sábado, 19 de junho de 2010

HOJE, ESTOU TRISTE - Um tributo à irmã-mãe Chiquinha

Faz tempo que não escrevo, tão absorto em projetos que têm consumido meu tempo. Mas hoje, em plenas férias, curtindo momentos especiais com minha esposa e meu filho, precisei voltar ao computador para escrever sobre minha tristeza ao saber do falecimento de uma irmã tão querida, tão amada, tão especial para o meu coração, irmã Chiquinha, Francisca Leite Marcelo.
Foi muito dolorido quando o presbítero Sérgio me telefonou informando o falecimento desta irmã que se tornou muito mais do que irmã, se tornou uma mãe para mim em Tietê, e fonte de inspiração em muitos momentos em que me encontrava desanimado devido às lidas do ministério pastoral.
Em 1998 fui a Tietê para conhecer aquela pequena igrejinha; era a quarta igreja que me convidava para concorrer ao seu pastorado; estava saindo de Itapeva, e Tietê não se mostrava, do ponto de vista humano, o melhor convite. Mas eu não sabia porque, após o culto, freqüentado por no máximo 15 pessoas, saí daquela igrejinha convicto de que Deus me queria ali. Renunciei aos demais convites num ato que parecia loucura. Somente depois de assumir o pastorado da Igreja Presbiteriana de Cruz das Almas soube o porque daquela convicção.
Havia uma irmãzinha maravilhosa naquela igreja, que sozinha, no cantinho do seu quarto orava preocupada com o rumo daquela comunidade, e dizia ao Senhor: Pai, me dá um pastor que pregue, que cante, que toque, que cuide das crianças, dos jovens, dos adultos e dos “velhos” (forma carinhosa como ela se referia às pessoas da sua idade). Sem saber, eu preenchia estes quesitos. Os que pastoreei sabem com quanto amor procurei cuidar de suas vidas. E sei, que por causa desta oração, Deus colocou meu coração em Tietê.
No início foram muitos os desafios, mas sempre eu contava com o carinho e o amor da irmã Chiquinha. Quantas e quantas vezes ela se colocou no lugar da minha mãe para me proteger de muitas agressões verbais, de sentimentos mesquinhos. Através da simplicidade desta mulher encontrei fonte de consolo e abrigo da parte de Deus.
Em meio ao seu jeito “rude” de ser, muitas vezes “braba”, encontrava-se a doçura de uma mulher guerreira, que em meio as muitas dores que a vida lhe havia imposto não se entregava, mas continuava lutando. Mas o que me encantava nesta irmãzinha querida é que sua luta não era por si mesma, mas por outras pessoas que tanto amava.
Renunciou muito de si mesma por amor do seu neto, Paulinho; acreditou na transformação de pessoas que pareciam irrecuperáveis; sempre se mostrou caridosa com os necessitados; nunca deixou de orar por seus filhos, com muitas lágrimas, pedindo a Deus que um dia conhecessem o amor de Cristo que um dia ela conheceu e a inspirava na sua luta. Dentro daquela mulher sofrida com a vida, havia uma mãe, avó, amiga, irmã de um coração sem tamanho, sempre disposto a andar a segunda milha.
Mas o que mais me encantava nesta irmã-mãe era o seu profundo amor pela Palavra de Deus. Desde que conheceu o amor de Cristo viu crescer em seu coração uma fome enorme de conhecimento das Escrituras. Queria conhecer mais e melhor o seu salvador. Quantas tardes passamos juntos estudando a Bíblia, conversando sobre temas difíceis, às vezes complexos sobre a fé, e quanta alegria se podia ver nos seus olhos, no seu doce sorriso, diante da descoberta da verdade de Deus.
Hoje, ao receber a notícia de sua morte, um vazio tomou conta do meu coração. Não somente por sua partida para o encontro com Cristo, mas por ter causado uma profunda decepção ao coração desta irmã. Tive a oportunidade, em vida, de lhe pedir perdão por ter falhado como pastor, por ter pecado e decepcionado a muitos. Sei do seu perdão, mas a frustração e a dor me acompanharão por ter decepcionado pessoas tão maravilhosas como a irmã Chiquinha. Como eu gostaria de não ter lhe feito sofrer; como eu gostaria de ter evitado as suas lágrimas; como eu gostaria de estar ao seu lado neste dia para lhe beijar a fronte e lhe dizer o quanto eu a amava.
Não consigo conter as lágrimas neste momento que escrevo, minha noite se tornou “noite traiçoeira”, mas me consola saber que um dia eu a encontrarei novamente. Consola-me saber que um dia estaremos juntos, novamente, servindo ao nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pois nada nesta vida, nem mesmo a morte, pode nos separar do grande amor de Deus, em Jesus Cristo.
Com muita dor e lágrimas,
Pastor Airton Williams ou apenas “pastor Williams”, como carinhosamente ela me chamava.

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