segunda-feira, 31 de agosto de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO - Parte II - Jó 1.6-12; 2.1-10

Conheci uma mulher admirável, por diversas razões. Mas a sua história de vida, pra mim, sempre foi um exemplo. Ela nasceu numa família rica, bem-sucedida, em Icoaraci-PA. Seu pai era um rico comerciante, nas décadas de 60 e 70. Além disso, formavam uma família muito religiosa. Mas um dia, seu pai deixou a família, pois havia se envolvido com outra mulher.
Na relação extraconjugal, gastou o dinheiro da família, e aquela mulher admirável teve seu primeiro embate com a vida desumana. Foi dormir como uma princesa, e acordou como uma plebeia. Seu pai, depois de um tempo, voltou para casa, foi perdoado por sua mulher (outra mulher admirável), mas voltava com as mãos vazias. Perdera tudo.
Sua filha saiu para a vida, foi batalhar por sua formação, seu ganha pão. Um dia, decidiu partir para Macapá-AP, e ali foi trabalhar, longe de sua família. Algum tempo depois, conheceu um homem cristão, e casou com ele. Pouco tempo depois de casada, conheceu o amor de Cristo e se converteu.
Juntamente com seu marido, começaram a construir uma família maravilhosa, e prosperaram juntos. Chegaram a ter tudo que queriam. Viviam uma vida abastada. Parecia que sua história estava sendo recontada. E realmente estava. Depois de quase 15 anos de casada, com a família estabilizada, as finanças prosperando, seu marido a deixou e juntou-se a outra mulher, deixando-a sem nada (a não ser dívidas), e quatro filhos para criar.
Vi de perto o sofrimento desta mulher; quantas vezes chorei com ela; quantas vezes a vi chegar em casa com o pagamento e separá-lo para entregar ao agiota. Vi esta mulher trabalhar manhã, tarde e noite para que seus filhos tivessem o que comer, vestir e brincar (pois seu marido havia levado tudo e nunca se preocupou em ajudar-lhe, financeiramente, na educação dos filhos). Vi pessoas que a julgaram, a condenaram e tentaram lhe humilhar (apenas tentaram, pois aquela mulher era uma guerreira, e não deixava que à pisassem).
Em meio a tudo isto, vi uma mulher que com toda a dor soube perdoar seu agressor, soube sacrificar de si mesma por amor aos filhos, e, acima de tudo, soube conduzi-los no caminho de Deus, sem que estes guardassem revolta contra o seu Criador, e nem mesmo contra seu pai.
Esta mulher era minha mãe, Leonor Vasconcelos Barboza, mulher de quem muito me orgulho de ser filho. Mulher que marcou profundamente a minha vida e que me ensinou a sobreviver em meio às dores, às perdas e fracassos.
Conto esta história porque ela se confunde com a experiência de Jó naquilo que quero destacar nesta mensagem. No sermão anterior começamos a estudar a vida deste homem a fim de aprendermos lições, a partir do que ele sofreu, que nos ajudem a permanecer firmes, mesmo quando o sofrimento é grande, a dor é intensa e a vida perde a sua beleza de ser. Aprendemos, em primeiro lugar, que a vida que é capaz de permanecer em tempos de sofrimento é marcada pela integridade sincera, autêntica (1.1).
Hoje, tomando o texto base, aprenderemos outra lição importante. No texto citado (Jó 1.6-12; 2.1-10), encontramos o diálogo de Deus com o anjo “promotor” da corte celeste (1.6). O assunto é apresentado por Deus. Depois de uma pequena introdução na conversa (v.9), Deus faz uma pergunta que expressa uma alegria profunda do seu coração. O Soberano Senhor pergunta ao anjo: “Observaste a meu servo Jó? E em seguida, Ele faz um elogio à conduta de Jó, dizendo: “porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal”.
Ao ouvir tais palavras, o anjo da corte contra-ataca, afirmando que Jó não temia a Deus em vão, uma vez que o Senhor o havia protegido e abençoado. Havia lha dado segurança. Esta afirmação fica clara no versículo 10, quando o anjo diz: “Acaso não o cercaste com sebe, a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na terra”.
