domingo, 25 de outubro de 2009

AUTOFAGIA NA IGREJA - Jehozazak

Amados irmãos e irmãs, há alguns anos atrás, quando os blogs ainda não existiam, recebi o e-mail de um amigo com o artigo de um irmão chamado "Jehozadak" (creio que seja um pastor). Achei o texto maravilhoso e o aguardei, como é de costume quando considero a leitura relevante. Nestes dias o li novamente, e o texto está cada vez mais atual. Assim, decidi publicar no meu blog. Vale à pena ler e refletir. abraços
Pr. Airton Williams
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Autofagia da Igreja
Atos 17:6

Outro dia recebi um e-mail, que me indagava acerca da nossa influência no mundo que nos cerca. Continuamos a influenciar o mundo ainda hoje? Aquela pergunta martelou minha mente durante dias. Temos mesmo influenciado e modificado vidas ainda hoje? Ou estamos a caminho de um processo autofágico onde estamos nos consumindo como igreja, que não se parece com nada - ou pelo menos algumas das nossas igrejas "modernas".

Pode parecer esdrúxulo afirmar que a igreja passa por um processo de autofagia. Mas, é só fazer um pequeno esforço para vermos o quanto isto é uma realidade chocante.

A maior das diferenças - o pentecostalismo e o tradicionalismo - não foi suficiente para dar cabo da igreja brasileira. Durante décadas uns não toleravam os outros. Ser pentecostal era sinal de ignorância em todos os sentidos. Ser tradicional significava ser frio e "incrédulo". As denominações pouco se misturavam, mas num ponto todos concordavam - que o Evangelho deveria ser pregado, não importasse as circunstâncias.

O que fazer com homens que conhecem a Bíblia a fundo, mas somente se guiam pelas suas convicções pessoais? Não aceitam que digam a eles dos seus erros e falhas. Se formos criticá-los então? O resultado será catastrófico e trágico. A Bíblia nos manda
denunciá-los - notem eles - II Tessalonicenses 3:14 "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com
ele, para que fique envergonhado". Mas o que fazer se estes mesmos não se dão ao trabalho de se analisarem e de se sentirem culpados diante de Deus?

O grande e crucial problema dos nossos dias e das nossas hostes é acharmos que todo aquele que vem e se diz "de" Deus, é dos nossos e por isso mesmo temos de recebê-los de braços abertos. Não e não.

Nunca houve na história da humanidade, ou melhor, na história da igreja, tantas portas que muitos teimam em chamar de igrejas, como agora. Há vinte anos atrás, eram algumas centenas de denominações, as divisões eram poucas, e estas mesmas igrejas cresciam por multiplicação.

Hoje se cresce por divisão. Onde havia uma igreja, ou um ajuntamento de pessoas, há mais uma igreja povoando o mercado, com líderes fracos, com homens sem convicção da sua vocação, mas com um único propósito - a de ser líder de si mesmo, e, logo os imediatos deste líder vão passar-lhe uma rasteira, que ele por sua vez passou em alguém, e pronto!

Tempos atrás, as denominações eram poucas em número, mas grandes em congregações, e as igrejas cresciam por multiplicação. Hoje são centenas, senão milhares de denominações que crescem, sobretudo por divisão. Quer ver a constatação disto? Veja no seu bairro ou na sua cidade quantas igrejas novas surgiram nos últimos dois anos. Se puder pergunte a origem delas, e não se surpreenda se ouvir que ela saiu de uma divisão. Aliás, há igrejas que já estão na décima divisão.

Com o surgimento destas novas igrejas e denominações é notório que a falta de compromisso bíblico delas é um dos motivos de - muitas vezes - crescerem tanto. Muitas delas são as chamadas comunidades ou igrejas alternativas, como o Ministério do Espírito Santo em Nome do Senhor Jesus Cristo, fundada por Baby do Brasil, ex-Consuelo.

Não estou e nem pretendo discutir aqui a fé e a conversão de Baby do Brasil, mas quero tomá-la como exemplo. Quantos anos ela tem de conversão? Qual foi o discipulado pelo qual ela passou? Quem foi o seu discipulador? Sob qual autoridade ela abriu uma igreja? Quem a ungiu? Quem a separou para o ministério? Quem a comissionou? Certamente muitos levantarão suas vozes num estrépito para dizer que estou - novamente - errado, como já o fizeram de outras vezes, em que abordei temas ou assuntos espinhosos.

Tempos atrás escrevi um artigo contando as mazelas de um famoso apóstolo, que, enrolado em dívidas, é dos mais processados hoje no Brasil. Centenas de e-mails foram-me enviados, criticando-me por atacar um dos mais "santos" homens de Deus no
Brasil. Gente, se eu for contar o resultado das entrevistas que fiz com quem trabalhou com o "santo", certamente vocês ficariam horrorizados. Até tiro o "santo" mandou dar em desafetos. Um verdadeiro gangster, o nosso "santo".

