havia terminado, quando o professor lhe perguntou:
- E depois?
E o aluno não soube o que responder.”
Dos versículos 13 à 19, do capítulo 1, encontramos quatro acontecimentos trágicos que sobrevieram sobre a vida de Jó. No primeiro, Jó perdeu seus bois e suas jumentas, além de perder os seus servos.
No segundo, ele perdeu suas ovelhas e seus servos.
No terceiro, perdeu os camelos e os seus servos.
No quarto, Jó perdeu seus filhos e filhas.
Diante de tal quadro, o anjo-promotor esperava que Jó começasse a blasfemar contra Deus. O que ele esperava era que Jó dissesse: “Deus, tu não és bom. És injusto, és miserável. Quanto tempo eu te servi, te adorei, e tu fazes isto comigo. O que eu fiz de errado? Nada. No entanto, me tomaste tudo o que eu tinha, deixando-me na miséria, além de tomares meus filhos. Tu não és bom, e eu te rejeito.”
Era, mais ou menos, uma declaração como esta que o anjo aguardava ouvir da boca de Jó. Porém, nos versículos que lemos, encontramos uma atitude e uma declaração contrária a tudo o que o anjo queria ver e ouvir.
Após tomar conhecimento dos fatos trágicos, diz o texto, no versículo 20, que Jó se “levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça, e lançou-se em terra, e adorou”. Há duas atitudes importantes a serem observadas, por nós, neste versículo. A primeira é que Jó não fugiu à realidade da dor que sentia. Na sua época, os homens de posição, como ele, usavam um manto por cima da túnica, e diz o texto que Jó rasgou o seu manto, um gesto que expressava o sofrimento que ele sentia. Sua posição, honra, havia acabado.
Ele também raspou sua cabeça, pois isto fazia parte dos rituais de luto da Mesopotâmia e Canaã. Era costume do povo de sua época cortar o corpo, mas Jó não fez isso. Todavia, assumiu sua dor, seu sofrimento, mas não precisou dilacerar seu corpo, pois a vida, apesar de tudo, ainda fazia sentido.
A segunda atitude é que ele adorou a Deus. Isto parece loucura, à primeira vista, pois ele havia perdido tudo e Deus era “culpado”. O anjo-promotor deve ter ficado perplexo diante de tal atitude. Tanto ficou perplexo que voltou, novamente, à presença de Deus e O desafia, mais uma vez, a tocar na vida de Jó. Deus permitiu. No entanto, quando a mulher de Jó lhe sugere amaldiçoar a Deus, ele responde: “temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?”
Outra vez o anjo-promotor é desafiado pela atitude tomada por Jó. Agora, era o seu corpo que estava doente. Era algo nojento, repugnante, porém, Jó assume a postura de não blasfemar contra Deus, manter-se fiel ao Criador.
Quando analisamos estes fatos à luz de nossas vidas, diríamos que Jó não batia bem da cabeça. Na realidade, ele tinha motivos de sobra para, no mínimo, queixar-se de Deus. Porém, ele não fez isso, assumindo uma atitude bem contrária a tudo que esperássemos.
Mas, por qual razão Jó manteve-se íntegro, a ponto de dizer, no capítulo 13.15: “Eis que me matará (Deus), já não tenho esperança; contudo, defenderei o meu procedimento”? O que permitia a este homem manter-se íntegro no seu relacionamento com Deus, mesmo diante de tal provação?
Creio que a resposta esteja na declaração de adoração feita por Jó. O que percebemos nestas palavras é que ele tinha uma perspectiva correta de vida. Ele, realmente, sabia o que esperar da vida. A visão dele era correta, por isso lhe foi possível suportar a provação.
Nós, porém, vivemos em uma sociedade que possui uma perspectiva de vida errada. O que as pessoas têm esperado do seu viver é ilusório. Isto porque a vida, para tais pessoas, não tem limites. Tudo o que se vê é o aqui e o agora. Esta mentalidade é bem expressa na canção que diz, “deixa a vida me levar”, sem compromisso ou responsabilidade pela jornada.
Certa vez, li em um livro a seguinte declaração: “vive-se o presente, pois o passado gera melancolia, e o futuro ansiedade”. É assim que muitos vivem, enxergando, apenas, o seu presente. Pessoas que desprezam o passado, que foi a base para o presente, e rejeitando o futuro, que prepara os alicerces para o novo presente. É por isso que muita gente tem caminhado sem destino, sem rumo, pois em suas perspectivas de vida não existem limites.
Jó suportou todo o sofrimento, toda a dor, pois tinha uma perspectiva de vida correta. Por isso, creio que vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma perspectiva correta sobre a vida. Esta é a terceira lição que quero compartilhar com os irmãos.
Na declaração de adoração de Jó podemos ver três lições importantes que me fazem crer que Jó tinha uma perspectiva correta sobre a vida. Em primeiro lugar, Jó compreendia que somos passageiros no tempo.
Observemos a expressão inicial de Jó: “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei”. Jó utiliza dois verbos para expressar uma só realidade, no entanto, o faz com tempos de ação diferentes: “saí” (passado) e “voltarei” (futuro). O que ele estava dizendo é que sua vida era passageira. Jó tinha essa consciência em seu presente. Em outras palavras, Jó sabia que um dia morreria. Da mesma forma como ele nasceu, era natural que ele também morresse. Ele tinha consciência de que estava no tempo e que o tempo passa. E com ele, a nossa vida também.
Agora, muitas pessoas têm dificuldade de aceitar esta realidade, e vivem como se suas vidas fossem eternas. Vivem seu presente sem se importar com a realidade do tempo. É por isso que vivem de forma tão vazia, pois falta-lhes a percepção da transitoriedade da vida.
Vejo esta luta contra a verdade da morte e da transição do tempo nas interpretações erradas que alguns tentam dar a esta passagem. Uma destas interpretações é o ensino espírita de que este texto estaria falando de reencarnação. Primeiro, é interessante observar como a doutrina da reencarnação expressa bem esta mentalidade de eternidade. São pessoas que não querem aventar a possibilidade de um dia deixarem de existir nesta terra.
Em segundo lugar, é lamentável que se force um texto tão profundo como este para se coadunar com nosso medo da morte. Jó 1.20 não fala de reencarnação. Quando o texto diz “nu saí do ventre de minha mãe”, a frase refere-se à barriga materna; mas quando diz “nu voltarei”, refere-se à mãe-terra. Lembre-se, Jó é um livro da cultura judaica, e por isso, este é o seu ambiente de interpretação, e não o nosso, ocidentalizado ou orientalizado. Assim, quando procuramos entender o que a cultura semita, judaica, entendia sobre “voltar ao ventre da mãe”, só existe uma resposta: este ventre é o da terra, pois segundo Gênesis 2.7, o homem é filho da terra, sendo esta a sua mãe primitiva. Eva seria a mãe dos descendentes do homem, mas este teve sua origem na terra.
Tendo explicado isto, voltemos ao foco do nosso assunto. Na expressão de Jó fica claro que não é somente a vida que é transitória, mas tudo que está limitado ao tempo é passageiro. Muitos têm sofrido por ignorarem esta perspectiva fundamental sobre a vida. Somos passageiros no tempo. O apóstolo Tiago diz, em sua carta, o seguinte: “Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tiago 4.14).
Por outro lado, há aqueles que possuem a consciência desta transitoriedade e, em função disso, acabam sofrendo, quando deveriam tirar proveito disto para amadurecer e transcender às circunstâncias. Por isso, gostaria de mostrar, aos irmãos, a perspectiva bíblica sobre a vida, mesmo que seja de uma forma rápida.
