sexta-feira, 30 de outubro de 2009

ISTO É EVANGELHO

Amados irmãos e irmãs, a paz de Cristo. Após colocar o vídeo contundente do pastor Donnie, quero lhe convidar, agora, a ouvir esta maravilhosa mensagem do pastor Paul Washer. Este homem é um profeta de Deus em nossa geração. O que você ouvirá é a mais pura exposição do Evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Que o Espírito Santo fale profundamente contigo, como tem falado comigo. Um forte abraço, Pr. Airton Williams.

OS CAFETÕES DA PROSPERIDADE

Amados irmãos e irmãs, esta é uma das mensagens mais contundentes que já ouvi contra este falso evangelho que está sendo disseminado no mundo e contra os seu "pregadores" do inferno. Que Deus levante mais homens como o pastor Donnie.

Orar no nome de Jesus nos dá tudo o que queremos?

Amados irmãos e irmãs, este vídeo é muito esclarecedor sobre este assunto. vale à pena ouvir as sábias palavras do irmão Dave Hunt.


Confira o DVD »

domingo, 25 de outubro de 2009

AUTOFAGIA NA IGREJA - Jehozazak

Amados irmãos e irmãs, há alguns anos atrás, quando os blogs ainda não existiam, recebi o e-mail de um amigo com o artigo de um irmão chamado "Jehozadak" (creio que seja um pastor). Achei o texto maravilhoso e o aguardei, como é de costume quando considero a leitura relevante. Nestes dias o li novamente, e o texto está cada vez mais atual. Assim, decidi publicar no meu blog. Vale à pena ler e refletir. abraços
Pr. Airton Williams
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Autofagia da Igreja
Atos 17:6

Outro dia recebi um e-mail, que me indagava acerca da nossa influência no mundo que nos cerca. Continuamos a influenciar o mundo ainda hoje? Aquela pergunta martelou minha mente durante dias. Temos mesmo influenciado e modificado vidas ainda hoje? Ou estamos a caminho de um processo autofágico onde estamos nos consumindo como igreja, que não se parece com nada - ou pelo menos algumas das nossas igrejas "modernas".

Pode parecer esdrúxulo afirmar que a igreja passa por um processo de autofagia. Mas, é só fazer um pequeno esforço para vermos o quanto isto é uma realidade chocante.

A maior das diferenças - o pentecostalismo e o tradicionalismo - não foi suficiente para dar cabo da igreja brasileira. Durante décadas uns não toleravam os outros. Ser pentecostal era sinal de ignorância em todos os sentidos. Ser tradicional significava ser frio e "incrédulo". As denominações pouco se misturavam, mas num ponto todos concordavam - que o Evangelho deveria ser pregado, não importasse as circunstâncias.

O que fazer com homens que conhecem a Bíblia a fundo, mas somente se guiam pelas suas convicções pessoais? Não aceitam que digam a eles dos seus erros e falhas. Se formos criticá-los então? O resultado será catastrófico e trágico. A Bíblia nos manda
denunciá-los - notem eles - II Tessalonicenses 3:14 "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com
ele, para que fique envergonhado". Mas o que fazer se estes mesmos não se dão ao trabalho de se analisarem e de se sentirem culpados diante de Deus?

O grande e crucial problema dos nossos dias e das nossas hostes é acharmos que todo aquele que vem e se diz "de" Deus, é dos nossos e por isso mesmo temos de recebê-los de braços abertos. Não e não.

Nunca houve na história da humanidade, ou melhor, na história da igreja, tantas portas que muitos teimam em chamar de igrejas, como agora. Há vinte anos atrás, eram algumas centenas de denominações, as divisões eram poucas, e estas mesmas igrejas cresciam por multiplicação.

Hoje se cresce por divisão. Onde havia uma igreja, ou um ajuntamento de pessoas, há mais uma igreja povoando o mercado, com líderes fracos, com homens sem convicção da sua vocação, mas com um único propósito - a de ser líder de si mesmo, e, logo os imediatos deste líder vão passar-lhe uma rasteira, que ele por sua vez passou em alguém, e pronto!

Tempos atrás, as denominações eram poucas em número, mas grandes em congregações, e as igrejas cresciam por multiplicação. Hoje são centenas, senão milhares de denominações que crescem, sobretudo por divisão. Quer ver a constatação disto? Veja no seu bairro ou na sua cidade quantas igrejas novas surgiram nos últimos dois anos. Se puder pergunte a origem delas, e não se surpreenda se ouvir que ela saiu de uma divisão. Aliás, há igrejas que já estão na décima divisão.

