domingo, 19 de dezembro de 2010

O LUGAR DA TEOLOGIA NA EDIFICAÇÃO DA IGREJA - Airton Williams

Até a década de 80, aproximadamente, que a teologia era vista como uma ciência marginal, tanto para acadêmicos como para a maioria dos evangélicos brasileiros, predominantemente pentecostais. Todavia, a partir da segunda metade da década de 80, o quadro parece ter tomado outra direção. Muitas igrejas, antes à versas à teologia, passaram a criar institutos e seminários teológicos, visando qualificar seus obreiros. Desta época para cá, houve uma multiplicação sem precedentes na formação de novos teólogos. E com o reconhecimento do curso de Teologia pelo Ministério da Educação e Cultura, em 1999, este passou a gozar do status de “científico”. Mas o que a igreja de Jesus Cristo ganhou com tudo isto?
Lamentavelmente, a igreja teve mais perdas do que ganhos. Primeiro, a educação teológica absorveu a ideia de formação numa perspectiva profissional, perdendo o seu caráter vocacional. Exemplo disto se vê nos editais de vestibular das faculdades que passaram a oferecê-la. Antigamente, o campo de atuação era o reino de Deus, agora, com esta virada, o campo se tornou vasto. Porém, o mais lamentável é vermos alunos que procuram um curso de teologia por achá-lo mais fácil (como se isto fosse verdade, e os que já o fizeram sabem que não é) para obtenção de um diploma que lhes permita fazer concurso público.
Em segundo lugar, a educação teológica, absorveu a mentalidade de mercado, perdendo sua preocupação eclesiástica. A teologia nasceu para servir ao reino de Deus e à igreja de Cristo no mundo, provendo-lhe reflexão bíblica a fim de enfrentar os desafios de cada época. Todavia, em nossos dias, a teologia é vista como mais um produto de mercado, sem propósito definido e que deve ser feita no mais curto espaço de tempo, a fim de não perder o “cliente-aluno” para outra instituição.
Por fim, como a maioria dos futuros teólogos são neófitos na fé, a teologia se tornou uma arma apontada contra às suas convicções por meio da teologia liberal que invadiu vários seminários e faculdades confessionais. Alunos que antes chegavam empolgados com o evangelho, com Cristo, saem sem vida, abatidos e muitos desviados da fé.
Com certeza, não queremos uma teologia que nasça das pressões do mercado educacional, nem uma teologia que se coloque contra Deus, o Messias Jesus e sua santa Palavra. Assim, quais os desafios da teologia em nossos dias?
Primeiro, que a teologia seja vivida de forma vocacional, por pessoas que amam a Cristo, sua Igreja e sua Palavra. Quando teólogos formam sem amor a Cristo, sua igreja e sua Palavra, se tornam soberbos e envaidecidos em si mesmos, pois tudo o que aprenderam se torna sem objetivo, sem propósito. Assim, canalizam sua suposta erudição, suposta formação, nas críticas que nada constroem e, ainda por cima, destroem o próprio coração do teólogo. Não são poucos os que se encontram frustrados e cheios de mágoas. Quando fazemos teologia por vocação, cremos que ela contribui para edificação do corpo de Cristo, levando alimento sólido, bem preparado, para saciar corações sedentos da verdade. Quando fazemos teologia por vocação, cremos que ela aprofunda o nosso entendimento da salvação e do Senhor que nos redimiu, por meio da sua Palavra, levando-nos à uma piedade sincera e verdadeira diante de Deus.
Os que concluíram seu curso, e o fizeram por vocação, sabem que o estudo teológico continua num processo contínuo de capacitação suas vidas, não por amor a si mesmo, nem por orgulho dos títulos que vierem a ter, mas por amor a Cristo que nos manda apascentar o seu rebanho mediante o ensino de sua Palavra.
O segundo desafio da teologia em nossos dias é o de manter-se fiel às Escrituras Sagradas, tendo-a, de fato, como “única regra de fé e prática”. A teologia liberal continua a desafiar a verdade de Deus por meio da negação de pontos cruciais, como a divindade de Cristo e a inerrância e infalibilidade das Escrituras. Porém, o maior desafio tem vindo de movimentos e igrejas que declaram ser a Bíblia a Palavra de Deus, mas aceitam “revelações” no mesmo pé de igualdade das Sagradas Escrituras. E isto tem assumido ar de teologia cristã por meio de livros. É preciso lembrar aos teólogos a famosa frase do reformador de Genebra, João Calvino: “É compromisso de todo expositor bíblico, falar quando a Bíblia fala e calar quando a Bíblia cala”. A Escritura tem que ser o referencial de limite do nosso trabalho teológico.
O terceiro desafio da teologia em nossos dias é mostrar-se relevante para a igreja e o mundo. Após a Reforma, a igreja cristã caiu num ostracismo enorme, levando-a a uma aridez sem precedentes. Isto fez com que o povo de Deus tomasse aversão paulatina aos estudos teológicos, abrindo espaço para pensamentos místicos e racionalistas nos séculos 18 e 19. Este problema só se alastrou no século 20, permitindo o surgimento de tantas seitas dentro do cristianismo histórico. Grande parte deste problema está na proclamação irrelevante que a teologia faz à igreja e ao mundo. Os que estudam teologia têm a missão de tornar relevante aquilo que aprendem às pessoas que Deus confiará em suas mãos para apascentar.
Por fim, a teologia tem como desafio em nossos dias glorificar a Deus e não o teólogo que dela faz uso. Olhando o que acontece no meio teológico atual, quer seja liberal ou conservador, parece que vivemos numa constante feira de vaidades e egos inflados pela soberba do conhecimento adquirido. Precisamos lembrar que o nosso pensar deve voltar-se, como oferta, para Deus, para a glória dele, e que nossos egos devem ser esvaziados. A tentação será grande, todavia, maior será a queda dos que tentam tocar na glória do Senhor.
Gostaria de terminar lembrando uma frase do famoso teólogo e exegeta do Antigo Testamento do Seminário de Westminster, Edward J. Young, proferida numa aula inaugural daquela instituição: “Deus não nos deu a Bíblia para fazer-nos teólogos; Ele no-la revelou para fazer-nos santos”. Que Deus seja misericordioso e use vossas vidas para edificar e santificar o povo escolhido de Deus. Maranata, vem Senhor Jesus.

2 comentários:

LEUMANE RABELO disse...

Muito boa esta postagem professor... como é difícil manter o equilíbrio quando se tem muito conhecimento... muitos infelizmente se dezequilibram... só a misericórdia de Deus em nossas vidas...
Não obstante, ser apologeta nestes dias (ou desde sempre), é um desafio,pois as pessoas que são confrontadas começam a julgar os teólogos como os "sabe tudo"... o pior e qnd a pessoa acha que sabe sem saber nada...
Parabéns, esta postagem só me fez lembrar de qnd me desabafei contigo após uma de suas aulas, abrindo alguns conflitos internos... Deus o usou muito naquele momento... um abraço e parabéns pela Unção de Reverendo da Igreja Episcopal Carismática.

Airton Williams disse...

Grande Leu, na santa paz. Você, agora, trilha o mesmo caminho de conciliar conhecimento teológico e piedade. Que sua vida inspire a muitos que o Senhor colocar em teu caminho no ensino da Palavra. Um forte abraço.