segunda-feira, 20 de abril de 2009

A CERTEZA DE SALVAÇÃO PODE SER ABALADA, DIMINUÍDA E INTERROMPIDA POR CAUSA DA NEGLIGÊNCIA, PECADO, TENTAÇÃO OU PROVA

Crentes verdadeiramente lavados, regenerados, podem pecar? A resposta a tal pergunta depende, em muito, da nossa compreensão da obra salvífica realizada por Cristo, na cruz do Calvário. Há aqueles que acreditam que crentes verdadeiros não pecam mais após sua conversão. Entendem que um novo coração lhes foi dado e que, por isso, estão isentos de queda. Por outro lado, há os que entendem que crentes podem pecar, sim, pois apesar de redimidos, ainda lutam com um corpo corrompido pelo pecado, e que o velho homem não morre de imediato, mas diarimente, à medida que a santificação ocorra em sua vida.
É dentro desta última linha que se situa a Confissão de Fé de Westmister, quando declara:
Os verdadeiros crentes podem ter, de diversas maneiras, a segurança de sua salvação abalada, diminuída e interrompida - negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a fortes e repentinas tentações, retirando Deus a luz de seu rosto e permitindo que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que o temem....

O pecado de Davi ao adulterar com Bate-Seba, bem como o assassinato planejado de seu esposo, nos levam a tal reflexão. Não há dúvidas que Davi seja um filho da promessa, regenerado pela fé em Cristo. Não obtemos tal certeza somente a partir das narrativas do Antigo Testamento, mas o próprio Novo Testamento o declara ao dizer que o mesmo era “homem segundo o coração de Deus” (At 13.22).
A salvação de uma pessoa não implica na sua incapacidade de pecar novamente, mas na incapacidade de sentir prazer ao viver no pecado. A mente de um regenerado é uma mente renovada por Cristo, por isso, ainda que possa cair, sua mente, consciência o acusará dolorosamente, pois verá a ignomínia a que expõe o Filho de Deus, morto na cruz do Calvário por seu pecado.
É exatamente por isso que vemos a dor e aflição de Davi, diante do seu pecado, no salmo 51. No v. 12 o salmista suplica: “Restitui-me a alegria da salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário”. Observe duas facetas deste clamor: primeiro, o pecado cometido havia lhe roubado a alegria da salvação, de tal maneira que o salmista tinha medo de ser rejeitado pelo Senhor (v.11). Estas palavras apontam para aquilo que é mais importante para o filho de Deus, regenerado pelo Cordeiro, Jesus: a sua salvação. O pecado cometido lhe traz a consicência da sua miserabilidade, a percepção que nada merece do seu Deus, e por isso teme. O temor, por sua vez, gera a tristeza, o remorso, a dor. Filhos de Deus regenerados podem pecar, mas muito sentirão o seu ato.
O segundo aspecto da súplica de Davi revela a sua incapacidade de viver por conta própria diante do seu pecado: “sustenta-me com um espírito volutário”. A palavra voluntário em hebraico seria melhor traduzida por generoso. O que o salmista expõe é a sua necessidade que Deus se compadeça dele e lhe sustente, lhe ajude a permanecer firme. Para isto, suplica que Deus lhe seja generoso, misericordioso. Consequência natural do pecado é a falta de chão. O filho de Deus, nascido em Jesus, perde o rumo, a perspectiva, quando se vê envolvido pelo pecado. Tudo o que lhe sobra é o desespero e um olhar suplicante ao seu Deus para que lhe perdoe e lhe renove a fé.
Este desespero encontra sentido no princípio bíblico que diz que os nossos pecados fazem separação entre nós e o o nosso Deus (Is 59.2). Por isso, quando aquele que é nascido de Deus peca, o rosto do Senhor se volta contra ele, a luz é retirada, a paz roubada, e o coração entra em crise. Assim, somente em arrependimento o filho de Deus pode encontrar o caminho da luz, da paz e da alegria.
Entretanto, apesar desta experiência desagradável ser possível as Escrituras nos ensinam que o verdadeiro salvo não fica privado da semente de Deus, a qual a seu tempo o restaura da condição de pecado ou tribulação para a grata alegria da salvação, como podemos ver em 1 Jo 3.9: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus”.
Esta semente divina no crente que o livra da queda da graça é ativada pela presença do Espírito Santo. É Ele quem nos sustenta, nos alimenta e nos fortalece para os dias difíceis quando somos assolapados em nossa fé. Porque o Espírito Santo habita em nós, somos trazidos de volta ao caminho da luz, ainda que a ira de Deus se levante contra nós. De acordo com Hebreus 12.4-8 nos relembra que Deus, como Pai, disciplina ao filho que ama, e que se não disciplina, é porque não é filho legítimo. Se somos da semente divina, muito sofreremos, muitas dores teremos, pois estaremos debaixo da ira disciplinar de Deus. Todavia, a ira do Senhor pode durar a noite toda, mas se somos filhos, com certeza a alegria virá pela manhã, quando a disciplina tiver completado o seu propósito. Assim, os filhos legítimos do Senhor aceitarão a disciplina, seja ela dada diretamente por Deus ou pela Igreja, e em meio às lágrimas se alegrarão por saberem que somente sofrem a disciplina os filhos regenerados, lavados por Jesus.

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