Quando Deus criou o ser humano, Ele tinha o propósito de manter uma relação perfeita de amor e comunhão com seus filhos. Nos planos de Deus não havia morte para o ser humano, e sim, vida.
É importante observarmos, ainda, que o homem adquiriu a vida como uma dádiva graciosa do Criador. O que estou querendo frisar com isto é que a vida faz parte da natureza de Deus, e assim, somente Ele, e mais ninguém, pode concedê-la.
Porém, o ser humano, filho amado da criação, rejeitou ao seu Criador, e ao fazer isto, se afastou da essência da vida. Assim, descobriu a morte e passou a estar limitado pelo tempo e suscetível às vicissitudes da história. Com isto, estabeleceu-se a rotina do horror: nascer, crescer e morrer. A vida se tornou transitória, e sem a percepção disso, nos lançamos num abismo de desilusões.
Agora, mais importante do que entender a transitoriedade da vida é entender o que dá sustentação ao vazio da existência que a acompanha. Neste sentido, a Bíblia descreve o pecado como a grande causa da transitoriedade e do vazio existencial. Porque o pecado é real na vida dos seres humanos, ela é passageira, e por causa disso, as pessoas buscam desesperadamente algo que as preencha e amenize a dor do vazio. E, normalmente, buscam como analgésico o pecado.
Jó tinha consciência de que não viveria eternamente nesta terra, pois sabia que esta era limitada ao tempo. É bem mais fácil enfrentar o sofrimento quando entendemos que tudo é passageiro, inclusive a dor. Enquanto acharmos que somos eternos neste plano de existência, e vivermos sem avaliar as consequências deste viver; enquanto deixarmos a “vida nos levar”; estaremos nos alicerçando sobre a “areia”.
Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma perspectiva correta sobre a vida; perspectiva que nos faça ver que somos passageiros no tempo, que não somos eternos; perspectiva que nos faça ver a rotina da existência: nascer, crescer e morrer.
Vendo a partir desta perspectiva a vida parece não fazer sentido. Mas quero lembrar que a Bíblia nos ensina que esta morte física, também é transitória, pois existe uma eternidade para se viver. Todavia, esta eternidade não é uma realidade física, mas espiritual.
Por causa do pecado, o homem morreu tanto fisicamente quanto espiritualmente. Assim, o homem está morto no tempo e também eternamente. Esta verdade é algo horrível, mas é verdade. Porém, Deus nos concedeu a graça, em Cristo Jesus, de vivermos, novamente. Disse Jesus: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10.10).
É necessário morrer no tempo, como consequência do pecado, mas se vamos viver ou continuarmos mortos na eternidade depende da resposta que damos ao convite de Cristo, quando diz: “vinde a mim”. Precisamos estar cientes que estamos passando pelo tempo, caminhando para a eternidade. Que futuro teremos lá?
Uma segunda lição importante que aprendemos com Jó sobre a perspectiva correta de vida é que nada trouxemos para esta vida e nada levaremos dela.
É interessante observar que Jó tinha consciência de que ele, de si mesmo, nada possuía. Por isso ele diz: “nu saí...nu voltarei...”. Quando do seu nascimento ele nada trouxe. Nasceu sem nenhum bem material, sem roupa, sem nada. Ele também entendia que nada levaria. Porém, nós encontramos muitos que tem levado uma vida como se fossem donos de alguma coisa, como se fossem “donos do mundo”. Pessoas que pensam assim são mais vulneráveis ao sofrimento, pois diante das perdas surge um espírito de revolta, pois lhes escapa às mãos aquilo que consideravam seu.
Considerando a perspectiva bíblica, o homem não foi criado para ser dono nem de sua própria vida (por isso prestará contas diante de Deus), quanto mais daquilo que fora criado para glorificar a Deus. O ser humano foi criado para exercer vice-regência sobre a criação a fim de apresentá-la ao seu Criador.
Jesus advertiu seriamente contra o perigo de pensarmos que somos donos dos nossos bens, e depositarmos neles a nossa confiança (Lc 12.15-21). Por isso, muito me entristeço quando vejo pessoas fazendo da fé uma ponte para riqueza, prosperidade e tantas outras tolices que de nada nos valerão no dia da nossa morte. Riquezas, prosperidade e sucesso não passam de “muletas” para corações vazios de sentido existencial eterno.
A terceira e última lição que Jó nos ensina é que uma perspectiva correta sobre a vida abarca a compreensão de que Deus é o Senhor de tudo e de todos. Ele exclamou: “O Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor”.
Esta declaração não simplesmente diz que Deus é o dono de tudo, mas expressa a soberania de Deus em proceder como Ele achar melhor. Por mais difícil que nos seja esta verdade, Deus não existe para satisfazer as nossas vontades, desejos e fantasias. O Criador não está preso a nós. Ele não precisa nem depende de nós. Assim, Ele tanto pode dar o bem como o mal.
A declaração de Jó também expressa que ele não esperava de Deus somente as coisas boas, sabendo que a provação era algo normal da caminhada existencial. Observe o v.10, do capítulo 2: “...temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?” Esta frase deixa claro que Jó não fazia jogo de interesse com Deus, pois sabia que a soberania do seu Criador estava acima das benesses auferidas.
Mas qual a dificuldade que temos para compreender este ponto? O grande problema está em nossa percepção de Deus. Criamos um Deus segundo à nossa imagem e semelhança, então, quando falamos do direito de Deus fazer o que decide fazer, julgamos isto como injusto. Bem, é sobre este ponto que quero tratar no próximo sermão.
Neste momento, gostaria de concluir esta mensagem pedindo-lhe para trazer à memória as suas perspectivas sobre a vida. O que o tem motivado a viver? Se entre tais motivações não estiver a percepção de que somos passageiros no tempo, desta vida nada levaremos e que Deus é soberano para agir como bem entender, então, sua vida se mostrará frágil demais para suportar os tempos de aflição, de dor. Você lutará contra estas coisas proferindo palavras de ordens, do tipo “eu determino”, “eu repreendo”, etc., e nada disso aliviará sua dor. Somente percepções maduras sobre a vida nos fortalecem para suportarmos as incertezas da vida. Que o Senhor Deus, em Cristo Jesus, te abençoe e te faça enxergar as percepções corretas que conduzem à decisões eternas. Amém.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO - Parte II - Jó 1.6-12; 2.1-10

Conheci uma mulher admirável, por diversas razões. Mas a sua história de vida, pra mim, sempre foi um exemplo. Ela nasceu numa família rica, bem-sucedida, em Icoaraci-PA. Seu pai era um rico comerciante, nas décadas de 60 e 70. Além disso, formavam uma família muito religiosa. Mas um dia, seu pai deixou a família, pois havia se envolvido com outra mulher.
Na relação extraconjugal, gastou o dinheiro da família, e aquela mulher admirável teve seu primeiro embate com a vida desumana. Foi dormir como uma princesa, e acordou como uma plebeia. Seu pai, depois de um tempo, voltou para casa, foi perdoado por sua mulher (outra mulher admirável), mas voltava com as mãos vazias. Perdera tudo.
Sua filha saiu para a vida, foi batalhar por sua formação, seu ganha pão. Um dia, decidiu partir para Macapá-AP, e ali foi trabalhar, longe de sua família. Algum tempo depois, conheceu um homem cristão, e casou com ele. Pouco tempo depois de casada, conheceu o amor de Cristo e se converteu.
Juntamente com seu marido, começaram a construir uma família maravilhosa, e prosperaram juntos. Chegaram a ter tudo que queriam. Viviam uma vida abastada. Parecia que sua história estava sendo recontada. E realmente estava. Depois de quase 15 anos de casada, com a família estabilizada, as finanças prosperando, seu marido a deixou e juntou-se a outra mulher, deixando-a sem nada (a não ser dívidas), e quatro filhos para criar.
