quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS: Entendendo a Diversidade dos Dons

1. Quantidade e Descrição
Quantos e quais são os dons espirituais? Esta é uma questão também difícil de responder. Tal como encontramos no Novo Testamento, uma lista dos carismas seria:

Romanos 12:6-8
Profecia
Ministério (Serviço)
Ensino
Exortação
Contribuição
Liderança
Uso de misericórdia

1 Coríntios 12:29-30
Apóstolos
Profecia
Ensino
Milagres
Cura
Línguas
Interpretação de línguas

1 Coríntios 12:8-10
Palavra de sabedoria
Palavra de conhecimento

Cura
Milagres
Profecia
Discernimento de espíritos
Tipos de línguas
Interpretação de línguas

Efésios 4:11
Apóstolos
Profetas
Evangelistas
Pastor-Mestre

1 Coríntios 12:28
Apóstolos
Profetas
Mestres
Milagres
Curas
Socorro
Governo
Variedades de línguas

Diante disto, pelo menos três vertentes da discussão se apresentam:
a. Os que defendem que os dons estão limitados ao número de nove, tal como se apresentam em 1 Co 12.1-8, sendo os demais mencionados no Novo Testamento apenas variações destes dons.
b. Os que defendem uma lista mais ampla de dons, no mínimo 20, porém restrita a indicação do Novo Testamento.
c. Os que defendem a multiplicidade e dinamismo dos dons, sendo a s listas do Novo Testamento apenas um indicativo deste aspecto e exemplo de manifestações carismáticas na Igreja.
O que dizer diante disto?
a. Que a interpretação que limita os dons a 9 (nove), apenas, é reducionista demais e não faz jus às indicações do Novo Testamento quando tenta resumir todos os outros apenas neste círculo limitado.
b. Que de fato o Novo Testamento faz menção à pelo menos 21 dons, todavia, em momento algum se estabelece uma lista fixa, como se pode ver nas variações epistolares sobre o assunto, o que indicaria não existir uma lista imutável.
c. Que a fixação de uma lista imutável não faz jus ao conceito dos dons como sendo manifestações do Espírito na Igreja de Cristo segundo as necessidades desta, pois as necessidades são diferentes de comunidade para comunidade.
Assim, melhor será pensarmos nos dons dentro de uma visão mais ampla, como que aberto a possibilidades de novas manifestações reais e dinâmicas do Espírito no corpo de Cristo. Todavia, nenhum dom será resultado do nada ou do acaso, mas terá seu referencial confirmado nas Escrituras, derivado de algum carisma legítimo, reconhecido pelo próprio Espírito em sua Palavra. Exemplo disto é o dom missionário, que apesar de não configurar na lista de dons do Novo Testamento, deriva do apostolado sua função, não sendo, porém, dom apostólico.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A CABANA - Uma avaliação crítica

Amados irmãos e irmãs, a paz de Cristo. No ano passado tive o privilégio de ler o livro "A Cabana". Sua leitura foi muito agradável, ainda que dolorosa devido ao tema tratado no livro. Mesmo assim, gostei de muitas reflexões apresentadas no livro. Porém, havia problemas teológicos. Não sou do tipo que diz, "não leia"; creio que o exercício para a maturidade nos ensina a ler de tudo e avaliarmos com sabedoria de Deus, por meio da Sua Santa Palavra, aquilo que lemos, vemos ou ouvimos. Por isso, no meu blog indiquei como leitura. Mas pessoas tem me questionado sobre os problemas teológicos do livro. tenho tido a oportunidade de explicar para muitos. Porém, hoje, vendo o vídeo abaixo do pastor Mark Driscoll, vi um resumo das críticas que julgo pertinentes. Assim, te convido a assistir. Abraço. Pr. Airton Williams

sábado, 23 de janeiro de 2010

Judas Iscariotes e o Novo Testamento

O Curso de "Paleocristianismo", ministrado pelo Prof. Denes Izidro, versará no próximo encontro sobre JUDAS ISCARIOTES NO CRISTIANISMO PRIMITIVO: DO NOVO TESTAMENTO AO EVANGELHO DE JUDAS.
Quem foi Judas?Judas realmente traiu Jesus? Porque Judas traiu Jesus?
Como Judas era visto na tradição cristã primitiva?
O que dizem as fontes?O que diz o Evangelho de Judas, recentemente publicado?
LOCAL: Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares, QNA 36, Casa 16, Tag. Norte - Próximo do shopping Top Mall.
DATA: 30.01.2010
HORÁRIO: 9:00 - 13:00.
VALOR: R$ 50,00 (cinquenta reais).
Maiores Informações: 8595 7673 (oi) ou 8198 1854 (tim), Pr. Airton Williams

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS - Princípios Regentes - a contemporaneidade dos Dons

Amados irmãos e irmãs, visando esclarecer melhor a questão da contemporaneidade dos dons, esboçada no artigo anterior, decidi postar o artigo do Dr. Phillip Johnson. Tenha uma ótima leitura.

