quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

PRESSUPOSTOS BÁSICOS PARA A CERTEZA DE SALVAÇÃO

Nenhuma doutrina surge do nada, ou é fruto de um juízo imparcial, à priori. Tudo o que declaramos crer resulta de pressupostos assumidos antes de qualquer investigação. Diante disto, podemos tomar duas atitudes: ou investigamos apenas para assegurar o que queremos crer, ou investigamos nossas crenças para averiguarmos se têm fundamento ou não, e aí, sim, tomarmos uma decisão pela verdade.
J. Kuerzinger (Dicionário de Teologia Bíblica, v.2. Ed.: Johannes B. Bauer. São Paulo: Edições Loyola. p.1037), nos lembra que “a discussão sobre a certeza da salvação depende essencialmente da compreensão que se tem da salvação cristã em geral.” Neste sentido, aqueles que advogam que a salvação é obra meritória do homem, resultado do seu suposto “livre-arbítrio”, negam a possibilidade do cristão ter certeza de sua salvação. O livre-arbítrio agiria de duas formas diferentes, dependendo do grupo a que se pertença: ou levando o homem à prática das boas-obras (geralmente reconhecidas como “caridade”), ou levando o homem a exercer a fé no salvador Jesus. Por causa disso, há uma divergência entre eles sobre a impossibilidade da certeza de salvação. Para uns (e.g. católicos-romanos), não se pode ter certeza da salvação porque não sabemos se já alcançamos a “quantidade” necessária de obras para sermos salvos. Na concepção católico-romana, a salvação resulta de uma “balança” equlibrada entre a obra de Cristo na cruz e as boas-obras dos homens. Assim, em algum momento estaremos salvos, mas como nossa maldade aflora constantemente, a certeza nunca é possível, pois não sabemos onde está o pêndulo.
Para outros (e.g. os pentecostais na sua grande maioria), não se pode ter certeza de salvação porque o suposto “livre-arbítrio” pode me fazer crer em Cristo num dia, e no outro me fazer negá-lo. Assim, o chamado à santidade no pentecostalismo se confunde com a salvação. Somente se santificando o homem poderia ser salvo. Novamente nos encontramos diante da “balança” proposta pela Igreja Católica, só que agora o peso de medida é outro, as obras de santificação e não a caridade. A idéia é simples: Cristo fez a parte dele na cruz, quebrou a maldição do pecado; cabe ao crente, agora, se santificar em obediência aos ensinos de Jesus. Quando o fiel alcança a medida da obra de Cristo sua salvação está garantida, porém, não permanentemente, pois o crente pode “cair da graça”, desequilibrar a balança e perder sua salvação.
É pressuposto deste artigo que a salvação, tal como se apresenta no Antigo e Novo Testamentos, é, primeiramente, uma obra de libertação do pecado e da morte, sob os quais toda a humanidade se encontra, oferecida graciosamente aos eleitos de Deus através da obra redentora de Jesus Cristo (Rm 3.23). Ponderemos detalhamente nestas afirmações:
• A salvação é uma obra de libertação do pecado e da morte. Pecado implica em rebeldia contra Deus, contra a Sua vontade manifestada em Sua Lei. Neste sentido, a Bíblia declara: “Não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Sl 14.3; Rm 3.9-18). Por causa disso, o homem sem Cristo ama o pecado, e não tem interesse nenhum pelo graça oferecida por Cristo (Jo 3.19). Como conseqüência, a Bíblia declara que este homem está morto espiritualmente (Ef 2.1), portanto, não pode desejar a vida, pois tudo o que conhece é a morte.
• Toda a humanidade se encontra debaixo do poder do pecado e da morte. A situação espiritual dos homens é igualitária, todos são filhos da desobediência (Ef 2.2), assim, não há ninguém capaz de praticar o bem por si mesmo. Tudo o que podem praticar é peculiar à sua natureza pecaminosa. Assim, como nenhum homem pode fazer o bem por sua própria vontade, mas apenas aquilo que é pertinente ao pecado, não existe livre-arbítrio, mas livre-agência, ou seja, a capacidade de se fazer tudo o que é pertinente à própria natureza.
• A salvação é oferecida, graciosamente, aos eleitos de Deus através da obra redentora de Cristo. Ou seja, somente os eleitos receberão os benefícios da obra redentora de Cristo (Rm 8.29,30; 2 Ts 2.13).
A primeira afirmação nos leva à segunda constatação bíblica, que a obra salvífica se torna efetiva por meio da vocação eficaz realizada pelo Espírito Santo de Deus. Com isto queremos dizer que há a necessidade do Espírito Santo chamar o eleito, mediante a pregação do evangelho, à salvação. Este chamado é eficaz porque cumpre o seu propósito na vida do eleito, pois ao conhecer a luz, manifesta em Cristo Jesus, ele deseja, ardentemente, entregar-se ao seu redentor, pois além de ter seus olhos abertos, tem o seu coração transformado; a Lei de Deus já não é insuportável para ele, antes pelo contrário, o seu prazer está em obedecer por ter sido redimido (1 Jo 2.4-6). “A menos que Deus, pelo seus Espírito, abra o coração do ouvinte, capacitando-o a crer, ele ou ela jamais poderá aceitar o convite do evangelho.” (Anthony Hoekema, Salvos pela Graça,Cultura Cristã, p.88).
Este chamado regenera o coração do pecador, levando-o à conversão por meio da fé, a qual lhe assegura os benefícios da cruz do Calvário conquistados por Jesus. A fé, neste sentido, não é um exercício de algum livre-arbítrio próprio do homem, mas um dom concedido por Deus na regeneração. Somos salvos pela graça, mediante a fé, diz o apóstolo Paulo (Ef 2.8), mas observe que ele diz que isto, tanto a graça quanto a fé (em grego temos o pronome demonstrativo touto, no gênero neutro, o qual se aplica tanto à graça quanto à fé neste texto), não vem de vós, é dom de Deus. Assim, a salvação torna-se uma realidade fundamental nesta vida, pois nos foi outorgada pelo próprio Deus. Por isso a Escritura chama Jesus de “autor e consumador” da nossa fé (Hb 12.2). Todavia, é na volta do nosso Senhor Jesus que a salvação recebe sua plena consumação.
Como esperamos ter delineado acima, é pressuposto básico deste trabalho que a salvação nos é garantida única e exclusivamente pela obra graciosa de Deus em Jesus, a qual é recebida pela fé e não por nossos méritos ou esforços, quer sejam de caridade ou atos de fé.
Entendido isto, podemos, então, explorar a doutrina da certeza da salvação. Todavia, caso você não concorde com esta exposição resumida da obra da salvação, dificilmente você entenderá e aceitará o fato de que o crente, ainda que possa vir a pecar, pode ter certeza de sua salvação e, assim, ser guiado pelo Espírito Santo de volta ao Pai que o escolheu e chamou em Jesus para a vida eterna.

Um comentário:

miriam leda disse...

como DEUS é bom!!! Este estudo me faz lembrar de um cântico que diz:"a nós só nos cabe tudo consagrar, oferta suave ao SENHOR, dons e talentos devemos consagrar, tudo no seu altar, pra SEU louvor".Estamos salvos pra sempre, GLÓRIA A DEUS!