Com o surgimento destas novas igrejas e denominações é notório que a falta de compromisso bíblico delas é um dos motivos de - muitas vezes - crescerem tanto. Muitas delas são as chamadas comunidades ou igrejas alternativas, como o Ministério do Espírito Santo em Nome do Senhor Jesus Cristo, fundada por Baby do Brasil, ex-Consuelo.

Não estou e nem pretendo discutir aqui a fé e a conversão de Baby do Brasil, mas quero tomá-la como exemplo. Quantos anos ela tem de conversão? Qual foi o discipulado pelo qual ela passou? Quem foi o seu discipulador? Sob qual autoridade ela abriu uma igreja? Quem a ungiu? Quem a separou para o ministério? Quem a comissionou? Certamente muitos levantarão suas vozes num estrépito para dizer que estou - novamente - errado, como já o fizeram de outras vezes, em que abordei temas ou assuntos espinhosos.

Tempos atrás escrevi um artigo contando as mazelas de um famoso apóstolo, que, enrolado em dívidas, é dos mais processados hoje no Brasil. Centenas de e-mails foram-me enviados, criticando-me por atacar um dos mais "santos" homens de Deus no
Brasil. Gente, se eu for contar o resultado das entrevistas que fiz com quem trabalhou com o "santo", certamente vocês ficariam horrorizados. Até tiro o "santo" mandou dar em desafetos. Um verdadeiro gangster, o nosso "santo".

D. Baby do Brasil, não é única ex-exótica a fazer do Evangelho um meio de vida como tantos outros que campeiam pelo mercado. Estes pensam que a igreja precisa se contextualizar, quando a igreja precisa sim, ser fiel aos princípios da Palavra de Deus. Pensar o contrário é buscar desculpas para justificar seus comportamentos deturpados.

Aqui mesmo onde moro, outro dia tomei um susto. Fui a um dos muitos estabelecimentos da região, e lá havia uma propaganda de uma nova igreja. A figura do pastor estava lá impávida. Eu o havia conhecido tempos antes e ele era ministro de música - muito ruim por sinal, e congregava numa determinada igreja, e agora era o fundador de um novo ministério, de uma igreja só. Até ai nada de mais, é direito de qualquer um almejar o episcopado, mas ele é mais um numa imensa selva a crescer por divisão, e logo, logo alguém vai fazer com ele o que ele fez com o pastor dele.

E aqueles que são os pescadores de aquário? Conheci um diácono, que numa determinada ocasião, quando eu ministrava aula na escola bíblica dominical, pedi que um deles lesse um trecho que estava em Lamentações de Jeremias. Pois o dito cujo não sabia se o livro estava no velho ou no novo testamento. Foi olhar no índice.

Tempos depois ele sumiu da igreja e estava frequentando outra igreja, onde o pastor prometeu fazer dele um evangelista. Evangelista? Sim, na sua antiga igreja ele não tinha, na opinião dele "oportunidades" para trabalhar, e com a possibilidade de um cargo ou de uma função ele se foi carregando a sua ignorância.

Ora, Deus pode usar qualquer um, do modo, do jeito, da forma que Ele quer, mas hoje há entre os nossos que sequer sabem pegar numa Bíblia, que nunca a leram uma vez sequer, que não jejuam, não oram, não se consagram, não buscam a Deus adequadamente, mas que querem ser figuras iminentes.

Antes, um homem queria ser um obreiro por vocação, hoje quer ser para satisfazer o ego e poder dizer que é "alguém". E quem paga e sofre é o corpo de Cristo. Antigamente uma igreja era próspera por causa da quantidade de almas que ganhava a cada ano, hoje, só é considerada assim, se tiver um canal de televisão, uma estação de rádio, se seu líder for influente politicamente, se consegue influenciar a vida da
coletividade onde mora.

Pastores regozijam-se por ser homens "notáveis" e exibem sem constrangimento algum suas condecorações, seus diplomas, seus ternos bem cortados, suas fotos ao lado de personalidades, seus títulos e cargos nas ditas associações representativas, e nos seus cafés da manhã, almoços e jantares, onde se reúnem para exibir suas riquezas pessoais adquiridas no exercício das suas funções pastorais.