Você provavelmente é um cessacionista, também
por
Phillip Johnson
Se você crê que algum dos dons espirituais miraculosos foram operantes somente na era apostólica, e que alguns ou todos aqueles dons cessaram gradualmente antes do final do primeiro século, então você é um cessacionista.
Se você crê que todos os dons espirituais descritos no Novo Testamento têm continuado com toda a sua intensidade, sem mudança ou alteração desde o derramamento inicial de línguas em Pentecoste, então você é um continuísta.
É muito difícil encontrar um continuísta real. Não-cessacionistas absolutos existem somente no segmento bizarro do movimento carismático. Eles são o tipo de pessoas que gostam de declarar outras como sendo “apóstolos”, reivindicando (e inevitavelmente abusando de) todas as prerrogativas apostólicas, algumas vezes inventando histórias fantásticas sobre pessoas ressuscitando dentre os mortos, torcendo e corrompendo virtualmente quase toda categoria de doutrina relacionada ao evangelho, à expiação, ou ao discipulado e auto-negação cristã.
Mas os carismáticos evangélicos (especialmente a variedade Reformada) não crêem realmente que haja apóstolos hoje que tenham a mesma autoridade que os Apóstolos na igreja primitiva. Alguns podem usar o termo apóstolo, mas eles invariavelmente insistem que o apostolado que eles reconhecem hoje é um tipo de apostolado inferior ao ofício e dom que pertenceram aos apóstolos no primeiro século.
Agora, considere as implicações dessa posição: ao argumentar a favor de um tipo de apostolado inferior, eles estão realmente concordando que o dom de apostolado autêntico e original do Novo Testamento (Efésios 4:11) cessou. Eles mesmo têm, de fato, abraçado um tipo de cessacionismo.
Nota: Não há uma garantia bíblica maior ou menor para essa visão do que para qualquer outro tipo de cessacionismo.
Apesar de tudo, todo verdadeiro evangélico sustenta alguma forma de cessacionismo. Todos nós cremos que o cânon da Escritura está fechado, correto? Nós não cremos que devemos procurar adicionar novos materiais inspirados ao cânon do Novo Testamento. Nós sustentamos a fé que foi de uma vez por todos entregue aos santos (Judas 3) – entregue na pessoa de Cristo, através do ensino dos seus apóstolos, e escrituralizada no Novo Testamento. Cremos que a Escritura, como a temos, está completa. E aqueles que não crêem que ela está, não são realmente evangélicos. Eles são hereges e falsos mestres, que querem adicionar algo à Palavra de Deus.
Mas note isso: se você reconhece que o cânon está fechado e que o dom de apostolado cessou, você já concordou com o cerne do argumento cessacionista.
De qualquer forma, isso não é tudo. A maioria dos “carismáticos reformados” famosos vão mais adiante ainda. Eles livremente admitem que todos os dons carismáticos em operação hoje são de uma qualidade inferior àqueles dons sobre os quais lemos no Novo Testamento.
Por exemplo, no livro o The Gift of Prophecy in the New Testament and Today (O Dom da Profecia no Novo Testamento e Hoje) de Wayne Grudem – provavelmente a obra mais importante e influente escrita para defender a profecia moderna (Nota do tradutor: Publicado no Brasil pela Editora Vida) – Grudem escreve que “nenhum carismático responsável sustenta” a visão de que a profecia hoje é a revelação infalível e inerrante de Deus (p. 111). Ele diz que os carismáticos estão argumentando a favor de um “tipo inferior de profecia” (112), que não é do mesmo nível que as profecias inspiradas dos profetas do Antigo Testamento ou dos apóstolos do Novo Testamento – e que podem até mesmo ser (e mui frequentemente são ) falíveis.
Grudem escreve,
há quase um testemunho uniforme a partir de todas as seções do movimento carismático de que a profecia [de hoje] é impura, e contém elementos que não devem ser obedecidos ou confiados.
Jack Deere, ex-professor do Seminário de Dallas, que se tornou um advogado do movimento carismático, admite da mesma forma em seu livro Surprised by the Power of the Holy Spirit (Surpreendido pelo Poder do Espírito Santo), que ele não tem visto ninguém hoje realizando milagres ou possuindo dons da mesma qualidade que os sinais e maravilhas da era apostólica. De fato, Deere argumenta veementemente por todo o seu livro que os carismáticos modernos nem mesmo reivindicam ter dons de qualidade apostólica e capacidades de operar milagres. Uma das principais linhas de defesa de Deere contra os críticos do movimento carismático é sua insistência que os dons carismáticos modernos são realmente inferiores àqueles disponíveis na era apostólica, e, portanto, ele sugere, eles não devem ser sustentados como padrões apostólicos.
Novamente, considere as implicações dessa reivindicação: Deere e Grudem têm, com efeito, concordado com todo o argumento cessacionista. Eles têm admitido que eles mesmo são um tipo diferente de cessacionistas. Eles crêem que os verdadeiros dons apostólicos e milagres cessaram, e eles estão admitindo que o que eles estão reivindicando hoje não é o mesmo charismata descrito no Novo Testamento.
Em outras palavras, os carismáticos modernos já têm adotado uma posição cessacionista. Quando pressionados sobre o assunto, todos os carismáticos honestos são forçados a admitir que os “dons” que eles recebem hoje são de qualidade inferior àqueles da era apostólica.
Aqueles que falam em línguas hoje não falam em dialetos inteligíveis ou traduzíveis, da forma como os apóstolos e seus seguidores fizeram em Pentecoste. Os carismáticos que ministram em campos missionários estrangeiros não são tipicamente capazes de pregar o evangelho miraculosamente nas línguas dos seus ouvintes. Os missionários carismáticos têm que entrar na escola de idioma como qualquer outra pessoa.
Se todos os lados já reconhecem que não há operadores modernos de sinais e maravilhas que possam realmente duplicar o poder apostólico, então não temos nenhum argumento real sobre o princípio do cessacionismo, e, portanto, todas as demandas histéricas para o suporte bíblico e exegético para o cessacionismo são supérfluas. O ponto real de nossa discordância se reduz somente a uma questão de grau.
Num livro muito útil, Satisfied by the Promise of the Spirit (Satisfeito pela Promessa do Espírito), Thomas Edgar escreve,
O movimento carismático ganhou credibilidade e aceitação inicial ao reivindicar que seus dons eram os mesmos daqueles de Atos. Para a maioria este é o porquê eles são confiáveis hoje. Todavia, agora, umas das suas defesas primárias é a reivindicação de que [os dons] não são os mesmos [que aqueles no Novo Testamento]. Confrontados com os fatos, eles têm tido que revogar a própria fundação da sua razão original de existência. (p. 32)
Quanto aos argumentos bíblicos, na própria Escritura, há ampla evidência de que os milagres eram eventos extraordinários e raros, usualmente associados de alguma forma significante com as pessoas que pronunciavam discursos inspirados e infalíveis. É óbvio a partir da narrativa bíblica que os milagres foram declinando na freqüência mesmo antes da era apostólica aproximar-se do fim. A Escritura diz que os milagres foram sinais apostólicos (2 Coríntios 12:12), e, portanto, por definição, eles pertenceram especificamente e unicamente à era apostólica.
________________________________________
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 18 de Janeiro de 2006.