A palavra que o anjo usa para expressar a segurança que Deus havia dado a Jó é “sebe”. Sebe é uma vedação feita de ramos ou varas entrelaçadas que, no mundo antigo, servia de proteção de propriedades. O que o anjo procurava mostrar a Deus era que a religiosidade de Jó era falsa, que ele só queria tirar proveito daquilo, uma vez que ele sabia que enquanto permanecesse íntegro, o Senhor continuaria protegendo-o e abençoando-o.
Bem, esta é uma questão muito séria que precisamos refletir: o que motiva nossa religiosidade? Por qual motivo frequento minha igreja? Sou motivado pelo desejo sincero de adorar a Deus ou busco somente cumprir meus deveres cristãos a fim de que Deus me abençoe?
Muitos têm vivido uma religiosidade vã, falsa, hipócrita, pois vivem em função de seus próprios interesses. Enquanto Deus me abençoar, mantenho-me fiel a Ele; no entanto, se eu não for abençoado, viro-Lhe as costas. É assim que muitos vivem a sua relação de fé com Deus. E era isto que o anjo acusava Jó. Certo disso, ele desafia ao Senhor a tocar em tudo o que Jó tinha, objetivando prová-lo (v.11). Deus, então, permite a prova. A proteção foi tirada, não havia mais segurança para o sustento da fé. Os bens e a família foram tocados; posteriormente, cap. 2.6, Deus retira, parcialmente, sua proteção sobre a vida de Jó, sem permitir que esta lhe seja tirada.
De repente, aquele homem perdeu todos os seus bens, todos os seus filhos e vê sua saúde ser agravada por uma horrível enfermidade. Diante de tanto sofrimento, aquele homem permanece firme, sofrendo, sim, mas sem perder sua integridade.
Neste cenário aprendemos uma segunda lição. Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança de vida que transcende as circunstâncias.
Jó viu tudo desabar, de uma hora para outra, em sua vida. A impressão que ficava, diante desta reviravolta de vida, era a de que Deus o havia abandonado e removido a sebe de sua vida; parecia que Deus havia removido a segurança, a proteção, daquele homem. Mas em que consistia a segurança de Jó?
No diálogo entre o anjo e Deus, o ataque se foca em três áreas específicas da vida de Jó, nas quais o anjo apostava suas fichas como sendo as que mantinham Jó fiel ao seu Deus. E de certa forma, estas áreas são a razão de ser e de viver das pessoas. Assim, se a segurança de Jó estivesse em uma delas, toda a sua piedade, desprovida de interesse, seria desmascarada. Todavia, isto não aconteceu.
Acontece que estas áreas, às vezes, são altares de idolatria que erguemos em nossos corações, e por isso, quando o altar é derrubado, os que sustentam o altar caem junto com ele. Assim, convém examinar aquilo que para muitas pessoas é a razão de ser e viver dos seus corações, e que lhes fazem pisar em terreno insólito.
A primeira área atacada pelo anjo “promotor” foi a dos bens de Jó (1.13-17).
Como vimos anteriormente, Jó era um homem muito rico. Tal era a sua riqueza que em 1.3 se diz que ele “era o maior de todos os do oriente”. De onde procede esta declaração? Da descrição feita de que ele possuía 7 mil ovelhas, 3 mil camelos, 500 juntas de bois e 500 jumentas, além de empregados. Em nossa sociedade, este capital pode parecer pequeno, mas lembre-se que a história de Jó aconteceu por volta da época dos patriarcas do Antigo Testamento (2000-1800 a.C.). Nesta época, este patrimônio era uma fortuna. Para que você entenda: até alguns anos atrás, os filmes americanos falavam de assaltos a bancos ou trens pagadores que carregavam a fortuna de meio milhão de dólares, ou hum milhão dólares. Naquela época, isto era uma fortuna para os padrões americanos. Hoje, estas quantias são irrisórias para os milionários. Assim era a fortuna de Jó, algo grandioso para sua geração.
Diante da constatação da riqueza de Jó, o anjo da corte celeste começa a execução da prova, atacando, primeiramente, todos os seus bens. A prova se caracteriza pela sequência sucessiva de ataque. Primeiro, ele acabou com os bois e as jumentas (1.14); depois, eliminou as ovelhas e os servos (v.16); e, por último, matou os camelos, juntamente com os servos que cuidavam dos animais (v.17).