Deus não quer nada disto. Deus quer humildade e honestidade de cada um. Recebi recentemente de um amigo o artigo Um Evangelho Anormal, de autoria de J.
Lee Grady, publicado na Revista Ultimato número 4 ano 24, que transcrevo na íntegra, e que nos mostra que a igreja passa por uma crise profunda de identidade, desvirtuada que foi por gente que só pensa em si mesmo, e que não hesita um instante sequer em fazer do púlpito - dinheiro, e das suas influências mais dinheiro ainda.

Um Evangelho Anormal
J. Lee Grady

"Meu mundo foi sacudido violentamente em janeiro, quando dediquei algum tempo entrevistando líderes do movimento ilegal da "igreja nas casas" da China. Durante cinco dias orei, louvei e participei de refeições simples com estes santos preciosos a maioria dos quais passou anos solitários nas prisões comunistas pelo crime de pregarem o evangelho.

À medida que eu ouvia seus relatos em primeira mão de milagres, e do tratamento cruel que receberam dos guardas policiais, senti como se tivesse encontrado pela primeira vez uma fé parecida com aquela que vemos no Novo Testamento. Quando retornei aos Estados Unidos comecei a imaginar se o que nós chamamos de cristianismo aqui tem alguma semelhança com o verdadeiro produto.

Uma líder me explicou que supervisiona 5.000 igrejas numa área rural. "Você é um bispo ou um apóstolo?", perguntei, tentando entender os termos que eles usam. "Nós não usamos títulos", a mulher me explicou. "Nós simplesmente nos chamamos de irmão e irmã". Os 80 crentes que conheci são responsáveis por mais de 35
milhões de cristãos na China. Este é um número impressionante. Mas nenhum deles chegou ao nosso local de reunião numa limusine, nem qualquer um deles era seguido por um grupo de guarda-costas e publicitários. Muitas destas pessoas vivem como fugitivos, mas os seus rostos estavam radiantes de alegria.

O sr.Yu, que é o nome que vou usar para ele, é como o apóstolo Paulo da China. Ele viu pessoas ressuscitarem de entre os mortos, e uma vez ele viu Deus paralisando sobrenaturalmente um oficial do governo que ameaçava suspender uma reunião evangelística ao ar livre. Mas o sr.Yu não esperava nenhum tratamento especial ao
passar algum tempo comigo e com seus colegas em janeiro. Ele usava uma simples camisa de manga curta, comeu o mesmo peixe com arroz que nós comemos, e comparecia para a oração como qualquer outra pessoa, antes de cada reunião. Geralmente ele tomava seu assento no fundo da sala.

Estas pessoas choravam cada vez que orávamos pela China. Elas estavam dominadas por um sentimento de urgência espiritual. Muitos deles estão ansiosos por uma mudança política em seu país não para que tenham liberdade para se mudarem para os Estados Unidos, ou para que possam comprar uma casa, mas para que possam enviar missionários para países muçulmanos vizinhos e fechados como o Casaquistão ou o Uzbequistão.

Eu senti vergonha quando voltei para casa. A humildade dos meus novos amigos chineses expôs a realidade do meu orgulho. A sua fé infantil revelou o quanto eu
confio na tecnologia, na educação e nos ídolos do materialismo ocidental. A sua contagiante paixão pelo cumprimento da Grande Comissão forçou-me a enxergar o
meu autocentrismo. Estou cheio do nosso ramo anormal e americanizado do cristianismo. É tão impotente quanto é letal. Depois de passar esse tempo com meus irmãos e irmãs da China, compreendi que muito do que vejo na igreja e até daquilo que publicamos na nossa revista (a revista norte-americana Charisma) dá náuseas para Deus.

Quão desesperadamente precisamos do Espírito Santo nosso Refinador para que venha nos despojar dos nossos títulos, nossas limusines, nossos lugares nas primeiras fileiras nos templos e nossas mensagens do tipo "que vantagem posso tirar para mim"! Precisamos voltar à simples humildade!

Que Deus nos guarde de algum dia exportarmos para outros países um evangelho adulterado e centrado no homem. Peçamos ao Refinador que envie seu fogo e destrua nossa escória de tal modo que possamos experimentar em nosso país um avivamento estilo chinês. O que eles têm é genuíno. O que temos aceitado é uma imitação barata".