Vi de perto o sofrimento desta mulher; quantas vezes chorei com ela; quantas vezes a vi chegar em casa com o pagamento e separá-lo para entregar ao agiota. Vi esta mulher trabalhar manhã, tarde e noite para que seus filhos tivessem o que comer, vestir e brincar (pois seu marido havia levado tudo e nunca se preocupou em ajudar-lhe, financeiramente, na educação dos filhos). Vi pessoas que a julgaram, a condenaram e tentaram lhe humilhar (apenas tentaram, pois aquela mulher era uma guerreira, e não deixava que à pisassem).
Em meio a tudo isto, vi uma mulher que com toda a dor soube perdoar seu agressor, soube sacrificar de si mesma por amor aos filhos, e, acima de tudo, soube conduzi-los no caminho de Deus, sem que estes guardassem revolta contra o seu Criador, e nem mesmo contra seu pai.
Esta mulher era minha mãe, Leonor Vasconcelos Barboza, mulher de quem muito me orgulho de ser filho. Mulher que marcou profundamente a minha vida e que me ensinou a sobreviver em meio às dores, às perdas e fracassos.
Conto esta história porque ela se confunde com a experiência de Jó naquilo que quero destacar nesta mensagem. No sermão anterior começamos a estudar a vida deste homem a fim de aprendermos lições, a partir do que ele sofreu, que nos ajudem a permanecer firmes, mesmo quando o sofrimento é grande, a dor é intensa e a vida perde a sua beleza de ser. Aprendemos, em primeiro lugar, que a vida que é capaz de permanecer em tempos de sofrimento é marcada pela integridade sincera, autêntica (1.1).
Hoje, tomando o texto base, aprenderemos outra lição importante. No texto citado (Jó 1.6-12; 2.1-10), encontramos o diálogo de Deus com o anjo “promotor” da corte celeste (1.6). O assunto é apresentado por Deus. Depois de uma pequena introdução na conversa (v.9), Deus faz uma pergunta que expressa uma alegria profunda do seu coração. O Soberano Senhor pergunta ao anjo: “Observaste a meu servo Jó? E em seguida, Ele faz um elogio à conduta de Jó, dizendo: “porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal”.
Ao ouvir tais palavras, o anjo da corte contra-ataca, afirmando que Jó não temia a Deus em vão, uma vez que o Senhor o havia protegido e abençoado. Havia lha dado segurança. Esta afirmação fica clara no versículo 10, quando o anjo diz: “Acaso não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra”.
A palavra que o anjo usa para expressar a segurança que Deus havia dado a Jó é “sebe”. Sebe é uma vedação feita de ramos ou varas entrelaçadas que, no mundo antigo, servia de proteção de propriedades. O que o anjo procurava mostrar a Deus era que a religiosidade de Jó era falsa, que ele só queria tirar proveito daquilo, uma vez que ele sabia que enquanto permanecesse íntegro, o Senhor continuaria protegendo-o e abençoando-o.
Bem, esta é uma questão muito séria que precisamos refletir: o que motiva nossa religiosidade? Por qual motivo frequento minha igreja? Sou motivado pelo desejo sincero de adorar a Deus ou busco somente cumprir meus deveres cristãos a fim de que Deus me abençoe?
Muitos têm vivido uma religiosidade vã, falsa, hipócrita, pois vivem em função de seus próprios interesses. Enquanto Deus me abençoar, mantenho-me fiel a Ele; no entanto, se eu não for abençoado, viro-Lhe as costas. É assim que muitos vivem a sua relação de fé com Deus. E era isto que o anjo acusava Jó. Certo disso, ele desafia ao Senhor a tocar em tudo o que Jó tinha, objetivando prová-lo (v.11). Deus, então, permite a prova. A proteção foi tirada, não havia mais segurança para o sustento da fé. Os bens e a família foram tocados; posteriormente, cap. 2.6, Deus retira, parcialmente, sua proteção sobre a vida de Jó, sem permitir que esta lhe seja tirada.
De repente, aquele homem perdeu todos os seus bens, todos os seus filhos e vê sua saúde ser agravada por uma horrível enfermidade. Diante de tanto sofrimento, aquele homem permanece firme, sofrendo, sim, mas sem perder sua integridade.
Neste cenário aprendemos uma segunda lição. Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança de vida que transcende as circunstâncias.
Jó viu tudo desabar, de uma hora para outra, em sua vida. A impressão que ficava, diante desta reviravolta de vida, era a de que Deus o havia abandonado e removido a sebe de sua vida; parecia que Deus havia removido a segurança, a proteção, daquele homem. Mas em que consistia a segurança de Jó?
No diálogo entre o anjo e Deus, o ataque se foca em três áreas específicas da vida de Jó, nas quais o anjo apostava suas fichas como sendo as que mantinham Jó fiel ao seu Deus. E de certa forma, estas áreas são a razão de ser e de viver das pessoas. Assim, se a segurança de Jó estivesse em uma delas, toda a sua piedade, desprovida de interesse, seria desmascarada. Todavia, isto não aconteceu.
Acontece que estas áreas, às vezes, são altares de idolatria que erguemos em nossos corações, e por isso, quando o altar é derrubado, os que sustentam o altar caem junto com ele. Assim, convém examinar aquilo que para muitas pessoas é a razão de ser e viver dos seus corações, e que lhes fazem pisar em terreno insólito.
A primeira área atacada pelo anjo “promotor” foi a dos bens de Jó (1.13-17).
Como vimos anteriormente, Jó era um homem muito rico. Tal era a sua riqueza que em 1.3 se diz que ele “era o maior de todos os do oriente”. De onde procede esta declaração? Da descrição feita de que ele possuía 7 mil ovelhas, 3 mil camelos, 500 juntas de bois e 500 jumentas, além de empregados. Em nossa sociedade, este capital pode parecer pequeno, mas lembre-se que a história de Jó aconteceu por volta da época dos patriarcas do Antigo Testamento (2000-1800 a.C.). Nesta época, este patrimônio era uma fortuna. Para que você entenda: até alguns anos atrás, os filmes americanos falavam de assaltos a bancos ou trens pagadores que carregavam a fortuna de meio milhão de dólares, ou hum milhão dólares. Naquela época, isto era uma fortuna para os padrões americanos. Hoje, estas quantias são irrisórias para os milionários. Assim era a fortuna de Jó, algo grandioso para sua geração.
Diante da constatação da riqueza de Jó, o anjo da corte celeste começa a execução da prova, atacando, primeiramente, todos os seus bens. A prova se caracteriza pela sequência sucessiva de ataque. Primeiro, ele acabou com os bois e as jumentas (1.14); depois, eliminou as ovelhas e os servos (v.16); e, por último, matou os camelos, juntamente com os servos que cuidavam dos animais (v.17).
Os bens foram dizimados paulatinamente e sequencialmente, não dando tempo para Jó se recompor. A ideia era de infringir uma dor crescente, até o ponto daquele homem não suportar mais e blasfemar contra Deus. Observe que em cada notícia se diz: “falava este ainda quando”.
Mas o que é surpreendente é que, apesar das desgraças caírem uma após a outra sobre ele, não o encontramos, em lugar nenhum, se queixando ou lamuriando por haver perdido seus bens. Jó suportou todos aqueles baques, mantendo a fé em Deus. Qual a razão? Simples, sua segurança não estava baseada em seus bens, em sua riqueza.
Infelizmente, vivemos numa sociedade capitalista onde o bem-estar e o sucesso são medidos pelo que as pessoas têm. Assim, criamos uma falsa segurança de valor, depositando nossa esperança e felicidade naquilo que possuímos.