Este artigo é parte integrante do portal http://www.monergismo.com/. Exerça seu Cristianismo: se vai usar nosso material, cite o autor, o tradutor (quando for o caso), a editora (quando for o caso) e o nosso endereço. Contudo, ao invés de copiar o artigo, preferimos que seja feito apenas um link para o mesmo, exceto quando em circulações via e-mail.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS: Princípios Regentes sobre os Dons Espirituais - continuação

3. Dons e Propósitos
A que servem exatamente os dons? Cremos já ter dado algumas dicas acima, todavia, é hora de explicitarmos a questão. No texto de 1 Co 12.4-6 o apóstolo Paulo designa os carismas com três adjetivos diferentes os quais lhe atribuem propósitos. É importante frisar que tais adjetivos não se referem à classificação dos dons, mas aos propósitos que cumprem:
a. diakoniw/n, diaconion, diaconia (v.4). Como temos dito, os dons tem como propósito principal o serviço ao Corpo de Cristo. Através dos dons que o Espírito nos outorga temos a oportunidade de ajudar a comunidade de fé em Jesus a crescer, se desenvolver e aperfeiçoar, preservando a unidade. Os carismas devem criar “liga” na igreja, e não divisões.
b. evnerghma,twn, energemáton (v.5). Esta palavra grega refere-se a energia, força. Os dons servem ao propósito de energizar, ou dar força, à Igreja no cumprimento de sua missão. Por isso são entendidos como capacitações especiais do Espírito.
c. fane,rwsij, fanerosis (v.6). Por fim, os dons têm a finalidade de “manifestar”, ou “fazer visível” o serviço prestado na comunidade na vida um do outro. Ou seja, eles têm por finalidade se manifestar na vida do outro, à serviço do outro.

4. Dons e Hierarquização
Considerando a diversidade dos dons por causa das necessidades do Corpo de Cristo, podemos dizer que todos os dons são importantes, não havendo entre eles nenhum que seja insignificante. Todos são úteis e proveitosos.
Todavia, tomando como referência a abrangência, existem dons mais importantes e menos importantes. Daí a razão do apóstolo Paulo insistir na necessidade de mostrar interesse em torno dos “melhores dons”. No final do cap. 12, vv.27-31, ele estabelece uma ordem hierárquica quanto aos carismas. É interessante observar que:
a. A lista não está completa, sendo tomado apenas alguns exemplos dentro da ordem que se estabelece.
b. A prioridade apontada se volta para os dons de maior abrangência (o corpo como um todo), na comunidade, indo depois para aqueles que atendem parte do corpo, até chegar naqueles que são individuais.
c. Dentro desta organização hierárquica o dom de línguas é o último, por sua pequena abrangência de serviço.
d. Apesar da hierarquização funcional, todos os dons são importantes para a Igreja de Cristo Jesus, não devendo nenhum ser desprezado.

5. Dons e Contemporaneidade
Este é um dos pontos mais difíceis ao tratarmos sobre os dons. Pelo menos duas escolas postulam conceitos diferentes e divergentes.
a. Cessacionista: crê que alguns dons espirituais miraculosos foram operantes somente na era apostólica, e que alguns ou todos aqueles dons cessaram gradualmente antes do final do primeiro século.
b. Continuista: crê que todos os dons espirituais descritos no Novo Testamento têm continuado com toda a sua intensidade, sem mudança ou alteração desde o derramamento inicial de línguas em Pentecoste.
Esta não é uma questão fácil de resolver, pois muitos elementos bíblico-teológicos e históricos estão em jogo; além de muitos dogmas e experiências pessoais. No entanto, alguns princípios devem nos orientar neste problema:
a. Nenhum tipo de experiência deve nortear a verdade sobre este assunto, pois toda verdade procede da revelação única e exclusiva da Palavra de Deus.
b. É difícil falarmos de um cessacionismo absoluto, uma vez que as Escrituras não o afirma nem deixa claro e evidente que todos os dons extraordinários teriam cessado (e.g. o falar em línguas).
c. É óbvio nas Escrituras que alguns dons cessaram na era apostólica, como o próprio apostolado, por se tratar de um grupo restrito à Jesus e que tinham por responsabilidade fundamentar a Igreja em todo o ensino de fé e prática. Assim, não é possível abraçar também um continuísmo absoluto.
d. É preciso lembrar que os dons visavam o serviço, a edificação e aperfeiçoamento do Corpo de Cristo, atendendo necessidades diferentes e diferentes épocas. Por isso, é impossível falar de dons que se tornaram universais e atemporais. Na verdade, dependendo de contextos específicos, tais dons só serviram à uma determinada época e geração (caso do apostolado).
e. Mesmo os dons supranaturais que podemos encontrar tanto na era apostólica quanto na nossa não são da mesma essência e caráter. Os dons de curar, milagres, profecias, etc., em nossos dias são diferentes daqueles que encontramos nas Escrituras em suas particularidades. O que indica que houve uma forma cessacionista quanto ao que lemos no Novo Testamento.
Diante disto, e tendo como referência os postulados das escolas supra citadas, o cessacionismo moderado é o que melhor faz justiça à revelação da Palavra de Deus.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS - Princípios Regentes Sobre os Dons Espirituais

Uma vez estabelecida a natureza dos dons espirituais é necessário articular alguns princípios bíblicos sobre seus propósitos, manifestações e usos no Corpo de Cristo. Para tanto, tomaremos o texto de 1 Coríntios 12, uma vez que o mesmo foi escrito visando nortear tais princípios numa comunidade que havia experimentado à exaustão as manifestações do Espírito e mesmo assim havia se tornado infantil nos seus procedimentos.