Evangelho barato e deturpado por mentes insanas que corrompem tudo o que os cercam. Poucos sãos os grandes eventos evangelísticos no Brasil hoje, onde
pregadores, cantores e conferencistas não precisem pagar para falar ou cantar. E pagam caro. Principalmente por saberem que ao final de cada evento destes vão vender materiais como livros, discos, vídeos, apostilas, etc, em profusão tamanha que vão recuperar o investimento com sobras. Sabem que se investirem R$ 10 mil, vão arrecadar R$ 50 mil, e assim por diante.

E as almas? E as vidas a serem edificadas? Quem se importa com elas? Quem dá um tostão por elas? Hoje estes grandes "conferencistas internacionais" que pululam o mercado, estão é mais preocupados em manter suas máquinas de fazer dinheiro ativas do que e ganhar uma alma sequer.

Andam cercados de assessores e guarda-costas, para que ninguém chegue perto deles. Será que é medo de que alguém peça para que eles orem por alguma enfermidade ou problema, na esperança de que tais coisas sejam resolvidas? Certamente vão se frustrar.

Sem contar as práticas ditas eclesiásticas, que de eclesiásticas não tem absolutamente nada. Mas o Senhor é soberano e esta matilha que assalta a igreja nos nossos dias não vai exterminar com ela, mesmo porque a igreja é santa, apesar dos homens que as dirigem, e vai prevalecer contra estes todos.

Naqueles tempos de Atos 17:6, nós mudamos a história, transformamos vidas unicamente pela força da Palavra pregada. E hoje? Misturamo-nos no que chamamos de igreja contextualizada, que na realidade é uma massa incrédula e ignara, e transformamo-nos em pessoas que sequer conseguem mudar a si mesmos.

O desabafo do J. Lee Grady nos mostra que há sim, um povo santo, que se preocupa com o bem estar das almas, e que mesmo sob condições inóspitas, pode-se sim, pregar o Evangelho, e que as circunstâncias não importam quando se tem Deus no coração, e, sobretudo, uma vontade imensa de levar a outros esta mensagem.

Fico imaginando o que fariam estes fariseus que travestidos de apóstolos, de bispos, de profetas, pastores e "conferencistas" internacionais, propagadores de auto-ajuda, que eles chamam de livros, fariam se fossem colocados num lugar como a China?

Correriam de lá.

Certamente!

