sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

É POSSÍVEL, AO CRENTE, UMA INSEGURANÇA QUANTO A SUA CERTEZA DE SALVAÇÃO

Durante 8 anos tive o privilégio de pastorear a Igreja Presbiteriana de Cruz das Almas, em Tietê-SP. Ali pude amadurecer muito da minha caminhada espiritual, na convivência com irmãos e irmãs que viviam a graça de Cristo. Sou muito grato a Deus por ter trabalhado ali. Até hoje sinto falta desta convivência. Bem, foi ali que conheci uma irmã que ilustra bem esta questão do nosso assunto, irmã Chiquinha. Nunca tive dúvidas da conversão desta irmã, do seu coração firmado em Cristo, mas em vários momentos ela me expressou o medo de não estar salva. Sempre que isto acontecia, costumava repassar com ela a razão de sua fé em Cristo, na suficiência da obra do nosso Senhor e Salvador na cruz do Calvário, por nós. Então, voltávamos ao porto-seguro da jornada.
Esta sensação ou sentimento de insegurança é contemplado nas Escrituras Sagradas. Por isso, a Confissão de Fé, no parágrafo III, diz: “Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades...” Observemos que a declaração diz que "a segurança infalível não pertence...à essência da fé", o que implica que é possível crer, de fato, em Cristo e na eficácia de sua obra, sem que isto comunique o conforto da certeza de salvação. Exatamente porque a certeza da salvação não faz parte da essência da fé esta pode se fazer sentir ausente do coração do crente. Reisinger tenta explicar esta distinção com uma analogia, onde nos diz que a fé é a raiz e a certeza é a flor. Com isto, o que se propõe é que a certeza surgirá ao seu tempo, com o cultivo. Mas, se temos certeza da suficiência da obra de Jesus para redenção de todo o que crê, por que podemos sentir insegurança quanto à nossa salvação?
João Calvino, refletindo sobre o assunto, disse: "Quando ensinamos que a fé é certa e segura, não imaginamos uma certeza tal que não seja tentada por alguma dúvida, nem concebemos uma espécie de segurança ao abrigo de toda inquietude; ao contrário, afirmamos que os fiéis precisam sustentar uma luta ininterrupta contra a desconfiança que sentem em si mesmos" (Institución de la religion cristiana, p. 422).
Da declaração de Calvino, percebemos que dúvidas podem se levantar no coração dos eleitos de Deus, dúvidas tais que podem causar a insegurança quanto ao estado dos seus corações. Estas podem ser de diversas ordens, entre as quais contamos:
• A lembrança, constante, dos pecados passados. Muitas pessoas vem a Cristo por meio de uma experiência dramática de vida, e suas conversões, para muitos, parecem forjadas, como uma espécie de fuga do que outrora fizeram. Outros, terão seus pecados lançados diante de si por meio de acusações que lhes farão; tais acusações podem partir ou do próprio coração, ou dos outros, ou de Satanás.
• A percepção de suas próprias fraquezas na luta contra o pecado. A salvação, em Cristo, não anula de imediato o velho homem, sujeito ao pecado; em nossa natureza recebemos a “mente de Cristo”, “um novo coração”, que passa a fazer frente à nossa natureza corrompida e crucificada com Cristo. Porém, como a crucificação não mata de imediato o crucificado, mas o faz lentamente, assim também, aqueles que morreram com Cristo, morrem lentamente, à medida que a vida de Cristo neles cresce. Por isso, desejosos de uma nova vida, livre das tentações do pecado, muitos crentes fiéis a Jesus se veem em dúvidas quanto à sua salvação ao perceberem que certos desejos pecaminosos ainda encontram lugar em suas vidas.
• A inquietação de nada termos feito para a nossa salvação. Estamos acostumados a fazermos alguma coisa para merecermos alguma retribuição. É difícil, numa sociedade como a nossa, cada vez mais individualista e ambicioda, nos sentirmos confortáveis com a idéia de incapacidade pessoal para alguma coisa. Assim, influenciados pelo humanismo secular, achamos que a salvação dependerá de nossas forças, nossas obras, nossa piedade, etc. Então, quando vemos a grandea da obra de Jesus, nos sentimos desconfotáveis em apenas aceitarmos o que Ele nos oferece, a salvação. Por outro lado, sabemos que precisamos da oferta, e então a aceitamos, não deixando, porém, de achar que precisamos fazer alguma coisa para nos tornarmos merecedoras dela. Tal inquietação se esquece que “pela graça sois salvos, e isto não vem de vós, é dom de Deus”.
• A compreensão da santidade de Deus e a incapacidade de salvar-se a si mesmo. Muitos irmãos e irmãs, durante a caminhada cristã, compreendem de tal forma a beleza da santidade do Salvador Jesus que, ao olharem para si mesmas, não veem em si mesmas nada de atrativo para que Deus lhes escolhessem; e devido à mentalidade humanista de que recebemos benefícios por méritos próprios, esquecem que a salvação oferecida é gratuita, resultado daquilo que Cristo fez pelos eleitos de Deus. O amor de Deus é incondicional, não é meritório. A santidade do salvador deve ser contemplada e isto deve nos desafiar a vivermos de forma digna o chamado que dele recebemos; também deve nos levar a adoração daquele que por amor, se entregou na cruz por pecadores miseráveis como nós.

Estas são algumas possíveis razões para a dúvida que sobressalta o coração dos eleitos de Deus quanto à certeza de sua salvação. Todavia, como disse Calvino, é preciso sustentar uma luta ininterrupta contra a desconfiança que sentimos. Para tanto, é necessário olhar “firmemente para o autor e consumador da nossa fé, Jesus. É nele, naquilo que ele realizou que descansamos a nossa salvação. Não devemos olhar para nós mesmos, mas para o Senhor que nos redimiu de toda a acusação. Ainda que as pessoas ou o diabo, diariamente, nos tente atormentar com nossos pecados passados, devemos nos lembrar que fomos justificados em Jesus e que, portanto, “nenhuma acusação há sobre os eleitos de Deus”.
Numa certa ocasião, no Seminário Presbiteriano do Sul (Campinas-SP), onde estudei, um aluno deu uma resposta que me marcou sobre o nosso caminhar pela fé olhando para Jesus. Este rapaz era um coreano muito piedoso, que costumava levantar-se na madrugada para buscar ao Senhor. Sendo obrigado a ler um livro de um teólogo liberal para fazer um trabalho, começou a ser vítima das gozações de outros colega liberais. Um dia, um destes colegas liberais lhe disse: “lendo livros assim você vai acabar virando liberal e vai perder a fé”. Aquele irmão piedoso lhe respondeu: “O Senhor Jesus deu a fé, portanto, só ele pode tirar”. Isto é olhar para Cristo, na certeza de que aquele que foi confiado às suas mãos ninguém os pode arrebatar. Como um dia perguntou o apóstolo Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8.35).

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom, a brincadeira tem algumas regras. Foram estabelecidas pelo Roger, então a culpa é toda dele. Ei-las:
Estou participando de uma brincadeira e estou te convidando. Ele funciona assim:

* Escrever uma lista com oito coisas que sonhamos fazer antes de ir embora daqui;
* Passar o meme para oito pessoas;
* Comentar no blog de quem lhe passou o meme;
* Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da "intimação";
* Mencionar as regras

Unknown disse...

Pastor, existe outro Róger no pessoal que lê seu blog? Sou o Róger da Metodista e não sei quem é Isaías. Grande abraço.