D. Baby do Brasil, não é única ex-exótica a fazer do Evangelho um meio de vida como tantos outros que campeiam pelo mercado. Estes pensam que a igreja precisa se contextualizar, quando a igreja precisa sim, ser fiel aos princípios da Palavra de Deus. Pensar o contrário é buscar desculpas para justificar seus comportamentos deturpados.

Aqui mesmo onde moro, outro dia tomei um susto. Fui a um dos muitos estabelecimentos da região, e lá havia uma propaganda de uma nova igreja. A figura do pastor estava lá impávida. Eu o havia conhecido tempos antes e ele era ministro de música - muito ruim por sinal, e congregava numa determinada igreja, e agora era o fundador de um novo ministério, de uma igreja só. Até ai nada de mais, é direito de qualquer um almejar o episcopado, mas ele é mais um numa imensa selva a crescer por divisão, e logo, logo alguém vai fazer com ele o que ele fez com o pastor dele.

E aqueles que são os pescadores de aquário? Conheci um diácono, que numa determinada ocasião, quando eu ministrava aula na escola bíblica dominical, pedi que um deles lesse um trecho que estava em Lamentações de Jeremias. Pois o dito cujo não sabia se o livro estava no velho ou no novo testamento. Foi olhar no índice.

Tempos depois ele sumiu da igreja e estava frequentando outra igreja, onde o pastor prometeu fazer dele um evangelista. Evangelista? Sim, na sua antiga igreja ele não tinha, na opinião dele "oportunidades" para trabalhar, e com a possibilidade de um cargo ou de uma função ele se foi carregando a sua ignorância.

Ora, Deus pode usar qualquer um, do modo, do jeito, da forma que Ele quer, mas hoje há entre os nossos que sequer sabem pegar numa Bíblia, que nunca a leram uma vez sequer, que não jejuam, não oram, não se consagram, não buscam a Deus adequadamente, mas que querem ser figuras iminentes.

Antes, um homem queria ser um obreiro por vocação, hoje quer ser para satisfazer o ego e poder dizer que é "alguém". E quem paga e sofre é o corpo de Cristo. Antigamente uma igreja era próspera por causa da quantidade de almas que ganhava a cada ano, hoje, só é considerada assim, se tiver um canal de televisão, uma estação de rádio, se seu líder for influente politicamente, se consegue influenciar a vida da
coletividade onde mora.

Pastores regozijam-se por ser homens "notáveis" e exibem sem constrangimento algum suas condecorações, seus diplomas, seus ternos bem cortados, suas fotos ao lado de personalidades, seus títulos e cargos nas ditas associações representativas, e nos seus cafés da manhã, almoços e jantares, onde se reúnem para exibir suas riquezas pessoais adquiridas no exercício das suas funções pastorais.

Deus não quer nada disto. Deus quer humildade e honestidade de cada um. Recebi recentemente de um amigo o artigo Um Evangelho Anormal, de autoria de J.
Lee Grady, publicado na Revista Ultimato número 4 ano 24, que transcrevo na íntegra, e que nos mostra que a igreja passa por uma crise profunda de identidade, desvirtuada que foi por gente que só pensa em si mesmo, e que não hesita um instante sequer em fazer do púlpito - dinheiro, e das suas influências mais dinheiro ainda.

Um Evangelho Anormal
J. Lee Grady

"Meu mundo foi sacudido violentamente em janeiro, quando dediquei algum tempo entrevistando líderes do movimento ilegal da "igreja nas casas" da China. Durante cinco dias orei, louvei e participei de refeições simples com estes santos preciosos a maioria dos quais passou anos solitários nas prisões comunistas pelo crime de pregarem o evangelho.

À medida que eu ouvia seus relatos em primeira mão de milagres, e do tratamento cruel que receberam dos guardas policiais, senti como se tivesse encontrado pela primeira vez uma fé parecida com aquela que vemos no Novo Testamento. Quando retornei aos Estados Unidos comecei a imaginar se o que nós chamamos de cristianismo aqui tem alguma semelhança com o verdadeiro produto.

Uma líder me explicou que supervisiona 5.000 igrejas numa área rural. "Você é um bispo ou um apóstolo?", perguntei, tentando entender os termos que eles usam. "Nós não usamos títulos", a mulher me explicou. "Nós simplesmente nos chamamos de irmão e irmã". Os 80 crentes que conheci são responsáveis por mais de 35
milhões de cristãos na China. Este é um número impressionante. Mas nenhum deles chegou ao nosso local de reunião numa limusine, nem qualquer um deles era seguido por um grupo de guarda-costas e publicitários. Muitas destas pessoas vivem como fugitivos, mas os seus rostos estavam radiantes de alegria.