1. Dons e Espiritualidade
O apóstolo Paulo inicia esta perícope, ou seção, da Carta com uma advertência muito séria: a manifestação de dons não se confunde com a espiritualidade de alguém. Por isso, é necessário discernir sobre a vida daqueles que se dizem ou julgam espirituais simplesmente porque possuem um determinado carisma.
Na verdade, o apóstolo apenas retoma algo que já havia chamado atenção no início da carta. No cap. 1.7 ele afirma categoricamente que tal comunidade havia recebido todos os dons (grego w[ste u`ma/j mh. u`sterei/sqai evn mhdeni. cari,smati, “de maneira que não vos falta nenhum dom...”), e por isso dava graças a Deus. Todavia, a partir daí surge o surpreendente, tal comunidade cheia de carismas estava dividida, fraccionada (1.10) em contendas teológicas por uma má compreensão da verdade da cruz de Cristo. Por causa de tais divisões são chamados por Paulo de “carnais”, crentes sem maturidade, infantis (cap 3).
Percebe-se neste contexto que os dons em nada estavam servindo para espiritualidade da comunidade, algo que manifestasse a graça de Deus ao seu povo e ao mundo. Por isso, quando trata especificamente do assunto dos dons, que tem início no cap. 12, o apóstolo começa chamando a atenção para este problema: ter dons não implica em ser espiritual. Daí aprendemos:
a. Que manifestações visíveis dos dons espirituais podem ser vistas em pessoas que jamais conheceram a Cristo. Os “espirituais” (pneumatikw/n) de Corinto tinham dons, mas desconheciam a fé em Cristo, daí porque o apóstolo exorta para que se discirna bem quem são estas pessoas. O fato contundente se algo procede de Deus é a exaltação de Cristo. Um falso “espiritual” não confessa Cristo nem o exalta, mas busca a sua glória pessoal.
Este ponto deve nos fazer lembrar daquilo que Jesus disse em Mt 7.21-23:
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.

Observemos nestas palavras alguns aspectos interessantes: 1.falsa confissão em Jesus; 2. manifestações de dons espirituais; 3. condenação porque continuavam escravos do pecado.
Ter dons espirituais não implica ser salvo. Todo filho de Deus, redimido por Cristo Jesus, tem dons espirituais, mas Deus pode conceder dons a ímpios ou a quem quer que seja para executar sua vontade (e.g. a mula de Balaão, Números 22.21-41).

b. Que os dons espirituais não implicam em espiritualidade na vida do filho de Deus. Como vimos no contexto de 1 Coríntios, aquela comunidade possuía todas as manifestações visíveis dos carismas do Espírito e no entanto eram infantis, não haviam progredido espiritualmente. Isto porque, os dons têm como propósito o serviço, sendo capacitação especial de Deus para o mesmo. Os dons geram habilidades especiais de Deus em nós, não o caráter dele em nossas vidas.

2. Dons e Espírito Santo
Um conceito predominante em nossa geração quando falamos de espiritualidade é o do antropocentrismo, ou seja, o homem é o centro de todas as coisas. Assim, a vida de fé, o culto e todas as suas manifestações passam a ser vistas e planejadas a partir da perspectiva do bem-estar do ser humano. Por isso, muitos cultos e atividades nas igrejas viram mero entretenimento. É comum se argumentar que a igreja deve oferecer tudo que for possível para segurar as pessoas, principalmente os jovens, na comunidade. Com isto, vemos a cada dia um povo carregado de pecados, divisões e brigas por poder.
O conceito antropocêntrico deixa suas marcas também na questão dos dons, uma vez que ouvimos o ensino de que somos nós que escolhemos os dons que queremos, e somos até estimulados a querermos os “melhores” dons.
Este conceito antropocêntrico fere frontalmente o claro ensino das Escrituras sobre o papel do Espírito Santo na administração e concessão dos carismas na vida igreja. O texto de 1 Co 12 estabelece, pelo menos, duas verdades imutáveis sobre o assunto:
a. O Espírito Santo é a origem e a razão da pluralidade dos dons. Os vv. 3-6 concatena a origem dos dons à fórmula trinitária: o Espírito, o Senhor (Jesus), o mesmo Deus (pai). Todavia, apesar dos dons terem sua origem na santíssima trindade, segundo a economia trinitária (distribuição de tarefas), cabe ao Espírito Santo manifestar os dons na vida do povo de Deus. Por isso se diz: “Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas...” (v.11). A implicação direta disto é que os dons não tem sua origem na nossa piedade, nem em nossa fé, mas na manifestação soberana do Espírito Santo. E é exatamente por causa desta soberania que o Espírito distribui os dons a partir das necessidades da Igreja de Cristo, tornando os dons múltiplos, variados.
b. O Espírito Santo distribui os dons como lhe apraz (bou,letai). Ou seja, a distribuição dos dons segue estritamente a vontade do Espírito Santo e não a do homem. Todavia, no contexto de 1 Co 12 é possível perceber alguns critérios utilizados pelo Espírito ao repartir os carismas na Igreja:
• A distribuição não faz acepção de pessoas.
• A distribuição é feita visando um fim proveitoso.
A confusão em torno deste tópico ocorre devido a tradução um tanto infeliz da palavra grega zhlou/te, dzeloute, em 12.31 e 14.1, que em nossas Bíblias aparece como “procurai”, dando a idéia de que podemos escolher os dons que queremos. Todavia, o sentido exato da palavra é “mostrem grande interesse em...” O apóstolo estava advertindo a comunidade a discernir os dons que melhor serviam à comunidade, em vez de se deixarem levar pelos dons supranaturais.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS - A Natureza dos Dons - continuação