Jehozadak

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO – Parte IV - Jó 42.1-5

Quando pastoreava Luziânia-GO, o que ocorreu entre 1995 e 1997, conheci uma senhora admirável, professora famosa na cidade. Nossa igreja (naquela ocasião eu era um pastor presbiteriano), tinha um terreno muito grande, eram 10 no total, que perfaziam 3.600m. A maioria, 9, se não me falha a memória, havia sido doado por esta irmã. Todavia, ela era uma senhora muito doente, e por isso não podia ir a igreja. Assim, como seu pastor, pelo menos uma vez por mês ia visitá-la para celebrar a Ceia do Senhor com ela.
Sempre que eu chegava era recebido com muita alegria. Mesmo com dificuldades de locomoção, ela vinha à porta para me receber com um braço e um gracioso sorriso. E, normalmente, neste tipo de saudação, costumamos perguntar, mesmo que por costume: “como a senhora está?”. E a resposta daquela senhora era sempre a mesma, e sempre me encantava.
Porém, um dia, a resposta dela passou a ter mais significado para mim. Através de alguém da igreja, soube da triste história que aquela senhora. Ela teve um único filho, a quem ensinou os caminhos do Senhor. Por ele ela fez de tudo. Não somente lhe deu educação espiritual, como também formação profissional.
Quando seu filho completou 18 anos, juntamente com seu marido, decidiu lhe dar um carro novo. O rapaz tirou a carteira, como manda a lei, e dias depois recebeu seu lindo e caro presente. Assim, com ele ia à igreja, participava das atividades departamentais, sociais, de evangelismo e etc. tínhamos, ali, uma imagem de uma família abençoada.
Quando se chega em Luziânia, pela entrada principal, têm-se uma avenida muito grande, reta, que no final dá no centro da cidade. Esta avenida, além de grande e reta, é em declive. Todavia, antes de chegar ao centro, há uma rotatória. Pois bem, num belo dia, à noite, o filho desta irmã voltava de um lazer, e acelerou um pouco mais o carro. Não se pode dizer que estava correndo fora dos limites, mas estava acima do normal. Quando chegou próximo à rotatória, este irmão perdeu a direção do carro, que capotou junto à ribanceira. Para tristeza daquela mãe, seu único filho falecera neste acidente.
A partir do momento que soube desta história as palavras de saudação daquela irmã me soavam mais profundas, e também o alimento de sua alma após a tragédia. Sempre que lhe perguntava: “como está a senhora?”, ela me respondia: “com Cristo no barco tudo vai muito bem”. O barco podia estar à deriva, lançado à tempestade, mas se Cristo estivesse nele, estaria tudo bem, bastava crer.
Estas simples palavras daquela irmã me ensinaram uma coisa muito profunda sobre o sofrimento, e que podia ver o paralelo em Jó: em tempos de sofrimento é necessário saber que Deus está no controle de tudo. Porém, esta percepção só fará sentido para nós se tivermos uma correta compreensão de quem é Deus. E esta percepção que tem levado muitas pessoas às neuras em tempos de aflição, pois o seu Deus não é aquele revelado nas Escrituras, um Deus que tem o controle de tudo e tudo conduz para a sua glória. O Deus de milhares de pessoas é um deus criado à imagem e semelhança da soberba e avareza humana. Assim, quando as coisas não funcionam, quando o bem se transforma em mal, o deus destas pessoas se quebra, o altar idolatra é destruído, e, então, ficam sem rumo, sem norte, sem porto em meio à tempestade.
No livro de Jó, o deus dos amigos de Jó era muito limitado e à serviço do nosso bem. Assim, se fizéssemos as coisas corretamente, andássemos na justiça, é certo que Ele só nos abençoaria. Se, por outro lado, andássemos em pecado, sua maldição também seria certa. Neste tipo de pensamento, o deus dos amigos de Jó é um deus que barganha com o homem, um deus manhoso, que só faz o bem se receber em troca o bem.
Acontece que a história de Jó surge para chocar esta mentalidade pequena de Deus. Para nos mostrar que o soberano Senhor, Criador dos céus e da terra, não está sujeito aos nossos comportamentos; mostrar que sua glória não se negocia com a mesquinhez dos nossos corações. Jó entendia isto, mas somente no final do livro fica claro para ele os fundamentos desta questão.
Até o capítulo 38 todo o debate gira em torno dos amigos de Jó com ele, numa relação acusação-defesa. Foram três rodadas, com nove discursos, sem que a questão fosse resolvida. Atendendo ao clamor de Jó, 31.35, Deus intervém no debate e passa a falar. Na verdade, Deus passa a se revelar em meio ao sofrimento, à dor, às lágrimas, e esta revelação leva Jó a declarar: “eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem”. Esta última frase não deve ser interpretada literalmente, pois Jó não viu a Deus, de fato. O que a frase quer dizer é que, agora, Jó não somente conhecia Deus pelo discurso, mas compreendia quem Ele era em meio à sua história. E é desta experiência que surge a última lição que aprendemos com Jó sobre o sofrimento: vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma correta percepção de Deus.
Hoje, quando vejo inúmeras pessoas sofrendo, quer seja por decisões erradas que tomaram, por pecados cometidos, pelo azar que tiveram ou pelas injustiças sofridas, não consigo entender a forma como se voltam para Deus e passam a lhe ordenar o que deve fazer e como fazer. Não consigo entender como pessoas prostradas mantêm a pose de senhorio e se achegam para Deus cheios de direitos e exigências.
Numa certa ocasião, enquanto pastor-auxiliar em Itapeva-SP, assisti parte de uma mensagem que me deixou chocado. Entrei na farmácia para comprar um remédio, por volta das 23:00, havia um bom movimento, e então, fiquei aguardando o balconista. Durante este período, assisti a referida mensagem na televisão. O pregador, senhor Edir Macedo, anunciava que Jesus tinha vindo nos trazer vida “abundante”, e interpretou isto como sendo bens materiais, físicos: dinheiro, saúde, etc. Depois de explicar isto, passou a ensinar que tais bênçãos são auferidas com a entrega dos dízimos e ofertas especiais. Então, veio o que me assustou, ele disse: “quando você entrega o seu dízimo ao Senhor, é como se você colocasse uma faca no pescoço de Deus e, então, pudesse exigir o que você quisesse”. Sim, estas foram as palavras chocantes. Agora, o mais interessante é que a igreja deste senhor continua cheia em qualquer lugar do país. O que mostra que as pessoas criaram um deus segundo os seus desejos, e no momento da dor, do sofrimento, por desconhecê-lo, de fato, entram em neuras psicológicas.
