segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DONS ESPIRITUAIS: Princípios Regentes sobre os Dons Espirituais - continuação

3. Dons e Propósitos
A que servem exatamente os dons? Cremos já ter dado algumas dicas acima, todavia, é hora de explicitarmos a questão. No texto de 1 Co 12.4-6 o apóstolo Paulo designa os carismas com três adjetivos diferentes os quais lhe atribuem propósitos. É importante frisar que tais adjetivos não se referem à classificação dos dons, mas aos propósitos que cumprem:
a. diakoniw/n, diaconion, diaconia (v.4). Como temos dito, os dons tem como propósito principal o serviço ao Corpo de Cristo. Através dos dons que o Espírito nos outorga temos a oportunidade de ajudar a comunidade de fé em Jesus a crescer, se desenvolver e aperfeiçoar, preservando a unidade. Os carismas devem criar “liga” na igreja, e não divisões.
b. evnerghma,twn, energemáton (v.5). Esta palavra grega refere-se a energia, força. Os dons servem ao propósito de energizar, ou dar força, à Igreja no cumprimento de sua missão. Por isso são entendidos como capacitações especiais do Espírito.
c. fane,rwsij, fanerosis (v.6). Por fim, os dons têm a finalidade de “manifestar”, ou “fazer visível” o serviço prestado na comunidade na vida um do outro. Ou seja, eles têm por finalidade se manifestar na vida do outro, à serviço do outro.

4. Dons e Hierarquização
Considerando a diversidade dos dons por causa das necessidades do Corpo de Cristo, podemos dizer que todos os dons são importantes, não havendo entre eles nenhum que seja insignificante. Todos são úteis e proveitosos.
Todavia, tomando como referência a abrangência, existem dons mais importantes e menos importantes. Daí a razão do apóstolo Paulo insistir na necessidade de mostrar interesse em torno dos “melhores dons”. No final do cap. 12, vv.27-31, ele estabelece uma ordem hierárquica quanto aos carismas. É interessante observar que:
a. A lista não está completa, sendo tomado apenas alguns exemplos dentro da ordem que se estabelece.
b. A prioridade apontada se volta para os dons de maior abrangência (o corpo como um todo), na comunidade, indo depois para aqueles que atendem parte do corpo, até chegar naqueles que são individuais.
c. Dentro desta organização hierárquica o dom de línguas é o último, por sua pequena abrangência de serviço.
d. Apesar da hierarquização funcional, todos os dons são importantes para a Igreja de Cristo Jesus, não devendo nenhum ser desprezado.

5. Dons e Contemporaneidade
Este é um dos pontos mais difíceis ao tratarmos sobre os dons. Pelo menos duas escolas postulam conceitos diferentes e divergentes.
a. Cessacionista: crê que alguns dons espirituais miraculosos foram operantes somente na era apostólica, e que alguns ou todos aqueles dons cessaram gradualmente antes do final do primeiro século.
b. Continuista: crê que todos os dons espirituais descritos no Novo Testamento têm continuado com toda a sua intensidade, sem mudança ou alteração desde o derramamento inicial de línguas em Pentecoste.
Esta não é uma questão fácil de resolver, pois muitos elementos bíblico-teológicos e históricos estão em jogo; além de muitos dogmas e experiências pessoais. No entanto, alguns princípios devem nos orientar neste problema:
a. Nenhum tipo de experiência deve nortear a verdade sobre este assunto, pois toda verdade procede da revelação única e exclusiva da Palavra de Deus.
b. É difícil falarmos de um cessacionismo absoluto, uma vez que as Escrituras não o afirma nem deixa claro e evidente que todos os dons extraordinários teriam cessado (e.g. o falar em línguas).
c. É óbvio nas Escrituras que alguns dons cessaram na era apostólica, como o próprio apostolado, por se tratar de um grupo restrito à Jesus e que tinham por responsabilidade fundamentar a Igreja em todo o ensino de fé e prática. Assim, não é possível abraçar também um continuísmo absoluto.
d. É preciso lembrar que os dons visavam o serviço, a edificação e aperfeiçoamento do Corpo de Cristo, atendendo necessidades diferentes e diferentes épocas. Por isso, é impossível falar de dons que se tornaram universais e atemporais. Na verdade, dependendo de contextos específicos, tais dons só serviram à uma determinada época e geração (caso do apostolado).
e. Mesmo os dons supranaturais que podemos encontrar tanto na era apostólica quanto na nossa não são da mesma essência e caráter. Os dons de curar, milagres, profecias, etc., em nossos dias são diferentes daqueles que encontramos nas Escrituras em suas particularidades. O que indica que houve uma forma cessacionista quanto ao que lemos no Novo Testamento.
Diante disto, e tendo como referência os postulados das escolas supra citadas, o cessacionismo moderado é o que melhor faz justiça à revelação da Palavra de Deus.

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