3. Definindo a Natureza dos Dons Espirituais
Como vimos, os dons espirituais são resultados direto dos propósitos salvíficos de Deus desde o Antigo Testamento, não sendo uma espécie de manifestação nova no Novo Testamento, mas apenas cumprimento de profecias veterotestamentárias.
A palavra grega de onde deriva o termo “dons” é carisma,twn, “charismáton”, referindo-se a “dons da graça de Deus”, e que portanto, não é resultado do nosso merecimento, nem alguma forma de recompensa por nosso esforço na fé.
Precisamos ainda lembrar que se diz nas Escrituras que são “dons espirituais”, ou seja, controlados pelo Espírito Santo.
Estabelecido estas coisas, temos condições, agora, de definirmos os dons espirituais como sendo a capacitação variada e diversificada dada por Deus ao seu povo, por meio da ação e administração soberana do seu Espírito, a fim de promover a sua glória no mundo, revelando e executando sua vontade, e a unidade e aperfeiçoamento do Corpo de Cristo no serviço prestado ao seu Deus. “Um dom espiritual, então, é mais do que uma possessão, é um canal através do qual o Espírito Santo ministra para Sua igreja. Isto significa que Ele escolheu edificar a Igreja.” (Fred G. Zaspel, Dons Espirituais, in: http://www.monergismo.com/textos/dons_espirituais/dons1_zaspel.htm).

4. Distinções Necessárias
A seguir transcrevemos parte do texto de Zaspel (http://www.monergismo.com/textos/dons_espirituais/dons1_zaspel.htm) sobre algumas distinções necessárias na definição da natureza dos dons espirituais a fim de se evitar confusões e uma teologia distorcida.
Dons e Dom
Nessa conjuntura, algumas distinções são apropriadas. Os dons do Espírito não são iguais ao dom do Espírito. Em Atos 2:38 Pedro diz para aqueles que inquiriram sobre a salvação, “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. O “dom” (singular) do Espírito é simplesmente o próprio Espírito Santo. O próprio Espírito Santo era o Dom prometido para todos aqueles que cressem em Jesus. Jesus falou disto em diversas ocasiões. João 7:38-39 registra uma dessas. Jesus disse, “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva”. Então João adiciona o comentário interpretativo, “Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”. João 14:15-18,26; 15:26; e 16:7 também fala do mesmo Dom prometido, como o faz Atos 1:4-5. Como desenvolveremos mais tarde, o Espírito Santo é o Dom de Cristo para Sua igreja, e isto é fundamental para o recebimento dos dons (plural) do Espírito: quando O recebemos, então, recebemos também o que Ele dá; isto é, os dons espirituais. Por exemplo, desde que eu me casei com minha esposa, tenho comicamente lhe dito várias vezes, “o que é seu é meu, e o que é meu é seu!”. Isto pode ser um pouco unilateral, mas você vê o princípio — quando eu a recebi, eu também recebi o que era dela. Tudo o que era dela se tornou meu também quando nos tornamos unidos em matrimônio. E o mesmo é verdadeiro para ela. Da mesma forma, quando eu recebo o bendito Espírito de Deus, eu O recebo em tudo o que Ele tem para oferecer. Entre os maravilhosos ministérios do Espírito na vida do crente está o ministério de dotar para o serviço. Isto nós recebemos quando O recebemos.
Talvez seja útil parar aqui e explicar outro ponto neste versículo (Atos 2:38). Quando Pedro disse “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado para remissão de vossos pecados” ele não estava ensinando que o batismo é uma condição para a salvação. A preposição grega traduzida “para” neste verso (eis) carrega a idéia de “por causa de”. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado por causa da remissão de vossos pecados”. É como aqueles pôsteres na estação policial, “homem procurado ‘por' roubo” — eles não estão solicitando voluntários! Eles estão declarando que alguém é procurado “por causa de” seu crime já cometido; ele não é procurado para cometê-lo! O mesmo é verdade aqui; nós somos batizados em obediência a Cristo, por causa do perdão de nossos pecados e não para ganhar tal perdão.
Dons e Fruto
Nem devemos confundir os dons do Espírito com o fruto do Espírito. Os dons são serviços para serem prestados aos outros; “fruto” fala das graças ou traços característicos de uma pessoa habitada pelo Espírito Santo. Quando o Espírito de Deus toma residência num homem, Ele não somente o capacita para servir, mas também começa a cultivar a santidade, a evidência de que é um solo profundo, o “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5:22-23). Tanto o fruto como os dons são essenciais. Ambos são manifestações da habitação do Espírito. Mas os dois não são a mesma coisa.
Dons e Talentos
Finalmente, uma palavra sobre talentos. Qual a diferença entre um dom e um talento? É freqüentemente dito que nós nascemos com certos talentos, habilidades naturais, mas quando nascemos de novo é nos dado dons espirituais — talentos sendo naturais e dons sendo sobrenaturais. É interessante que tal brilhante distinção nunca é descrita nas Escrituras. Ela é freqüentemente inferida ou apenas presumida, hoje, mas nunca declarada dessa forma nas Escrituras. E com todos os fatos examinados, parece que esta distinção é inútil e difícil, se não impossível, de se demonstrar.
Deixe-me explicar. Gálatas 1:15-16, por exemplo, declara, efetivamente, que Paulo foi dotado para pregar desde antes o seu nascimento. Mas este dom, obviamente, não foi exercitado até muitos anos depois. Certamente, ele, sem dúvida, pregava e ensinava antes de crer, mas tal pregação ou ensino recebeu inteiramente uma nova dimensão quando ele foi salvo. Ele tinha o dom (talento) desde o começo; ele se tornou “espiritual” quando ele se tornou espiritual. (Um homem “espiritual” é um cristão. Esta é a terminologia de Paulo em 1 Coríntios 2:14-15). Seus dons (os quais, sem dúvida, foram soberanamente dados também) “naturais” se tornaram espirituais simplesmente porque ele mesmo se tornou espiritual. Ou olhe isto de uma outra forma: qual é a diferença entre o que o seu professor de Escola Dominical faz para você todas as manhãs de Domingo e o que seu professor da faculdade lhe faz? A diferença é óbvia: o ensino do seu professor de Escola Dominical, ou do seu pastor — embora o mesmo talento, dom, possa ser usado numa sala de aula secular — tem uma dimensão totalmente diferente. Este ensino é espiritual e ministra para a igreja. O talento é o mesmo, mas recebeu uma nova dimensão e uma nova capacidade — uma capacidade para as coisas espirituais. Muitos professores se tornaram “espirituais” e assim ganharam a capacidade para ministrar para a igreja com o mesmo talento, o mesmo dom, que ele tinha desde o começo. Este talento simplesmente se tornou aprimorado em sua capacidade de servir à igreja eficazmente. Tornou-se espiritual. Assim o contraste não é absoluto; nem há distinções necessárias. Deus sabiamente e providencialmente equipa no nascimento; a dimensão espiritual é adicionada no novo nascimento, mas o talento em si mesmo é basicamente o mesmo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS - A Natureza dos Dons