Os bens foram dizimados paulatinamente e sequencialmente, não dando tempo para Jó se recompor. A ideia era de infringir uma dor crescente, até o ponto daquele homem não suportar mais e blasfemar contra Deus. Observe que em cada notícia se diz: “falava este ainda quando”.
Mas o que é surpreendente é que, apesar das desgraças caírem uma após a outra sobre ele, não o encontramos, em lugar nenhum, se queixando ou lamuriando por haver perdido seus bens. Jó suportou todos aqueles baques, mantendo a fé em Deus. Qual a razão? Simples, sua segurança não estava baseada em seus bens, em sua riqueza.
Infelizmente, vivemos numa sociedade capitalista onde o bem-estar e o sucesso são medidos pelo que as pessoas têm. Assim, criamos uma falsa segurança de valor, depositando nossa esperança e felicidade naquilo que possuímos.
Se não bastasse isto, as igrejas evangélicas aderiram, na sua maioria, o discurso materialista de que as pessoas só podem ser felizes se tiverem uma bela casa para morar, o carro do ano, uma poupança recheada, um emprego importante, etc. Esta mensagem diabólica adentrou a igreja por meio da tão diabólica mensagem da teologia da prosperidade.
Uma sociedade capitalista e uma igreja mesquinha, soberba quanto ao ter, levaram as pessoas a depositarem sua confiança de vida no que possuem. E assim, se tornam presas fáceis das tempestades da vida. Ao colocarem sua confiança na riqueza, perderam o coração, e conquentemente, a razão de viver, pois a razão de ser e viver não se pauta no ter.
Precisamos deixar claro que a vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança que transcende as circunstâncias. Bens materiais não dão segurança a ninguém, a não ser de forma ilusória, pois estão presos ao tempo e suas variações.
Tudo o que possuímos é passageiro, assim como nossa vida; por isso, a razão do nosso viver não pode estar apegada ao que temos ou deixamos de ter. De repente, podemos perder tudo o que temos, e se as nossas vidas estiverem fundamentadas no que possuímos, nos bens que adquirimos, não nos resultará outra coisa a não ser a desesperança.
Quero, então, chamar a sua atenção para a seguinte pergunta: não vale a sua vida muito mais do que os bens que você possui? É claro que sim. Por isso, não podemos, nem devemos, criar uma segurança alicerçada em nossos bens. Valemos muito mais do que temos ou deixamos de ter. O que possuímos é passageiro, nós somos imortais. Riquezas e bens não transcendem as circunstâncias da vida, antes, lhes são sujeitas de formas diversas.
Jó pôde permanecer firme diante do sofrimento porque a segurança de sua vida não estava alicerçada nos bens que possuía; sua segurança transcendia qualquer situação.
Qual a segurança de sua vida? Os fundamentos da sua vida transcendem as circunstâncias, ou são limitados, passageiros? Saiba que isto determina o tipo de vida que você leva, e, talvez, aí esteja um sério problema que o impede de viver saudavelmente, mesmo quando viver parece ser fácil.
Voltando à narrativa, vemos que o “anjo promotor” não se conteve no ataque. Para que o pobre Jó não tivesse chance de sobreviver ao sofrimento, de imediato lança-se uma nova desgraça (na sequência seria a quarta, sendo 3 sobre os bens), a morte dos seus filhos. Com isto, a segunda área focada foi a família (1.18,19).
Jó era um homem que tinha uma família que era considerada “ideal” para a sua época. Diz o versículo 2, do capítulo 1, que ele tinha sete filhos e três filhas. Como já consideramos, anteriormente, estes números expressavam a ideia de perfeição na mentalidade oriental. Isto porque, estes números, 7 e 3, eram tidos como perfeitos, símbolos de plenitude. Se não bastasse, a soma deles, 10, também era considerado pleno no mundo antigo. Ou seja, sob todos os prismas, até mesmo os esotéricos, isto era algo invejável.
Além disso, o v.4, do mesmo capítulo, mostra que havia união e amor naquela família. Tudo indica que era costume, entre os irmãos e irmãs, se reunirem para festejar a vida. Não havia problemas interpessoais naquele lar.