Este deus frágil, manhoso, manipulável, não é o Deus que a Bíblia apresenta e que levou Jó a se calar. Quem é este Deus? O autor do livro não pretende fazer uma explanação teontológica, ou seja, uma explanação do ser de Deus, conforme revelado no Antigo Testamento. O seu propósito ao nos narrar o final da história de Jó, principalmente o bloco de 42.1-6, era refletir sobre Deus a partir das nossas inseguranças, medos e revoltas. Quem é este Deus diante do nosso sofrimento?
A primeira frase reveladora diz: “Bem sei que tudo podes...”. Esta frase é interessante, pois revela uma faceta tão conhecida de Deus, porém, mal-compreendida em nossa teologia do sofrimento. Quando lemos “tudo podes”, deduzimos, de imediato, a “onipotência” de Deus, e isto é correto. O que está errado com nossa leitura é a unilateralidade de nossa interpretação.
Quando dizemos que Deus “tudo pode”, associamos isto somente com bênçãos, vitórias e sucessos que Ele nos dará. Todavia, Jó sabia que Deus tinha todo o direito de dar o que bem entendesse, tanto o bem quanto o mal. Observe que já no cap. 2.10 ele havia dito, respondendo ao conselho louco de sua mulher: “temos recebido o bem de Deus e não receberíamos tambpem o mal?”
Até o confronto com o Senhor, Jó sabia que Deus tinha todo o poder para nos dar o que bem entendesse. O que muda após o discurso do Senhor, a partir do capítulo 38, é que Jó passa a entender isto, pois estava diante do Senhor soberano, que não deve satisfação a ninguém. Agora, a fala de Jó se reveste de uma tonalidade difente de de 2.10, a tonalidade de quem viveu a experiência de compreender que Deus “tudo pode” realmente: pode nos dar o bem (e.g. bênçãos, vitórias, sucessos, etc.), e também pode nos dar/enviar o mal.
Para continuarmos nossa reflexão, convêm fazer uma observação: quando o texto fala do direito do Senhor nos dar o “mal”, não se refere à ideia de mal moral, ou seja, Deus não nos dará o pecado como experiência. Quando a Bíblia fala que Deus pode e dá o mal aos seus filhos, ela sempre se refere ao conceito de sofrimento, dores, muitas vezes resultado dos nossos pecados (e.g. o caso de Davi), o que não é o caso em Jó.
Em Jó, Deus envia o mal/sofrimento como forma de testar, provar, a fé daquele homem justo. E isto nos intriga, pois segundo a teologia popular, Deus só pode dar ao homem piedoso as bênçãos materiais. Neste caso, Jó soa como blasfêmia para os defensores deste pensamento, pois é exatamente a retidão de Jó que o leva ao sofrimento.
Compreendendo esta questão do “mal”, vemos que o Deus revelado na Bíblia não é Deus que existe para atender nossos caprichos, nossas vontades infantis, imaturas. Ainda que possa dar-nos “o melhor desta terra”, ele também nos faz sofrer para amadurecermos na jornada de fé; ele nos faz sofrer para que possamos expressar nossa total confiança nele, e não naquilo que possuímos, nos bens que conquistamos, os quais são transitórios e estáveis (1 Tm 6.17).
É ilustrativo disto quando lemos Deuteronômio 8.2, quando o Senhor diz que levou o seu povo ao deserto para o “humilhar, para provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos”. É esta a experiência que Jó viveu, a experiência do deserto, de alguém que perdeu tudo, até a própria dignidade para saber se “guardaria” ou não os mandamentos do Senhor.
Sim, Deus pode tudo, inclusive nos conduzir ao deserto e nos fazer passar fome; foi assim com Moisés, foi assim com Cristo, foi assim com Paulo e tantos outros. É importante que entendamos em nossas aflições que Deus não existe para nos poupar das adversidades. Em muitos momentos, ele no-las imporá. E não fará isto por causa de pecados não confessados, ou mesmo confessados; fará isto, em muitos casos, apenas para provar o nosso coração.
É a compreensão deste Deus soberanos, inquestionável em seus atos, que permite Jó sobreviver ao sofrimento e manter-se fiel: o seu Deus não era um “gênio da lâmpada” à seu serviço, pronto a atender seus pedidos, mas o Senhor que governa todas as coisas e que as conduz para a sua própria glória.
Mas quando Jó diz “bem sei que tudo podes”, outra questão nos é ensinada: se Deus pode nos dar também o mal, é certo que não está preso somente ao mal; então, se soubermos esperar, e nele confiar, o bem também chegará sobre aqueles que nele confiaram e a ele se submeteram na adversidade.
Sim, se Deus tudo pode, há tempo para recebermos o bem e o mal. E se vivemos um tempo em que somos afligidos pelas mais diversas provações, com certeza haverá um tempo em que nossa sorte será mudada, em que o Senhor voltará a sorrir para nós. Se “o choro pode durar a noite inteira”, é certo que chegará a manhã, e com ela a “alegria”. Deus não está sujeito nem condicionado a alguma coisa.
Na visão de um Deus soberano, onipotente, Jó encontra conforto para o seu coração. E enquanto esta percepção de Deus não for restaurada em nossas vidas viveremos em revolta com o mundo, com aqueles que nos amam e com o próprio Deus.
Como pastor tenho encontrado inúmeras pessoas destruídas porque criaram um deus falso para si um deus que lhes daria tudo o que desejassem; um deus que poderia ser manipulado com ofertas e dízimos; um deus elitista, que só atenderia alguns poucos, enquanto outros milhares morreriam às mínguas. Estas pessoas, todavia, descobriram da pior forma possível que Deus não é assim. Descobriram que ele não somente permite o sofrimento, como também envia até sobre os justos, os piedosos. E quando a vida lhes mostrou isto, foram abatidas em sua soberba, e desencantaram com a vida, com a fé.
Sou grato a Deus por poder ajudar muitas pessoas em meus 15 anos de ministério pastoral a reencontrarem a fé, redescobrirem Deus e serem gratos a ele por tudo o que passaram. Quando O conhecemos, podemos cantar a canção que diz:
“Sou grato, Senhor, por todas as provações
Que me fazem crescer em Ti,
Ao deixar-Te agir
Sou grato, Senhor
Pois as provas vem transformar
Minha vida e paciência dá,
Me ensinando amar.