I. A NATUREZA DOS DONS

E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. (Ef 4.7,8).

Via de regra, todo estudo acerca dos dons espirituais parte da sua realidade manifesta à Igreja no Novo Testamento. Todavia, tais manifestações se projetam no todo da revelação da Escritura e devem ser observadas a partir da relação direta com a História da Salvação, criação, queda e redenção. Os dons não surgem do nada, como novidade no Novo Testamento, são, antes, manifestações conhecidas desde o Antigo Testamento, na sua maioria. A diferença reside na frequência operacional deste na vida da comunidade de fé. Enquanto no Antigo Testamento se presenciavam manifestações esporádicas, no Novo Testamento constituem a base de dinamismo, serviço e unidade dentro do Reino de Deus.
Outra diferença importante é que no Antigo Testamento os dons estavam restritos à algumas pessoas, escolhidas de forma especial para o exercício de algo pretendido pelo Senhor Deus. Já no Novo Testamento, estes dons são revelados e entregues a todos na comunidade de fé em Cristo Jesus.
O texto de Ef 4.7,8 nos ajuda a perceber estas mudanças. Diz primeiro que a graça (charis) foi concedida “a cada um de nós”. Esta graça se refere à obra salvífica manifesta aos redimidos, totalmente baseada no dom (doreas) de Cristo; ou seja, na sua obra redentiva efetuada na cruz do Calvário.
A partir deste ponto surge aquilo que é surpreendente: os dons (dómata) são entregues aos homens, pois “ao subir” (ascensão), “levou cativo o cativeiro”. Esta expressão é encontrada no Sl 68.18 referindo-se aos despojos de uma batalha. O apóstolo Paulo toma esta cena para fundamentar a teologia dos dons que deve estar presente em nossa compreensão: os dons foram dados à igreja a partir do saque que Cristo fez ao pecado derrotando seus aliados: o mundo, o diabo e a carne (2.1-3). Enquanto mortos nos delitos e pecados, os homens não podiam experimentar o dinamismo da vida espiritual; ressuscitados, recebem dons para amadurecerem e servirem ao seu Deus e o próximo dentro do Reino, resgatando propósitos anunciados desde a criação.
1. Dons e Criação
“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Assim começa a descrição da criação. De um cosmo imenso o Criador toma a “terra” como alvo de um projeto, e apesar de ser “sem forma e vazia”, Ele a organiza (vv.3-19) e passa a povoá-la (vv. 20-26). Tendo feito tudo isto, concebe o ser humano como a expressão máxima de sua obra cobrindo-lhe de glória e honra (Sl 8.5), fazendo-o “à sua imagem e semelhança”. Isto faz recair sobre o ser humano três mandatos específicos para os quais havia sido criado:
a. Mandato Cultural, “tenha ele domínio sobre...” (1.26) e “sujeitai-a; dominai...” (1.28b). Este mandato colocava sobre o homem a responsabilidade pelos rumos da criação, os cuidados e gerenciamento daquilo que havia sido criado por Deus.
b. Mandato Social, “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra...” (1.28a). Implicava em dar à sociedade as marcas de Deus através da descendência santa. Os homens refletiriam a glória de Deus no mundo, nas suas formas organizacionais e relacionais.
c. Mandato Espiritual, “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (2.16,17). Com este mandato Deus pactuava com o homem estabelecendo a obediência à sua voz como chave de regência da vida e dos mandatos anteriores. O mundo deveria refletir a direção e vontade do seu Criador através dos seres humanos.
Porque fomos feitos “à imagem e semelhança de Deus”, havia em nós todos os dons necessários para executarmos aquilo que nos havia sido confiado. Estes dons eram inerentes, portanto, não havia distinção entre o que é espiritual e natural. A relação do ser humano com Deus fazia com que tudo fosse espiritual e natural. Espiritual porque havia sido conferido por Deus, e “Deus é espírito” (Jo 4.24), e natural porque era próprio do ser humano a capacidade para realizar a vontade de Deus.
Mas com a entrada do pecado no mundo, tudo foi alterado. Resumidamente podemos dizer que o pecado quebrou:
a. A comunhão com Deus, pois o homem passou a esconder-se do seu Criador (3.8), a temê-lo (3.10) e a acusá-lo do seu próprio pecado (“a mulher que (tu) me deste...”, 3.12). Como consequência, passamos a experimentar a morte, tanto no plano espiritual, quanto no plano físico.
b. A comunhão com seu próximo, pois o próximo se torna um estranho, um diferente (“a mulher que...”, 3.12) e responsável pelo meu erro (“...ela me deu...”, 3.12). Pode-se ver este problema ainda na relação Caim e Abel no cap.4.8-16. Como resultado disto, temos a inimizade, o ódio entre as pessoas, fruto do egoísmo pessoal de cada um.
c. A comunhão com a criação, pois a natureza foi amaldiçoada por causa do homem (“maldita é a terra por tua causa...”, 3.17a), e se tornou para ele uma tarefa árdua, pesarosa (“em fadiga obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”, 3.17b).
Cumprir os mandatos culturais e sociais se tornou uma tarefa difícil, pesarosa e, até mesmo, dolorosa. Conviver com a morte, a dor e o sofrimento se tornou algo comum para o ser humano. Mas mesmo assim, com toda dificuldade, estes mandatos ainda podiam ser executados, e sobre estes, diretamente, todos nós seremos cobrados e julgados no dia do juízo. Mas o mandato espiritual se tornou impossível ao homem, pois estava morto “nos seus delitos e pecados”. Em Caim vemos o abandono total dos mandatos e a ascensão de uma descendência de oposição direta a Deus.
Diante disto, Deus separa uma descendência que lhe pertenceria e levaria à cabo seu plano salvífico. Esta descendência toma forma a partir de Sete, filho de Adão, dando início à caminhada messiânica prometida em Gn 3.15. E é nesta descendência que se manifestam os dons do Espírito no Antigo Testamento, a fim de capacitá-los a realizar o mandato espiritual até que tudo se cumprisse em Jesus.