Se não bastasse isto, as igrejas evangélicas aderiram, na sua maioria, o discurso materialista de que as pessoas só podem ser felizes se tiverem uma bela casa para morar, o carro do ano, uma poupança recheada, um emprego importante, etc. Esta mensagem diabólica adentrou a igreja por meio da tão diabólica mensagem da teologia da prosperidade.
Uma sociedade capitalista e uma igreja mesquinha, soberba quanto ao ter, levaram as pessoas a depositarem sua confiança de vida no que possuem. E assim, se tornam presas fáceis das tempestades da vida. Ao colocarem sua confiança na riqueza, perderam o coração, e conquentemente, a razão de viver, pois a razão de ser e viver não se pauta no ter.
Precisamos deixar claro que a vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança que transcende as circunstâncias. Bens materiais não dão segurança a ninguém, a não ser de forma ilusória, pois estão presos ao tempo e suas variações.
Tudo o que possuímos é passageiro, assim como nossa vida; por isso, a razão do nosso viver não pode estar apegada ao que temos ou deixamos de ter. De repente, podemos perder tudo o que temos, e se as nossas vidas estiverem fundamentadas no que possuímos, nos bens que adquirimos, não nos resultará outra coisa a não ser a desesperança.
Quero, então, chamar a sua atenção para a seguinte pergunta: não vale a sua vida muito mais do que os bens que você possui? É claro que sim. Por isso, não podemos, nem devemos, criar uma segurança alicerçada em nossos bens. Valemos muito mais do que temos ou deixamos de ter. O que possuímos é passageiro, nós somos imortais. Riquezas e bens não transcendem as circunstâncias da vida, antes, lhes são sujeitas de formas diversas.
Jó pôde permanecer firme diante do sofrimento porque a segurança de sua vida não estava alicerçada nos bens que possuía; sua segurança transcendia qualquer situação.
Qual a segurança de sua vida? Os fundamentos da sua vida transcendem as circunstâncias, ou são limitados, passageiros? Saiba que isto determina o tipo de vida que você leva, e, talvez, aí esteja um sério problema que o impede de viver saudavelmente, mesmo quando viver parece ser fácil.
Voltando à narrativa, vemos que o “anjo promotor” não se conteve no ataque. Para que o pobre Jó não tivesse chance de sobreviver ao sofrimento, de imediato lança-se uma nova desgraça (na sequência seria a quarta, sendo 3 sobre os bens), a morte dos seus filhos. Com isto, a segunda área focada foi a família (1.18,19).
Jó era um homem que tinha uma família que era considerada “ideal” para a sua época. Diz o versículo 2, do capítulo 1, que ele tinha sete filhos e três filhas. Como já consideramos, anteriormente, estes números expressavam a ideia de perfeição na mentalidade oriental. Isto porque, estes números, 7 e 3, eram tidos como perfeitos, símbolos de plenitude. Se não bastasse, a soma deles, 10, também era considerado pleno no mundo antigo. Ou seja, sob todos os prismas, até mesmo os esotéricos, isto era algo invejável.
Além disso, o v.4, do mesmo capítulo, mostra que havia união e amor naquela família. Tudo indica que era costume, entre os irmãos e irmãs, se reunirem para festejar a vida. Não havia problemas interpessoais naquele lar.
Por fim, vemos, no v.5, Jó como um pai exemplar. Diz o texto que, após os dias de festas, Jó reunia seus filhos para os santificar, tal era a sua preocupação com seus filhos, tal era o seu amor para com eles. E Jó levantava-se de madrugada para oferecer estes sacrifícios, pois temia que seus filhos pecassem contra o Senhor, e se isso ocorresse sobreviria sobre seus filhos a ira de Deus.
Como se vê, este homem tinha uma família e tanto. Porém, o anjo atacou duramente a Jó, matando a todos os seus filhos. E é interessante observar que isto ocorreu de repente, e todos morreram de uma só vez.
Agora, tente imaginar o sofrimento que se alojou no coração deste pai ao receber a notícia da morte dos seus filhos. Lembre-se que Jó era um pai que não media esforços por seus filhos, pois os amava demais.
Eu levei muito tempo para conhecer a bênção de ser pai. Por motivos egoístas do meu coração, adiei esta experiência maravilhosa. Meu mundo teve que ruir, meu coração se perder, para se reencontrar, a fim de descobrir a bênção da paternidade. Hoje, tenho um filho lindo, maravilhoso. E quando leio a história de Jó fico imaginando a intensidade da dor se eu tivesse de perder meu filho. Agora, Jó tinha 10 filhos maravilhosos a quem ela amava demais, e de repente, todos morreram. Então, não consigo imaginar plenamente a dor, pois se a perda de um único filho já seria insuportável, imagino a perda de todos.
Pois bem, apesar de toda esta dor insuportável, todo este sofrimento dantesco, em momento algum Jó pecou. Em momento algum perdeu a sua fé. Em momento algum se voltou contra Deus. Estava sofrendo? Sim, estava. Mas não blasfemou contra Deus.
O que fazia que aquele homem permanecesse íntegro? A questão é que a família de Jó não era o alicerce de sua vida. A sua vida não estava fundamentada em sua família. Esta não representava a segurança do seu viver.
Este, com certeza, é um ponto muito difícil para nós, pois somos criados para depositar em nossas famílias o alicerce da nossa existência. E quando esta nos falta, temos a tendência nos rendermos às dificuldades da vida, tomando caminhos de ruína e destruição. Não são poucos os casos de pessoas que ao perderem um ente querido, perderam também os sonhos, as motivações e esperanças de vida. E o que é pior, muitos perderam a própria integridade.
Por isso, tendo por certos que o sofrimento é inevitável, precisamos reaprender que a família não é a base de segurança do nosso viver; que a nossa família não é, nem pode ser tudo para nós. A família pode e deve ser um porto seguro para muitos momentos difíceis da nossa jornada. Mas os portos também estão sujeitos à tempestades, e por causa destas, também são destruídos. Assim, não podemos focar a travessia a partir do porto, mas a partir do destino que queremos alcançar.
Por favor, entenda, não estou dizendo que devemos rejeitar ou desprezar o nosso lar, não. O que estou tentando dizer é que nossos familiares não podem ser a motivação do nosso viver. Lembre-se, Jó amava demais a seus filhos, a ponto de levantar de madrugada (friso isso porque sei o que é levantar de madrugada e quanto isto é difícil), para os santificar. No entanto, eles não eram a motivação e a razão de ser de sua vida.
Quando vejo o exemplo amoroso de Jó, me pergunto o quanto amo ao meu filho, pois quais os sacrifícios espirituais que tenho feito por ele? Sinceramente, conheço pouquíssimos pais que se importam, verdadeiramente, com o bem espiritual de sua descendência, sacrificando de si mesmo por ela. Quantos pais costumam santificar aos seus filhos lendo a Bíblia com eles, orando ou, até mesmo, conversando? Todavia, colocamos nossos filhos como ídolos de nós mesmos, nos projetando neles.
Diante da dor de Jó descobrimos uma razão muito forte pela qual não podemos fazer do nosso lar a base de nossa existência: não somos donos, nem senhores do nosso lar. Se temos, hoje, uma família é porque Deus nos concedeu, mas não somos donos dela, somos mordomos do Criador em nosso lar.
O salmo 127.3 descortina isto diante de nós quando diz: “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão”. Segundo este salmo, os filhos são herança, mas não são nossos. O Senhor os dá para que os pais cuidem deles para o próprio Deus. No entanto, os filhos têm sido, muitas vezes, a razão de existência para muitos, contrariando o ensino das Escrituras Sagradas, que os coloca como herança do Senhor.