“Bem sei que tudo podes” nos convida a entregarmos tudo ao Senhor, a nos despirmos de direitos pessoais, de justiça pessoais, e confiarmos a condução da história de nossas vidas na mão daquele que é soberano sobre todas as coisas.
Mas há uma segunda expressão de Jó quanto à sua percepção de Deus, quando diz: “nenhum dos teus planos pode ser frustrado”. Esta frase explica a primeira num ponto importante: nada do que Deus faça é arbitrário ou ilógico; nada do que ele faça conduz para um fim sarcástico, como aqueles que têm prazer no sofrimento do outro. Deus é soberano, pode fazer o que quiser, mas sempre o fará a partir de propósitos bem definidos que revelarão sua graça no final da história para aqueles que forem aprovados no teste da fé.
Há muitas coisas acontecendo com nossas vidas que nem fazemos ideia do porquê, apenas sabemos que estão acontecendo. E da mesma forma que sabemos, Deus tambem o sabe e a tudo conduz para Se revelar a nós. Jó passou por tudo o que passou, perdeu os bens, a família, a própria saúde, e com ela a sua dignidade (lembre-se, ele passou a ser uma pessoa repugnante por causa de suas chagas), mas no final encontrou Deus, o conheceu de uma forma profunda, intensa, transformadora.
Sim, quando os justos passam por provações há propósitos do Senhor em jogo; quando o filho pecador se rebela e passa por provações, há propósitos do Senhor em jogo; até mesmo quando os ímpios passam por provações, há propósitos do Senhor sendo executados.
Os propósitos de Deus no sofrimento podem ser os mais diversos. No livro de Jó alguns são apontados. Através dos “amigos” de Jó vislumbramos a verdade de que muitas vezes Deus nos faz sofrer para nos corrigir (ainda que não tenha sido este o caso de Jó). Quando pecamos ou o pecado em si nos traz dores como consequências, ou o próprio Deus impõe a nós dores profundas para nos conduzir de volta a si mesmo. E quando isto acontece devemos agradecer-Lhe, pois só nos mostra que somos filhos amados.
Lembro, com tristeza, de minha própria trajetória de fé em 2007. Aquele ano foi o meu grande deserto. Por causa dos meus pecados inúmeras foram as vezes que chorei, com amargor de alma, pois “a mão do Senhor pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio”. Mas o que me consolava era saber que eu só estava passando por aquilo porque Deus me amava e precisava me curar, me restaurar. Lembrava-me da figura do “bom pastor” que para endireitar o caminho da ovelha muitas vezes precisava quebrar-lhe as pernas.
Outro propósito de Deus no sofrimento vemos no discurso de Eliú, quando acusa Jó da soberba. É verdade que Jó não havia pecado para merecer o sofrimento, mas ao defender sua justiça acabou se excedendo, e sem querer, abriu espaço para a soberba. Não podemos condenar Jó por isso, afinal de contas, se já não bastasse estar sofrendo, ainda teve que aguentar acusações maldosas dos seus três amigos. E no afã de se defender das mentiras que proferiam contra ele acabou se excedendo. A dor faz isto. Mas para que não abra espaço para o orgulho pessoal, o sofrimento nos impõe o abatimento da alma e a dependência do nosso Deus. Sim, no sofrimento Deus nos ensina o caminho e a beleza da humildade; a singeleza do esvaziamento da altivez, e nos faz orar como Davi:
“SENHOR, não é soberbo o meu coração,
nem altivo o meu olhar;
não ando à procura de grandes cousas,
nem de cousas maravilhosas demais para mim.
Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma;
Como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,
Como essa criança é a minha alma para comigo.