2. Dons e Profecias Messiânicas
Ao longo da jornada da semente santa, Deus foi capacitando servos para manterem seu povo debaixo de sua vontade. Estes servos foram capacitados das mais variadas manifestações de Deus (curas, milagres, evangelismo, sabedoria/conhecimento, etc.), mas principalmente de profecias. Estas assumiram um duplo caráter distinto:
a. Profecias Predicativas, que tinham por finalidade anunciar a Lei de Deus e chamar o povo ao arrependimento e obediência ao Senhor. Estas profecias perfazem um total de 95% de todo o Antigo Testamento, pois começam de Josué-2 Reis (com exceção de Rute) e depois de Isaías à Malaquias.
b. Profecias Preditivas, que tinham por finalidade anunciar os atos futuros do Senhor no cumprimento do projeto salvífico. Assim, 5% referiam-se à predição, sendo basicamente de cunho messiânico.
É dentro do contexto das profecias preditivas, messiânicas, que encontramos a promessa dos dons espirituais como sendo uma experiência comum, frequente e permanente entre o povo de Deus, pois se dizia que na era messiânica o Espírito seria derramado sobre o povo de Deus e os dons lhe seriam as marcas (e.g. 2.28, cf. Atos 2.16-21).
E de fato, quando Cristo vem a terra e cumpre todo o plano salvífico e volta aos céus, é derramado sobre o seu povo dons, e o apóstolo Pedro retoma a promessa feita pelo profeta Joel para explicar o que estava acontecendo na comunidade de fé.
Agora vejamos, isto está de acordo com o que o apóstolo Paulo havia anunciado, quando Cristo subiu levou consigo cativo o cativeiro e deu “dons” aos homens, pois o poder do pecado havia sido destronado, o inferno envergonhado, o mundo subjugado e condenado, e os homens, salvos pela fé em Jesus, haviam sido libertos da morte e da condenação, encontravam-se novamente livres, sendo revestidos de um novo poder para executarem “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
A obra salvífica nos reconciliou com Deus e com o nosso próximo, derrubando a barreira da inimizade e da desigualdade (Ef 2.11-22). Todavia, é interessante observar que todas estas bênçãos nos foram asseguradas pela inserção do Espírito em nós, o qual nos redime e nos unifica em Cristo (1.13, 2.18).
A redenção o Espírito aplica em nós através da regeneração e a unidade e aperfeiçoamento do Corpo de Cristo por meio dos dons, administrados soberanamente por Ele.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS: Compreendendo sua natureza e teologia

Amados irmãos e irmãs, a partir de hoje começo a colocar em meu blog um estudo que costumo dar às igrejas, quando convidado (e sem cobrar financeiramente nada de nenhuma delas), sobre os dons espirituais. A cada 3 dias haverá uma nova postagem. Caso queiram debater, fiquem à vontade para postarem seus comentários. Que o Senhor Jesus, nosso Senhor e Salvador, Senhor da Igreja, nos enriqueça no estudo deste assunto e dissipe dúvidas e expurgue erros doutrinários que temos visto por aí. Um forte abraço a todos e boa leitura.
Pr. Airton Williams
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INTRODUÇÃO

