Ainda que eu, particularmente, faça algumas ressalvas ao artigo abaixo, creio que a leitura dele será pertinente para provocar uma profunda reflexão do que seja o pastorado, visto que,em nossos dias, tem se tornado mais um profissão para muitos, ou um título sócio-eclesiástico que garante poder, do que um chamado a ser servo de Cristo. Boa leitura. Pr. Airton Williams.
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PASTOR
OFICIO OU DOM?
Este assunto tem ocupado muito espaço no meio evangélico, tanto naquilo que se refere ao conteúdo teórico das igrejas, como naquilo que se refere à vida administrativa e prática das mesmas.
O senso comum tanto no âmbito da religiosidade como no da sociedade no geral, e, via de regra, até político, tem uma visão da figura do pastor como sendo o líder maior de alguma comunidade religiosa de caráter cristão. Ser pastor significa ser líder! Traduzindo-se naquele que conduz um grupo de pessoas, alguém que assina e responde pela igreja. O Pastor é aquele que faz o papel de ponte política e social da igreja com a qual trabalha!
Como legitimação das funções pastorais, a religiosidade é condicionada a estabelecer normas eclesiásticas que justifiquem o forjamento dos noviços ou seminaristas durante o tempo de seminário até a devolução destes à comunidade onde atuarão como legítimos e autorizados pastores, tendo os seus diplomas de bacharéis em teologia, seguido de sabatinas e estágios até serem ordenados com imposição de mãos dos pastores e lideres constituídos em concilio ou assembléias.
Ao assumirem a frente de uma igreja local, estes pastores, seguem o processo do oficialato pelo qual passaram. Precisam ser pastores de oficio. Precisam assumir todos os encargos que o oficio religioso, social e político requer do cargo e da função que receberam. Foram formados, diplomados, credenciados e entregues à sociedade.
Como pastor de oficio, possui o direito a salário e a algumas prerrogativas que também foram construídas religiosamente para que aos poucos, fossem assimiladas socialmente. O pastor por oficio tem, pela maioria das igrejas, a primazia na realização do batismo, do casamento religioso com efeito civil, da ministração da ceia, do ensino, da pregação, do velório, e das atividades comunitárias dentro e fora da igreja. Torna-se líder dos lideres!
Os pastores por oficio estão se multiplicando dia a dia! Os seminários estão cheios e sempre existem candidatos! É um passo garantido para um emprego ou para a realização de determinadas praticas que garantem um bom e rendoso sustento com certa garantia de mercado de trabalho! Sempre há igrejas precisando de pastores e quando não há mais igrejas para se trabalhar, pode-se facilmente abrir o próprio negocio, ou abrir a própria igreja!
Não existem critérios bem estabelecidos no governo secular e nem no mundo eclesiástico para o surgimento de novas igrejas. Qualquer pessoa pode se tornar em pessoa jurídica e religiosa!
Existem países que para se abrir uma igreja é preciso seguir um processo bem direcionado e com algumas exigências que intimidam muitos a continuarem com tal idéia!
Muitos pastores por oficio são pessoas boas e dotadas de alguns dons! Embora sejam bons e dotados com dons específicos, precisam assumir muitas outras atividades que não têm nenhuma afinidade com seus dons e habilidades, mas precisam desempenhá-las simplesmente pelo fato de serem pastores de oficio. Isso danifica a igreja e o prejudica como pastor e como gente, pois o desgasta por demais e desnecessariamente. Alguns são excelentes pregadores, por outro lado, péssimos professores ou mestres. Outros são ótimos mestres e possuem ótima didática, mas são sofríveis no púlpito como pregadores. Outros são bons no ensino e na pregação, mas péssimos na administração da igreja. O cobertor eclesiástico é curto ou pequeno para os pastores de oficio, ou seja, quando lhe cobre uma parte do corpo, deixa outra parte descoberta. A luta é constante! A luta é frustrante! A igreja sofre, o pastor sofre, a comunidade sofre, a sociedade sofre, os povos e as nações sofrem com esta esquizofrenia entre o pastor e a igreja!
Na literatura cristã existem livros e mais livros editados para ajudarem os pastores de oficio a lidarem com esta tarefa brutal e insana de serem superpastores para satisfazerem suas igrejas locais e fazerem jus ao salário que recebem. As literaturas desta linha ainda citam exemplos de pastores bem sucedidos que conseguiram vencer seus gigantes, e, estas citações servem apenas para deprimir ainda mais aqueles que são vulneráveis no cargo pastoral.