Outra razão para que não façamos de nossa família a razão de ser da nossa existência é que, assim como nós, nossos familiares estão sujeitos às circunstâncias da vida, não transcendendo as dificuldades nem o tempo. Por isso, nós não podemos colocar a segurança de nossas vidas, a razão de nossa existência em nossos familiares, pois eles também são suscetíveis às agruras da vida. Eles passam, assim como nós passamos. Eles são mortais, assim como nós também o somos.
Por fim, não podemos construir o fundamento de nossa existência por uma razão escatológica importante: nossos laços familiares são restritos a esta vida. Na eternidade não existirá relações de parentesco. Assim, quando sofremos pela perda de uma familiar, devemos agradecer a Deus pela oportunidade de servir a Deus através daquela vida, e também pela alegria do vínculo de parentesco. Porém, precisamos ter a consciência de que tal vínculo se finda ali, na morte.
Sei que este ponto é muito delicado, posso parecer insensível, mas sei quanto me custaria a perda do meu filho ou da minha amada esposa. Porém, sabendo que as circunstâncias na vida são instáveis e passageiras, preciso ensinar ao meu coração as perspectivas corretas sobre minha relação familiar, a fim de sobreviver aos tempos de sofrimento.
Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada pela segurança que transcende as circunstâncias, e a família não transcende as circunstâncias, estando sujeita à elas.
Por fim, vendo que a perda dos bens e da família não abalaram a fé e a integridade de Jó, ainda que tivessem abalado suas emoções, o anjo promotor parte para o ataque pessoal, e a saúde de Jó é tocada de forma dura.
Percebe-se, claramente, em 2.4 que o anjo aposta tudo, agora, na vida de Jó, no sentido de roubar-lhe a saúde e, assim, fazê-lo fracassar em sua integridade. Observem o que é dito neste versículo: “Então, o anjo-promotor respondeu ao Senhor: pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida”.
Estas palavras revelam que, para o anjo, a razão da vida estava no próprio ato de viver, e se isso fosse ameaçado, o homem apostaria em tudo que lhe pudesse restaurar a saúde. Como se vê em nossos dias, esta verdade apontada no versículo continua presente. E em nome da saúde milhares de pessoas tem vendido a sua alma por um tempo tão passageiro, diante da eternidade.
Mas a armadilha não deu certo, pois Jó não blasfemou contra Deus. Manteve-se íntegro, manteve-se firma, mesmo sofrendo, porque sua vida não era tudo, viver não era o mais importante, sua segurança não estava depositada na transitoriedade da vida.
Agora, pense um pouco sobre a razão de vida de muitos. É impressionante o número de pessoas que vivem em função de sua própria existência. São pessoas que não admitem a possibilidade da morte, ou se fazem de desentendidas quanto ao assunto, porque para elas o viver é tudo, é o mais importante. Essas pessoas valorizam a tal ponto suas próprias vidas, seus prazeres, fazendo-as a razão plena da existência, que não admitem qualquer possibilidade de enfermidade; e se isto acontece, “Deus não é justo”, segundo a cosmovisão que adotaram.
É preciso que voltemos à ideia de que a vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança que transcende as circunstâncias, e nós não transcendemos as circunstâncias. Assim como tudo passa, também passaremos. Podemos até ser curados de alguma enfermidade, mas isto não evitará que, mais cedo ou mais tarde, morramos.
Se nossas vidas estivessem acima das circunstâncias, então, sofreríamos com sobriedade, sabendo suportar os reveses do tempo. Estamos sujeitos a todas as variações do cotidiano, e quando nossa vida é atingida por tais variações nós sofremos, e a vida só continua a fazer sentido quando não calcamos nossa segurança em nós mesmos, em nossas próprias forças.
Você, a esta altura, deve estar se perguntando: já que meus bens, minha família e minha própria vida não me proporcionam segurança para viver, o que, então, pode me dar segurança?
Só uma pessoa transcende as circunstâncias da vida, as vicissitudes do dia-a-dia: Deus, em Cristo Jesus, seu Filho amado. Por isso, é importante que Deus seja nossa razão de vida. Deus tem que estar acima de tudo e de todos. Se isso não ocorre em nossas vidas nos tornamos sujeitos a perda do sentido de viver, pois seja qual for a nossa motivação, ela estará sujeita às circunstâncias instáveis da jornada.
Somente Deus transcende o tempo, o espaço, as circunstâncias e suas variações. Assim, Ele se fez homem, transcendo todas as dimensões possíveis, a fim de que olhássemos para Ele, através de Jesus, e fôssemos curados. Por isso, Ele precisa ser a razão de nossas vidas, o primeiro e o último; o bem mais precioso que possuímos; o relacionamento familiar (por isso o chamamos de Pai e a Cristo de nosso irmão), mais doce e singelo no qual nos envolvemos e entregamos o coração; a razão de viver essencial.
Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança que transcende as circunstâncias, e somente Deus, em Cristo, é capaz de transcender o tempo, o espaço e as variações da vida. Aleluia! Amém.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO

Amados irmãos(ãs) e amigos(as), no dia 08 de Agosto de 2009 comecei a pregar uma série de sermões sobre o sofrimento, a partir do livro de Jó, tendo em mente compreender como aquele homem sobreviveu a tantas perdas e dores. Estas mensagens, a partir de hoje, estão sendo disponibilizadas neste blog, de forma escrita. No blog de nossa igreja, www.episcopaldf.blogspot.com, você terá acesso ao áudio e vídeo destas mensagens. Que o Senhor te conceda graça ao meditar nestas mensagens. Abaixo você terá o primeiro sermão desta série. A paz de Cristo a todos, na alegria de poder servir ao Reino de Deus,
Pr. Airton Williams
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Deus! Oh, Deus! Onde estás que não respondes!
Em que mundo, em que estrelas tu te escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde, desde então, corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

Este era o grito do continente africano, nas palavras do nosso poeta, Castro Alves. Neste poema, intitulado “Vozes d´Africa”, um continente brada por Deus, pois já estava cansado de ver seus filhos serem aprisionados e serem vendidos como escravos, padecendo as piores humilhações e torturas.
Este grito sai porque parecia que Deus estava escondido, em algum lugar, sem tomar conhecimento dos sofrimentos e aflições vividas pelo povo que lá habitava. Além de tudo, parecia que Deus também era surdo, ou então, se omitia diante de tanto sofrimento, pois outros gritos já haviam sido dados, sem, contudo, haver uma resposta.
Onde estaria Deus? Por que não fez Ele alguma coisa? Não via que o povo sofria? “Onde estás, Senhor Deus?”
O livro de Jó fala de um homem de quem se diz ser muito religioso, rico e pai de uma família abençoada. Neste sentido, é interessante observar que ele tinha sete filhos e três filhas, o que era considerado no mundo antigo como uma família ideal, uma vez que estes números, e a soma deles, simbolizavam a perfeição, claro favor divino.
Pelo que fica claro, ainda, ele era alguém que galgava de uma posição invejável, visto que ele é tido como “o maior de todos os do Oriente” (1.3).
Do ponto de vista religioso, Jó não era alguém hipócrita, pois vivia a sua fé de forma intensa. Diz-nos o versículo 5 que em certo período, o qual não sabemos exatamente a que correspondia, ele chamava seus filhos e os santificava, além de que sacrificava pelos seus filhos, fazendo holocaustos, com medo que estes tivessem pecado contra Deus. E isto era feito regularmente.
Como podemos ver, ali estava um homem feliz, em paz com tudo e com todos, inclusive com Deus. Mas aquele homem nem imaginava que algo estava para acontecer, e que mudaria sua vida profundamente.