O sr.Yu, que é o nome que vou usar para ele, é como o apóstolo Paulo da China. Ele viu pessoas ressuscitarem de entre os mortos, e uma vez ele viu Deus paralisando sobrenaturalmente um oficial do governo que ameaçava suspender uma reunião evangelística ao ar livre. Mas o sr.Yu não esperava nenhum tratamento especial ao
passar algum tempo comigo e com seus colegas em janeiro. Ele usava uma simples camisa de manga curta, comeu o mesmo peixe com arroz que nós comemos, e comparecia para a oração como qualquer outra pessoa, antes de cada reunião. Geralmente ele tomava seu assento no fundo da sala.

Estas pessoas choravam cada vez que orávamos pela China. Elas estavam dominadas por um sentimento de urgência espiritual. Muitos deles estão ansiosos por uma mudança política em seu país não para que tenham liberdade para se mudarem para os Estados Unidos, ou para que possam comprar uma casa, mas para que possam enviar missionários para países muçulmanos vizinhos e fechados como o Casaquistão ou o Uzbequistão.

Eu senti vergonha quando voltei para casa. A humildade dos meus novos amigos chineses expôs a realidade do meu orgulho. A sua fé infantil revelou o quanto eu
confio na tecnologia, na educação e nos ídolos do materialismo ocidental. A sua contagiante paixão pelo cumprimento da Grande Comissão forçou-me a enxergar o
meu autocentrismo. Estou cheio do nosso ramo anormal e americanizado do cristianismo. É tão impotente quanto é letal. Depois de passar esse tempo com meus irmãos e irmãs da China, compreendi que muito do que vejo na igreja e até daquilo que publicamos na nossa revista (a revista norte-americana Charisma) dá náuseas para Deus.

Quão desesperadamente precisamos do Espírito Santo nosso Refinador para que venha nos despojar dos nossos títulos, nossas limusines, nossos lugares nas primeiras fileiras nos templos e nossas mensagens do tipo "que vantagem posso tirar para mim"! Precisamos voltar à simples humildade!

Que Deus nos guarde de algum dia exportarmos para outros países um evangelho adulterado e centrado no homem. Peçamos ao Refinador que envie seu fogo e destrua nossa escória de tal modo que possamos experimentar em nosso país um avivamento estilo chinês. O que eles têm é genuíno. O que temos aceitado é uma imitação barata".

Evangelho barato e deturpado por mentes insanas que corrompem tudo o que os cercam. Poucos sãos os grandes eventos evangelísticos no Brasil hoje, onde
pregadores, cantores e conferencistas não precisem pagar para falar ou cantar. E pagam caro. Principalmente por saberem que ao final de cada evento destes vão vender materiais como livros, discos, vídeos, apostilas, etc, em profusão tamanha que vão recuperar o investimento com sobras. Sabem que se investirem R$ 10 mil, vão arrecadar R$ 50 mil, e assim por diante.

E as almas? E as vidas a serem edificadas? Quem se importa com elas? Quem dá um tostão por elas? Hoje estes grandes "conferencistas internacionais" que pululam o mercado, estão é mais preocupados em manter suas máquinas de fazer dinheiro ativas do que e ganhar uma alma sequer.

Andam cercados de assessores e guarda-costas, para que ninguém chegue perto deles. Será que é medo de que alguém peça para que eles orem por alguma enfermidade ou problema, na esperança de que tais coisas sejam resolvidas? Certamente vão se frustrar.

Sem contar as práticas ditas eclesiásticas, que de eclesiásticas não tem absolutamente nada. Mas o Senhor é soberano e esta matilha que assalta a igreja nos nossos dias não vai exterminar com ela, mesmo porque a igreja é santa, apesar dos homens que as dirigem, e vai prevalecer contra estes todos.

Naqueles tempos de Atos 17:6, nós mudamos a história, transformamos vidas unicamente pela força da Palavra pregada. E hoje? Misturamo-nos no que chamamos de igreja contextualizada, que na realidade é uma massa incrédula e ignara, e transformamo-nos em pessoas que sequer conseguem mudar a si mesmos.

O desabafo do J. Lee Grady nos mostra que há sim, um povo santo, que se preocupa com o bem estar das almas, e que mesmo sob condições inóspitas, pode-se sim, pregar o Evangelho, e que as circunstâncias não importam quando se tem Deus no coração, e, sobretudo, uma vontade imensa de levar a outros esta mensagem.

Fico imaginando o que fariam estes fariseus que travestidos de apóstolos, de bispos, de profetas, pastores e "conferencistas" internacionais, propagadores de auto-ajuda, que eles chamam de livros, fariam se fossem colocados num lugar como a China?

Correriam de lá.

Certamente!

Jehozadak

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