Neste afã de buscar a sobrevivência pastoral e conseguir a tão sonhada utopia de ser um pastor de oficio plenamente realizado e completo, não são poucos aqueles pastores que saem à busca de pacotes de sucesso ou de crescimento instantâneo de igrejas, crendo eles, que se apenas um destes pacotes derem certo em sua comunidade local, eles não precisarão mais ter invejas de outros pastores, mas passarão a serem provocadores de invejas em outros. Eles buscam não o crescimento legitimo para suas igrejas, ao contrario, estão buscando a salvação deles mesmos neste árduo caminho de serem pastores de oficio.
Uma estratégia adotada para amenizar esta distorção é a contratação de vários pastores auxiliares, estes, chegam para tamparem os espaços que o cobertor deixou de cobrir. Alias, a bem da verdade, não se dá pra saber com propriedade se o cobertor é a igreja e esta não cobre o pastor, ou, se o cobertor é o pastor que não consegue cobrir a igreja toda. Difícil de entender! De qualquer forma esta estratégia de buscar novos tapadores de buraco não resolve o dilema do pastor de oficio, pois no frigir dos ovos, tudo isso acaba como tendo um numero grande de caciques para poucos índios.
O que se deve perguntar agora é o seguinte: (1) Este modelo de pastor por oficio é correspondido na bíblia? (2) O pastor por oficio ainda responde a demanda eclesiástica e societária que vigora atualmente? (3) O que acarretaria com a substituição do pastor por oficio pelo pastor por dom?
Vamos às respostas!
(1) Este modelo de pastor por oficio é correspondido na bíblia?
A bíblia toda, no seu antigo testamento como no seu novo testamento, mencionam o papel do pastor. A figura do pastor está presente nos tratos com as ovelhas, numa analogia ao trato de Deus com Israel. Os profetas no antigo testamento foram exemplos lúdicos de Deus para explicitar este estereotipo do pastor!
No novo testamento o próprio Cristo assume este estereotipo de o bom pastor. Os evangelhos narram isso! Cristo ao concluir o seu processo de discipulado com Pedro o faz declarando que Pedro a partir daquele momento estava em condições de pastorear as ovelhas do Senhor, exercendo assim, todas as conhecidas funções de um pastor, ou seja, guiar, proteger, apascentar, exortar, sarar, contar, buscar, conduzir pra dentro do aprisco e para fora para acharem pastagem e se alimentarem. Os apóstolos com certeza assumiram os ensinos tanto do antigo testamento como dos evangelhos e do próprio Cristo.
Embora a Bíblia toda mencione as funções e propriedades de um pastor, não se encontra na mesma Bíblia nenhuma alusão à imposição de mãos sobre os pastores. A Bíblia também não apresenta nenhuma narrativa que possa corroborar com o modelo de pastor oficio que se acha presente nas igrejas do presente século.
Os únicos oficiais (pessoas separadas para o exercício de algum oficio no seio da igreja, por isso, são publicamente empossados com a imposição de mãos) são os diáconos e os presbíteros (estes, os presbíteros, a Bíblia os diferencia em presbíteros que se encarregam apenas do ensino da Palavra de Deus e os que se encarregam da vida cotidiana da igreja, administrando os interesses comuns dos membros da igreja). Apenas estes dois ofícios são reconhecidos no novo testamento. Religiosamente convencionaram-se chamar de pastores os presbíteros e com isso, em especial, àqueles que se encarregam do ensino da Palavra. O problema é que de acordo com a língua grega, a palavra presbíteros pode ser usada como sinônima da palavra bispo, mas não há equivalência lingüística para pastores. Explicando melhor, quem é presbítero ou bispo fazem sim a função de pastores como a Bíblia toda já explicitou, mas não são pastores por oficio ou porque o nome de presbítero ou bispo lhes dá esta possibilidade de serem chamados pastores.
Chamar um presbítero que lida com o ensino da Palavra, de pastor, e dar a este, prerrogativas como: batizar, casar, ministrar a ceia, ser líder maior numa igreja local, e tantas outras atribuições, são construções religiosas convenientes que foram ocupando os espaços dentro e fora da igreja. A Bíblia não dogmatiza que os pastores devam batizar, ministrar a ceia e realizar tantas outras praticas na igreja. Ao contrario disso, a Bíblia assevera que todo e qualquer discípulo de Cristo está livre para adorar ao Pai em espírito e em verdade.