Nas regiões celestes houve um diálogo entre Deus e um anjo da corte celeste, cuja missão é executar a vontade punitiva de Deus e por à prova os homens para testar-lhes a fé e a sinceridade do coração (para um entendimento melhor deste ponto, sugiro que você leia o post anterior). Neste diálogo, o Criador mostrou, com muita alegria, a vida exemplar do seu servo Jó (v.8).
É, então, que o anjo aproveita para lançar uma tese: afirmava ele que Jó só era exemplar porque Deus o cobria de proteção, pois se ele a retirasse aquele homem o desprezaria. Por isso, o Senhor concede ao anjo a permissão para tocar em tudo o que Jó tinha, até mesmo sua vida, posteriormente, a fim de prová-lo, fazendo transparecer a verdade sobre a vida daquele homem.
A partir daquele momento a vida de Jó é colocada de cabeça para baixo. Ele perdeu toda a sua riqueza, além de ter sido acusado por seus amigos de haver pecado. E tudo isto ocorreu de uma hora para outra, sem que ele esperasse.
Esta história se assemelha a muitas que conhecemos, às vezes à nossa própria história. Isto porque, o sofrimento é algo que cada um de nós já sentiu, já experimentou no dia-a-dia. Ninguém está isento dele. É bem verdade que ele ocorre de diferentes formas e intensidade. Como já dissemos em post anterior (“Não andeis ansiosos de coisa alguma”), muitos experimentaram a dor do sofrimento por causa dos seus próprios pecados (conheço bem esta experiência); outros por causa da irresponsabilidade e desumanidade de outros (também conheço esta dor); outros por causa do azar que deram em alguma situação; e outros, por causa de decisões erradas que tomaram na vida, sem que isto tivesse ligação direta com o pecado, Deus, os outros ou o azar.
No caso de Jó, seu sofrimento nos leva a ponderar uma quinta razão para o sofrimento, o teste da fé e do caráter. Sim, Jó sofreu porque era íntegro, e somente o sofrimento poderia dar provas suficientes da veracidade de sua virtude.
Destas situações aprendemos algumas atitudes importantes. Se o nosso sofrimento resulta dos nossos pecados, a única coisa a fazer é se arrepender, arcar com as consequências e agarrar-se à misericórdia de Deus, pois se a sua ira nos faz chorar a noite toda, é certo que a alegria vem pela manhã (Salmo 30.5), pois o Senhor não despreza um coração, verdadeiramente, quebrantado (Salmo 51.17). O caminho não é viver em torno da culpa, pois toda culpa é prejudicial ao nosso crescimento; Deus não quer que nos sintamos culpados, mas que nos arrependamos.
Agora, se o nosso sofrimento não resulta de pecado, precisamos aprender a lidar com este momento de dor, a fim de não naufragarmos. E esta é a razão destas mensagens que tenho pregado. Em 2007 vivi o meu deserto espiritual, e o que compartilho com você neste post são verdades que alimentaram o meu coração durante a travessia e que me ajudaram a me reencontrar com a vontade do meu Senhor, com a graça que Ele me ofertou na cruz. Por isso, tenho pregado nestes dias sobre a vida de Jó, pois percebemos nele algo muito raro na vida daqueles que sofrem. O que se destaca em sua história é a forma como ele permaneceu firme diante de tanto sofrimento. Teve seus momentos de crise, sim, mas a vida continuava, e ele permaneceu firme, sendo testado em sua fé.
Mas qual o segredo de Jó? O que o mantinha firme, diante de tal situação?Estas são questões nos levam a estudar a vida deste homem e aprender com ele alguns princípios, que nos ajudarão a caminhar, mesmo quando provados por tanto sofrimento. Assim, quero meditar sobre: “Vidas que permanecem em tempos de sofrimento”: quais as lições que podemos aprender a partir de Jó?
A primeira lição que extraímos de Jó, sobre o tema proposto, é que vidas que permanecem em tempos de sofrimento são marcadas por uma integridade sincera (v.1). Observemos que a causa do sofrimento de Jó era a prova pela qual passava sua integridade. O anjo da corte celeste havia dito a Deus que Jó era só uma casca, uma espécie de “santo do pau oco”; que aquela integridade, da qual Deus se agradara, era só uma farsa. Afirmava ele que se Deus tocasse nos bens de Jó, este revelaria sua verdadeira face.
Deus, então, permitiu ao anjo que tocasse nos bens de Jó, dando-lhe autoridade divina para isto, a fim de provar que a integridade daquele homem era sincera. Assim, o anjo tocou nos bens e na família de Jó. Mas para sua surpresa, Jó manteve-se firme em seu procedimento. O sofrimento era real, a dor era profunda, mas aquele homem não perdeu a sua dignidade. Isto porque sua integridade era sincera, não era uma virtude fingida.
Agora, qual a relação entre a integridade e o sofrimento? De que forma a integridade de vida nos ajuda a sobreviver aos tempos difíceis de dor? Duas são as razões básicas que fazem da integridade algo importante diante do sofrimento:
1. A integridade é alicerce para o coração; é dela que procedem as convicções que sustentam nosso viver, nossa caminhada em tempos difíceis.
2. Quando somos provados, sofrendo desta feita, a primeira coisa que nos acontece são os questionamentos; em seguida, passamos a questionar nossos valores e crenças. Por isso, se não houver integridade sincera, seremos vítimas da dor, levados por todo vento de esperança.
Destas questões decorre uma pergunta importante: o que é integridade? Literalmente, significa algo que é “inteiro”, sem divisão. Ou seja, íntegro é aquilo, ou aquele, que não é ou não está dividido. Este sentido refere-se à “perfeição”, não no sentido de não pecar, mas no fato de proceder de forma exemplar, não sendo repreendido por nada.
A visão bíblica refere-se à fidelidade para com Deus, procedendo de acordo com sua vontade. Vejamos, então, algumas marcas práticas da integridade que devem nos acompanhar em tempos de sofrimento:
1. Harmonia entre nossos valores morais e espirituais com a nossa prática de vida.
O texto de meditação nos diz que Jó era um homem “íntegro e reto”. Isto nos revela que o íntimo de Jó estava cheio, completo, pela disposição para praticar o que era correto. Revela que, pela sua lealdade a Deus, o que ele mais desejava era fazer a vontade do seu Senhor. Ou seja, ele não estava dividido entre o certo e o errado. Mostra-nos que ele não estava dividido entre fazer a vontade de Deus ou satisfazer seus desejos.
Agora, o que é mais extraordinário em tudo isto é vermos a palavra “reto” após o termo “íntegro”. Isto releva-nos que Jó vivia tudo aquilo que ele cria; sua crença, seus valores, morais e espirituais, eram vividos. Ele não só conhecia a vontade de Deus, mas realizava, em sua vida, esta vontade.
Podemos afirmar que ele era honesto, e por isso ninguém poderia culpá-lo, ninguém poderia chamar-lhe de fingido, falso, hipócrita. Realmente, era um homem que vivia de acordo com suas convicções, e sua maior convicção era Deus e o Seu direito soberano.
Quando olhamos a realidade dos nossos dias e a maneira como as pessoas reagem ao sofrimento, percebemos quão distante estamos disto. Diante da realidade desta marca da integridade podemos dizer que existem pessoas que nem convicções tem para viver, por isso vivem sem sentido, tresloucadamente, e quando vem o sofrimento são derrotadas facilmente, pois seus valores estão ligados a estilos de vida, e não à essência da vida, Deus; outros, no entanto, têm conhecido a vontade de Deus, seus valores, mas não os têm vividos, e quando surge a provação, trazendo consigo o sofrimento, são derrotados, e até praguejam a Deus, pois nunca experimentaram, realmente, em suas vidas, a vontade de Deus.