O Estudo dos Dons Espirituais é muito empolgante, pois adentramos numa realidade “mística” do Evangelho, de algo que se faz dentro de nós a partir do nada; também empolgante, pois deslumbramos capacidades e poderes que excedem nossa compreensão, que estão além de nós mesmos e que às vezes experimentamos em nossa própria existência. Some-se a isto a obscuridade que reveste o assunto, as polêmicas em torno do entendimento correto dos dons do Espírito e suas diversidades. Mas, se por um lado o estudo se mostra empolgante, por outro se mostra difícil, pois a porta de entrada para compreensão dos dons não é uma, mas múltipla, variada, e nem sempre as conclusões são as mesmas, gerando conflitos, confusões, debates acirrados e na maioria das vezes (mesmo que isto fira diretamente os propósitos dos dons), separações entre irmãos, que mesmo tendo a experiência comum da graça salvífica de Jesus não possuem a maturidade necessária para lidar com suas divergências.
Estudar os Dons Espirituais é algo muito amplo, pois é um assunto que possui vários aspectos, vertentes, que precisam ser examinados. Dentre estes aspectos podemos perguntar: Quantos dons existem na Bíblia? Quantos são contemporâneos? Pode-se perguntar ainda: Quais os tipos de dons? Que categoria existe entre eles? Como se classificam? O que significa cada um deles? Estas são algumas perguntas que revelam a multiplicidade de portas de entradas para o estudo dos dons.
Todas as questões mencionadas acima podem ser respondidas de formas diferentes e com números e perspectivas divergentes. Por esta razão este assunto é um tanto quanto polêmico e como consequência disto muitos procuram evitar uma análise bíblico-teológica, pois muitos “dogmas” pessoais e eclesiásticos foram criados e dão sustento à práticas errôneas em nossos dias, sendo ameaçados quanto confrontados com o claro ensino da Palavra de Deus.
Deve-se a esta falta de fundamentação bíblico-teológica práticas bizarras que presenciamos em nossos dias e nas igrejas de Jesus Cristo, realizadas em nome do Espírito Santo. Vemos dons espirituais sendo deslocados de seu ambiente natural, a Igreja, para ambientes estranhos à Escritura e muitas vezes copiando cenários cúlticos pagãos. Podemos dizer que muitas práticas dos chamados “dons do Espírito” se assemelham às práticas da umbanda, espiritismo e tantas outras formas místicas e esotéricas, criando um sincretismo religioso sem precedentes na história do cristianismo.
Diante deste quadro, cremos ser de grande importância compreender bem o ensino bíblico à respeito dos dons espirituais. Tomando a primeira carta de Paulo aos Coríntios, cap 12, temos as seguintes razões para este estudo:
1. Há a necessidade de discernirmos entre os verdadeiros e os falsos carismáticos, ou possuidores dos dons espirituais. No v.1 o apóstolo Paulo usa a expressão grega “Peri. de. tw/n pneumatikw/n”, traduzida em nossas Bíblias como “a respeito dos dons espirituais”. Acontece que a palavra dom não aparece no texto. Se observarmos o restante do discurso, veremos que o apóstolo está falando de gente que se dizia espiritual, mas que nas suas atitudes demonstravam o contrário. Assim, à luz do contexto, a expressão deveria ser traduzida como “a respeito dos que são (se dizem) espirituais, não que, irmãos, que sejais ignorantes”. A partir daí, Paulo procura instruir a igreja para que não sejam enganada por estas pessoas, ainda que possuam dons espirituais.
2. Há a necessidade de entendermos que todos os dons procedem do Espírito Santo, de forma soberana, “visando um fim proveitoso” para o corpo de Cristo. Isto implica dizer que os dons não podem ser concedidos por homens ou igrejas, como temos visto e ouvido em campanhas por aí. É o Espírito Santo que dá a quem quer e como quer os dons que lhe foram outorgados por Cristo. Isto implica, também, que não somos nós que escolhemos os dons que queremos (como veremos adiante), mas o Espírito, a partir dos seus propósitos para a Igreja é quem determina o que será dado.
3. Há a necessidade de entendermos que existe variedade de dons, segundo a necessidade do corpo de Cristo e que nesta variedade há importância comum em todos os dons, até mesmo para aqueles que consideramos menores.
4. Há a necessidade de entendermos que os dons visam a unidade do corpo de Cristo e não sua separação ou sectarismo espiritual: “para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (12.26).
5. Há a necessidade de entendermos que apesar da importância comum, os dons não são iguais quanto à responsabilidade e amplitude de sua ação no corpo.
Como foi dito anteriormente, estudar os dons envolve várias vertentes; assim, a fim de evitar divagações (apesar de serem inevitáveis em alguns pontos devido aos aspectos polêmicos que o assunto suscita), este estudo terá como objetivos principais, à luz da Palavra de Deus, e somente através da Palavra de Deus:
1. Descrever o ensino bíblico-teológico acerca dos dons.
2. Conscientizar-nos sobre os dons que são conferidos por Deus à sua Igreja, da qual fazemos parte e que, portanto, estão em nós.
3. Despertar-nos para o dom que nos foi outorgado, estimulando-nos a vivenciá-lo em nossa comunidade de fé para que a glória de Deus seja manifesta e o corpo de Cristo edificado.
Para que possamos alcançar estes objetivos, estudaremos sobre:
1. A natureza dos dons.
2. Os princípios que regem os dons na vida da Igreja e que lhe são norteadores em sua prática.
3. Os propósitos dos dons no corpo de Cristo.
4. A classificação funcional dos dons.
5. A forma de identificar os dons em nossas vidas (com aplicação de teste).
6. Os resultados que podemos esperar na vivência carismática na comunidade de fé.