Paulo na sua carta aos efésios, quando fala sobre a igreja, ele diz que em cada igreja deve existir: PROFETAS, EVANGELISTAS, APOSTOLOS, MESTRES E PASTORES. Ele não fala sobre ofícios! O contexto no qual o apostolo fala se refere a dons! Paulo está afirmando que as igrejas devem ter pessoas (podendo ser homens ou mulheres, pois se refere a dons e os dons podem ser distribuídos pelo Espírito Santo a homens e mulheres) que possuam estes dons. É bom que as igrejas possuam pessoas com muita diversidade de dons, mas pelo menos, estes cinco dons se fazem prioritários em cada igreja. Paulo articula a idéia de que ser pastor é como alguém que tem o dom pastoral como aparece em toda a Bíblia. Pastor não é a igreja que faz, não é feito pelo seminário, não é feito por um diploma, não é feito por um concilio que impõe sobre ele suas mãos. Pastor não é forjado! Em instancia, ser pastor é dom espiritual! O Espírito Santo é quem separa alguém de dentro da igreja e dispensa sobre ele o dom de ser Pastor, a partir deste momento, nada impede que este pastor por dom, faça um seminário, diplome-se em qualquer área e seja sustentado pela igreja para exercer o seu pastoreio. Ele só será eficiente e eficaz no exercício do seu dom e em tudo aquilo que o dom dele se aplica. E a igreja precisa entendê-lo e assimilá-lo como alguém que tem o dom de pastor e ponto final! Os outros terão outros dons e suprirão as necessidades da igreja e da sociedade naquilo que os seus dons serão pertinentes.
Se este pastor com o dom de pastor for eleito para ser um presbítero que se encarrega da Palavra ele poderá ser chamado de presbítero com o dom de pastor e da palavra. Pois uma pessoa pode receber do Espírito Santo o dom de pastor e o dom de mestre, ou ainda, o dom de pastor e outros dons. Mas é preciso entender de uma vez pra sempre que ele será pastor não por oficio, todavia, será feliz sabendo que é pastor por causa do dom que recebeu do Espírito Santo, e, sendo eleito presbítero, ele será um oficial como presbítero e um pastor como dom.
A Bíblia não endossa o pastor por oficio principalmente no que se entende hoje como ser pastor. O dom de pastor é desconhecido por muitos pastores que hoje são simplesmente pastores por oficio. Seria esta uma boa explicação para responder os muitos problemas dentro das igrejas hoje? Seria isto uma boa diagnose para se entender o porquê das frustrações e depressões nos meios dos pastores?
Existem muitas correlações com estas variáveis que podem nos levar a vários diagnósticos e a varias conclusões.
(2) O pastor por oficio ainda responde a demanda eclesiástica e societária que vigora atualmente?
Esta pergunta é intrigante, pois ela carrega em si mesma muitas outras considerações que poderiam ser feitas. Percebe-se certo desgaste com a figura social e eclesiástica que o pastor representa.
Na sociedade a figura de pastor de oficio já não é tão respaldada no comercio, nas vendas parceladas, e na vida política, os pastores por oficio representam uma orla de pessoas vulneráveis e votos comprados. No meio eclesiástico tem surgido outros títulos como Apóstolos, Arcanjos e outras titulações que ainda poderão surgir, e isso, é um diagnostico claro de ser entendido como um desgaste da figura simples do pastor de oficio. Ser pastor de oficio hoje tem causado desgastes em diferentes proporções e nas diversas escalas da sociedade. Os pastores de oficio sabem exatamente o que está sendo dito aqui, por isso, muitos lutam para serem mais do que simplesmente pastores de oficio, pois sabem que há uma descarga muito elevada de falta de credibilidade sobre esta figura nos meios societários. Muitos estão a fim de buscarem qualquer recurso que possa ajudá-los a serem mais do que são como pastores de oficio, mas são poucos aqueles que reconhecem que serão em vão estas buscas, pois continuarão sendo oficiais e não pastores por dotação do Espírito Santo.
Muitas são as igrejas que existem sem pastores algum à frente delas pois elas são compostas de ex-membros de igrejas que se decepcionaram com os pastores e lideres, e hoje, estão soltos e desgarrados como ovelhas sem pastores. Se tivessem tido pastores dotados com os dons de pastor com certeza estas igrejas de desgarrados não seriam tão grandes.
As igrejas com pastores de oficio são como as televisões com sinais analógicos, ou seja, tem algo que não permite a imagem ser tão clara e tão cheia de recursos. As igrejas com pastores dotados com dons pastorais são como as televisões de sinal HD, com belas imagens e ótimos recursos.