São pessoas que vestem uma máscara de cristãos; se dizem conhecedores de Deus, através da pessoa de Jesus Cristo, no entanto, vivem de forma contrária à tudo aquilo que o Senhor no ensina, em Sua Palavra. Pessoas assim não suportam o sofrimento, pois sempre viveram com máscaras, sem nunca terem descoberto a integridade sincera, que harmoniza a sua profissão de fé com sua vida. Porque vivem com máscaras não suportam a dor, pois esta remove a máscara, e a pessoa não tem onde se apoiar.
Com Jó não aconteceu isto, pois sua integridade era autêntica. Nele não havia hipocrisia, como fora acusado pelo anjo da corte, pois ali estava um homem que vivia aquilo que cria. Ali estava um homem que fazia valer a vontade de Deus em seu viver.
Por causa desta integridade sincera, marcada pela harmonia entre seus valores morais e espirituais com a prática de sua vida, Jó suportou seu sofrimento. Então, diante do exposto, fica a pergunta: será que encontramos em nós tal harmonia? Nossos valores morais e espirituais condizem com nossa prática? Quando falta isto, nos falta o chão para pisar.
Perdi meu chão em 2007, me faltou esta integridade. Mas não perdi meus valores. Diante disto, decidi buscar o caminho do arrependimento, do reencontro entre minha fé e prática. Foi um ano muito difícil, de muitas lágrimas, muita dor; foi um deserto terrível, mas que valeu à pena. A integridade da minha fé era real, mas faltava a harmonia com minha prática e isto Deus, misericordiosamente, restaurou. E isto me ajudou a sobreviver ao pior “vale da sombra da morte” em minha vida.
2. Temor de Deus, esta é a segunda marca da integridade sincera.
Jó não andava simplesmente de forma digna, irrepreensível, diante dos homens. Ele também tinha um relacionamento verdadeiro com Deus. Lembremos que o anjo da corte aborda esta questão no seu diálogo com o Senhor. Ele disse que se o Senhor tocasse em tudo o que Jó tinha, este blasfemaria contra Deus (v.11). O que o anjo desejava demonstrar era que aquele temor, dito de Jó, era só uma farsa, uma questão de interesse. Enquanto Deus estivesse abençoando a Jó, este continuaria temendo-O, caso contrário, ele largaria mão do Criador.
Todavia, Jó manteve-se fiel. Todos os bens lhe foram tirados; seus filhos lhe foram tirados; até sua vida foi tocada, vindo a padecer de uma séria doença. Mas ele não blasfemou contra Deus, porque no seu íntimo havia este temor ao Senhor todo-poderoso, fruto da sua integridade.
Ele foi tentado não somente pela dor à blasfemar contra Deus, mas teve, também, um empurrãozinho de sua mulher. Observe o capítulo 2.9, onde lemos: “Então, sua mulher lhe disse: ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre”. Mas a sua resposta foi diferente: “Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?” (2.10). Isto é integridade marcada pelo temor genuíno a Deus.
Mas, o que, exatamente, significa temor? Essencialmente, há dois significados no Antigo Testamento: medo e reverência. Os dois sentidos são verdadeiros e válidos. Há momentos que sabedoria nos levará a temer a Deus, pois sendo Ele justo, não deixará impune os pecados. Todavia, a palavra, em Jó, refere-se ao conceito da reverência. De uma forma prática, podemos dizer que temor, enquanto reverência, é um relacionamento de respeito a Deus por quem Ele é, e não pelo o que faz ou dá.
Era isto que impedia Jó de blasfemar contra Deus, pois o seu amor pelo Senhor o levava a respeitá-lo independente do que Dele recebesse. Não era uma relação de respeito pautada em barganha, mas em humildade diante da majestade do seu Deus.
Infelizmente, muitas vezes, ao olharmos para as nossas próprias vidas, fazendo um autoexame do relacionamento que temos com Deus, vemos quão superficial é o temor que dizemos ter do Senhor. Basta um pequeno problema para começarmos a achar que Deus não é justo, que Ele não é bom, etc.
Nesta relação, Deus parece ser um escravo para nós, dos nossos caprichos e vontades; um escravo que só é útil quando está tudo bem. Porém, quando as coisas pioram, O descartamos. Em grande parte, o nosso relacionamento com Deus é interesseiro. Só o respeitamos à medida que recebemos algum benefício, caso contrário, O desprezamos.
3. Rejeição do mal caracteriza a terceira marca da integridade.
O versículo 1, do primeiro capítulo, termina afirmando que Jó era um homem “que se desviava do mal”. Na realidade, esta expressão significa “rejeitar o mal”, o que implica que em momento algum Jó se compactuara com o mal. A integridade de vida o fazia abominar tal procedimento.
Mas cabe uma pergunta aqui: o que se entende por “mal” no texto? A visão bíblica sobre a questão, e que se aplica aqui, refere-se a todo procedimento contrário à vontade de Deus. Jó era um homem íntegro, pois rejeitava tudo aquilo que fosse contrário aos ensinos do Senhor.
É interessante observar em nossas vidas a tendência natural de se procurar harmonizar a vontade de Deus com as nossas próprias vontades, os nossos desejos. Isto porque, as nossas vidas não estão solidificadas na integridade do ser. Ainda encontramo-nos divididos em nossos desejos; assim, a vontade de Deus não é absoluta em nossas vidas. Por isso, temos visto muitos cristãos abatidos, sem vida estampada em seus rostos, porque lhes falta a integridade que lhes faça dizer não ao pecado.
Na realidade, se pararmos para pensar, o mal é atraente para nós. São valores morais fáceis de serem vividos; não exige um compromisso de vida; não temos que nos preocupar com ninguém, a não ser conosco mesmo.
E quantos de nós vivemos esta vida dúbia. Quantas vezes dizemos sim ao pecado e nos afastamos da graça oferecida por Cristo. Muitos cultivam pecados de estimação e não abrem mão deles. Pessoas que acham que não há nada de errado com determinadas práticas pecaminosas; entendem que um “pecadinho” aqui, outro acolá, não vai atrapalhar sua relação com Deus, e por aí adiante.
A integridade de um homem é marcada pela sua rejeição ao mal, ao pecado. Isto porque, a integridade revela quem somos, e aqueles que convivem em suas vidas com pecado não são de Deus. E é justamente esta relação com o mal que nos impede a experiência e a maturidade que procede da integridade. Integridade, esta, que nos alicerça na hora da dor, do sofrimento. O mal nos cega para entendermos que a dor é passageira, e mesmo que não seja, a nossa esperança não está fundamentada aqui, nesta vida.
O mal nos impede de ver a prova pela qual passamos a fim de nos qualificar, lapidar, em nosso viver. O mal impede tudo isto porque ele só cultiva em nós o gosto pelo prazer, como se este fosse o sentido da vida. Quando vivemos pelo prazer, nos tornamos pessoas mesquinhas, egoístas, que não conseguem se apoiar em lugar algum quando provados pela dor.
Jó permaneceu firme diante do sofrimento porque em seu coração não havia espaço para o mal que o tentava naquela hora. Assim, manteve-se íntegro, e uma vez íntegro, soube passar pela dor insuportável que o abateu.
Temos ensinado, até aqui, que a integridade do coração de Jó foi a primeira marca para que ele sobrevivesse ao sofrimento que passara. Suas crenças e ações não estavam divididas, o que lhe fazia forte para enfrentar o sofrimento.