Através do sofrimento Deus tem como propósito, também, ensinar-nos a confiar plenamente nele, à despeito do que passemos ou vivamos. Este é o teste da fé. O que queremos do Senhor? Ele ou as bênçãos que dele provém? Quando somos expostos ao sofrimento Deus revela os nossos corações, nos faz ver quem somos e as motivações da nossa piedade. Um dia o promotor da corte celeste disse ao Senhor: “Jó só te é fiel porque tu o tens protegido; tira a proteção, deixa-lhe a mercê da sorte e vê se te é fiel”. A fé precisa ser provada para que se manifeste na história e produza evidências da sua veracidade, da sua autenticidade. A sorte de Jó foi mudada; a cerca de proteção foi retirada, e o seu mundo ruiu. Ele sofreu pressões de sua mulher para apostatar; seus amigos lhe impuseram revolta com injúrias; seu coração até se ensoberbeceu, mas não deixou de amar o seu Deus, não deixou de lhe ser fiel, não deixou a integridade de sua fé.
Os planos de Deus estavam em execução, e todos eles apontavam para o Deus soberano que tudo conduz para a sua própria glória e bem dos que o amam. É por isso que o apóstolo Paulo enfatiza: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8.28). Deus não age arbitrariamente, tresloucadamente. Ainda que não saibamos o por que de certas coisas, de certas situações, com certeza ele está conduzindo esta história para um fim proveitoso se soubermos confiar na sua soberania.
Mas na frase “nenhum dos teus planos pode ser frustrado”, aprendemos que os planos de Deus não podem ser “frustrados”, ou seja, eles cumprirão o seu propósito, não podendo ser interrompidos por ninguém, nem mesmo pelo diabo e seus anjos.
Ora, se os planos de Deus não podem ser frustrados, não adianta nos desesperarmos nas adversidades, pois elas cumprirão o tempo que têm que cumprir. Na condução da história Deus levará à cabo tudo o que começou, e após cncluído contemplará as obras de suas mãos em nós. Assim, no sofrimento, vale à pena esperar o desfecho da história. Como diria um ditado: “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Os que querem antecipar o final acabam se perdendo, e muitos acabam por descobrir a morte.
Se os planos de Deus não podem ser frustrados, é importante saber ler o que está acontecendo, na certeza que muitas coisas Deus tem a nos ensinar, e em todas as coisas nos dirigindo para ele mesmo. É esta a lição final que Jó aprende (v.3,4): o seu Deus é aquele que se preocupa em se revelar a nós no sofrimento para que gozemos de uma experiência mais profunda de comunhão com ele; comunhão que transcende o que temos.
Se não temos aprendido de Deus no sofrimento as ricas lições que ele tem a nos ensinar, então somos convidados, com Jó, a nos arrependermos de nossa soberba, ou quem sabe pecados (se este for o seu caso), e nos humilharmos no pó e na cinza, reconhecendo que nada somos para merecer alguma coisa boa de Deus, e que Ele é justo em todas as suas obras.
Que o Senhor se compadeça de nós e se revele a nós em nossos sofrimentos levando-nos a conhecê-Lo como de fato ele é, a fim de não sermos destruídos em nossa própria confiança e autojustiça. Amém.