Tudo que tem o toque e o sopro do Espírito Santo é melhor, mais claro, mais eficiente e produz glória a Deus e edifica os santos para que os santos desempenhem os seus serviços. Esta é a linguagem de Paulo em Efésios.
Bênção!
(2) O que acarretaria com a substituição do pastor por oficio pelo pastor por dom?
Só se saberá a resposta desta pergunta quando começar a existir mais e mais exemplos acontecendo ao mesmo tempo e em diferentes lugares. Os resultados precisam acontecer para que se possa avaliar!
Alguns resultados são previsíveis, tais como: igrejas mais sadias, crentes com os dons de pastores mais realizados e frutíferos, uma igreja mais carismática por causa dos crentes que exercem seus dons no corpo de Cristo e uma igreja menos oficializada com pastores por oficio. Os dons serão notabilizados e os crentes serão todos dotados com seus dons específicos, e, para a alegria de todos, a igreja será mais bem edificada, pois os dons existem para a edificação do corpo.
Pastor com dom e que pastoreia por causa do dom recebido, não se deixará levar pelas circunstancias. Pastor com dom só se preocupa em pastorear e ele faz isso com ou sem salário, com ou sem imposição de mãos, com ou sem diploma, com ou sem especialização, com ou sem mestrado, com ou sem doutorado, com ou sem carteira de ministro, com ou sem templo, com ou sem titulo. Ele faz porque recebeu o dom de pastor e ele vive por causa deste dom que recebeu. Ninguem pode lhe obstruir no exercício deste dom. Ninguem pode lhe tirar este dom, nem um concilio, nem uma denominação, nem uma enfermidade, nem a falta de recursos. Ele tem o dom de ser pastor e não o oficio de ser pastor, pois quem tem o oficio pode perder o oficio a qualquer hora, mas quem tem o dom tá seguro.
As igrejas precisam urgentemente voltar ao processo do reino de Deus onde o Espírito Santo é quem rege sobre a igreja. Os pastores precisam entender que ser pastor é ser dotado pelo Espírito Santo para isso. A igreja precisa encontrar-se pneumaticamente com o pneumatos!A igreja carece urgentemente dos carismáticos para voltar a ser uma igreja que funciona carismaticamente! Não me refiro aqui a ser ou não pentecostal ou renovada! Refiro-me a uma igreja dinamicamente (empowerded) pelos dons certos nas pessoas certas para fazerem o que certo pela causa certa e com a certeza de que agora vai dar tudo certo! Uau, que tanto de redundância! Bênção!
Este texto é apenas para aguçar os leitores a pensarem mais sobre este assunto. É para atiçar aqueles apologistas de plantão a fim de que coloquem seus argumentos favoráveis ou desfavoráveis ao que foi exposto aqui. Não foi colocado aqui textos bíblicos com suas referencias e nem citações de autores pois a intenção foi de gerar inquietação aos leitores para buscarem por si mesmos tais referencias e citações pois assim poderão mais uma vez se debruçarem sobre a Bíblia e a literatura crista para crescimento e uma vida didática.
Aos pastores e amigos deixo com este artigo minha destra de cumplicidade e de coragem para que possamos avançar no ministério não como pastores por oficio, mas como pastores dotados com o dom que somente aqueles que o possuem, e sabem o quão maravilhoso é ser pastor e se envolver com ovelhas. Aos pastores de oficio deixo aqui a minha perturbação e a minha palavra de exortação a que descubram se possuem ou não o dom de pastor e se não o possuem, por favor, deixem o pastorado de oficio por amor a vocês mesmo e por amor à igreja.
Quem me conhece e caminha comigo sabe que eu não prego, não ensino e nem escrevo apenas para criar problemas, mas sim para levar perturbação!
A quem possa interessar então se sinta perturbado!
No amor e na causa do supremo pastor por excelência, JESUS CRISTO!
LABIENO MOURA PALMEIRA FILHO
Igreja Remidi (REINO, MISSÃO E DISCIPULADO)
Missionário do Pronasce
Somos um projeto de missão integral
Goiânia, Julho de 2011
3 comentários:
Muitas pessoas preferem os pastores de ofício por eles serem "renováveis",mas sabemos que os pastores que receberam o com celestial são segundo o coração de Deus.
Corrigindo: receberam o dom celestial
Bom dia homem! esse estudo sobre pastorado, vc tem algum livro sobre assunto. Acredito dessa forma que os governantes da igreja são os presbíteros e não os pastores. Meu imail: cleciogoncalves352@gmail.com
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