O temor que ele tinha por seu Deus o impedia de blasfemar contra Ele, buscando na frivolidade da vida subterfúgios para a dor da alma. Este temor era fruto de sua integridade, a qual não olhava para o seu Criador com desejos próprios ou mesquinhos, mas dirigia-se com profundo amor, independente de ter ou não bens, família ou saúde. Para Jó, Deus era o seu bem maior, era tudo o que precisava.
Jó permanceu firme porque o pecado não tinha lugar de prazer em sua vida, não podendo induzi-lo ao fracasso.
Diante disto, te convido, meu irmão e amigo, a permanecer firme diante da dor. Permita que Deus crie em sua vida uma integridade sincera, que faça de você uma pessoa honrada, de valor, em todo tempo. Não permita que dor, o sofrimento, jogue no lixo a honra que Deus te deu ao te fazer à Sua imagem e semelhança. Não permita que o pecado, a frivolidade da vida, te afaste para longe do teu Criador quando te encontrares abatido.
Como dissemos, este foi o primeiro ponto detectável na vida de Jó que o fez um vencedor diante do sofrimento. Na próxima mensagem olharemos a segunda marca deste homem que o fez modelo para nós. Que o Senhor Jesus, Deus-homem que sabe o que é padecer, mas que venceu a morte, te ilumine e fortaleça o teu coração. Amém.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

BLOG DA IGREJA EPISCOPAL CARISMÁTICA DE BRASÍLIA

Irmãos, irmãs, amigos e amigas, neste ano Deus me deu um grande presente, a restauração do ministério pastoral em minha vida. Há 3 meses começamos a implantação da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, em Brasília. E através do irmão Ricardo recebemos um outro grande presente, a possibilidade de disponibilizarmos os estudos e mensagens que temos ministrado na igreja. Através do nosso blog você terá acesso gratuito a este material: www.episcopaldf.blogspot.com Que este instrumento seja útil para edificação do Corpo de Cristo e a salvação daqueles que foram eleitos por Deus, em Cristo Jesus.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

QUEM É SATAN, NO LIVRO DE JÓ?

Neste mês de agosto, 2009, comecei a pregar sobre a questão do sofrimento na igreja que pastoreio, a Episcopal Carismática de Brasília. Estamos meditando a partir do livro de Jó. Todavia, para uma correta compreensão do livro e de sua mensagem, é necessário desmistificar a figura de satan na história. Antes, gostaria de deixar claro que creio na existência de Satanás e no seu poder (ainda que limitado) para enganar e aprisionar as almas. Assim, creio em possessão demoníaca, opressão maligna, e todas as demais coisas que a fé cristã tem declarado, historicamente, sobre a ação do diabo. Isto, porém, não me obriga a ver o diabo em todo lugar da Bíblia e a interpretar o termo satan como Satanás quando, claramente, o texto não o afirma.
A fim de evitar que você se perca nas meditações sobre o sofrimento, decidi postar este artigo antes, para que a leitura, posterior, flua melhor. Aqui, pretendo demonstrar porque satan, em Jó (e que fique bem claro isto, no livro de Jó), não refere-se a Satanás, mas a um anjo da corte celeste, cuja função é a execução punitiva da vontade do SENHOR e por à prova o coração dos homens diante de Deus. Há 8 pontos para serem ponderados:
1. Do ponto de vista linguístico, temos um sério problema. O termo satan, em hebraico, é precedido de um artigo, lendo-se, neste caso, hasatan. Ora, quem conhece hebraico sabe que, neste caso, não se trata de nome próprio, mas de um título que exige tradução, sendo esta a de “acusador”. Porque estamos acostumados a ver o diabo como “acusador”, interpretamos a passagem, imediatamente, como se referindo a ele. Acontece que no Antigo Testamento há um anjo da corte celeste que recebe este título também por causa de sua função, uma espécie de “promotor” da corte. Além disso, ele se faz presente no Êxodo (na matança dos primogênitos), com Saul (atormentando sua vida), no censo de Davi, e na corte, novamente, acusando o sacerdote Josué (Zacarias 3.1).
2. Em 1.6 se diz: “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também satan entre eles”. Observe que o texto afirma, “entre eles”. Talvez isto não fique claro para você, mas em hebraico a ideia refere-se a alguém daquele grupo. Ou seja, satan era contado entre os filhos de Deus, expressão que se referia aos anjos dos céus (é importante observar que filhos de Deus aqui em Jó não é a mesma coisa que filhos de Deus em Gênesis 6.2, o qual diz respeito à descendência adâmica).
3. Do ponto de vista teológico, surge outra questão. Se satan, em Jó, fosse Satanás, teríamos uma situação complicada, pois nesta ocasião este já teria sido expulso dos céus por causa de sua rebelião. Em 2.1 este satan volta a se apresentar diante de Deus com os demais anjos. Se ele foi expulso do céu, de onde vem esta liberdade para ficar entrando no céu sem reprimenda de Deus? Muitos teólogos falam da “vontade permissiva de Deus”, mas esta é uma dedução que não pode ser tirada do texto, pois o mesmo nada fala desta vontade. A leitura natural do texto é que tal figura era um anjo da corte, e não o inimigo de Deus e de nossas almas, o diabo.
4. Em 1.19 se fala de fenômenos da natureza que teriam provocado a morte dos filhos e filhas de Jó. Neste sentido, toda a teologia bíblica afirma que tal poder sobre a natureza somente Deus tem. É por isso que os discípulos ficam assustados quando Jesus manda o vento e o mar acalmarem.
5. Do ponto de vista literário, o sofrimento de Jó, em momento algum, é atribuído ao diabo, mas a Deus. Quando todos os males vêm sobre Jó, sua mulher ataca sua integridade diante dos males e recebe como resposta: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2.10). Observe, Jó tem como certo que o mal, sofrimento, que recebe vem de Deus, e não do diabo.
6. Os amigos de Jó em momento algum cogitam da possibilidade daquele mal vir de Satanás, mas em todo momento entendem que procede de Deus por causa de algum pecado de Jó.
7. A partir do capítulo 38 Deus entra em cena e assume para si toda a situação manifestando sua soberania. Novamente, nenhuma acusação é feita a Satanás.
8. No final do livro, cap. 42, a sorte de Jó é mudada, e por isso, seus parentes vem festejar com ele. No v.11 se diz: “Então, vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quanto dantes o conheceram, e comeram dele, e o consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado”. Observe, o mal, sofrimento, é atribuído a Deus, e em momento algum se fala do diabo.
Não estou fazendo uma apologia do diabo, não. Apenas estou fazendo uma análise literária e lexicográfica do sentido de satan, em Jó. E neste sentido, o termo refere-se ao anjo da corte celeste. Por que este entendimento é importante?
1. Porque desmistifica as elucubrações e devaneios dos proponentes da “batalha espiritual” que fica atribuindo ao diabo mais poder do que, de fato, ele tem.
2. Porque desfaz a teologia maniqueísta de que Deus e o diabo estão num confronto por representarem forças iguais. O diabo, de si mesmo, nada mais é do que um ser vencido pelo sangue do Cordeiro, o nosso Senhor e Salvador Jesus.
3. Porque nos ajuda a entender a soberania e a natureza de Deus em meio ao sofrimento. O nosso Senhor não é escravo da nossa vontade, podendo dar-nos tanto o bem quanto o mal, do jeito que quiser e quando desejar, visando o nosso crescimento.
Creio que a partir deste entendimento o livro de Jó se mostra mais encantador, pois nos revela um Deus soberano, amado não pelo que dá aos seus servos, mas pelo que é, Senhor e galardoador da vida. Com este entendimento, convido-o a ler as mensagens que serão postadas nas próximas semanas. E caso queira ouvir a pregação, basta acessar: www.episcopaldf.blogspot.com
A paz de Cristo.
Pr. Airton Williams