Por fim, vemos, no v.5, Jó como um pai exemplar. Diz o texto que, após os dias de festas, Jó reunia seus filhos para os santificar, tal era a sua preocupação com seus filhos, tal era o seu amor para com eles. E Jó levantava-se de madrugada para oferecer estes sacrifícios, pois temia que seus filhos pecassem contra o Senhor, e se isso ocorresse sobreviria sobre seus filhos a ira de Deus.
Como se vê, este homem tinha uma família e tanto. Porém, o anjo atacou duramente a Jó, matando a todos os seus filhos. E é interessante observar que isto ocorreu de repente, e todos morreram de uma só vez.
Agora, tente imaginar o sofrimento que se alojou no coração deste pai ao receber a notícia da morte dos seus filhos. Lembre-se que Jó era um pai que não media esforços por seus filhos, pois os amava demais.
Eu levei muito tempo para conhecer a bênção de ser pai. Por motivos egoístas do meu coração, adiei esta experiência maravilhosa. Meu mundo teve que ruir, meu coração se perder, para se reencontrar, a fim de descobrir a bênção da paternidade. Hoje, tenho um filho lindo, maravilhoso. E quando leio a história de Jó fico imaginando a intensidade da dor se eu tivesse de perder meu filho. Agora, Jó tinha 10 filhos maravilhosos a quem ela amava demais, e de repente, todos morreram. Então, não consigo imaginar plenamente a dor, pois se a perda de um único filho já seria insuportável, imagino a perda de todos.
Pois bem, apesar de toda esta dor insuportável, todo este sofrimento dantesco, em momento algum Jó pecou. Em momento algum perdeu a sua fé. Em momento algum se voltou contra Deus. Estava sofrendo? Sim, estava. Mas não blasfemou contra Deus.
O que fazia que aquele homem permanecesse íntegro? A questão é que a família de Jó não era o alicerce de sua vida. A sua vida não estava fundamentada em sua família. Esta não representava a segurança do seu viver.
Este, com certeza, é um ponto muito difícil para nós, pois somos criados para depositar em nossas famílias o alicerce da nossa existência. E quando esta nos falta, temos a tendência nos rendermos às dificuldades da vida, tomando caminhos de ruína e destruição. Não são poucos os casos de pessoas que ao perderem um ente querido, perderam também os sonhos, as motivações e esperanças de vida. E o que é pior, muitos perderam a própria integridade.
Por isso, tendo por certos que o sofrimento é inevitável, precisamos reaprender que a família não é a base de segurança do nosso viver; que a nossa família não é, nem pode ser tudo para nós. A família pode e deve ser um porto seguro para muitos momentos difíceis da nossa jornada. Mas os portos também estão sujeitos à tempestades, e por causa destas, também são destruídos. Assim, não podemos focar a travessia a partir do porto, mas a partir do destino que queremos alcançar.
Por favor, entenda, não estou dizendo que devemos rejeitar ou desprezar o nosso lar, não. O que estou tentando dizer é que nossos familiares não podem ser a motivação do nosso viver. Lembre-se, Jó amava demais a seus filhos, a ponto de levantar de madrugada (friso isso porque sei o que é levantar de madrugada e quanto isto é difícil), para os santificar. No entanto, eles não eram a motivação e a razão de ser de sua vida.
Quando vejo o exemplo amoroso de Jó, me pergunto o quanto amo ao meu filho, pois quais os sacrifícios espirituais que tenho feito por ele? Sinceramente, conheço pouquíssimos pais que se importam, verdadeiramente, com o bem espiritual de sua descendência, sacrificando de si mesmo por ela. Quantos pais costumam santificar aos seus filhos lendo a Bíblia com eles, orando ou, até mesmo, conversando? Todavia, colocamos nossos filhos como ídolos de nós mesmos, nos projetando neles.
Diante da dor de Jó descobrimos uma razão muito forte pela qual não podemos fazer do nosso lar a base de nossa existência: não somos donos, nem senhores do nosso lar. Se temos, hoje, uma família é porque Deus nos concedeu, mas não somos donos dela, somos mordomos do Criador em nosso lar.
O salmo 127.3 descortina isto diante de nós quando diz: “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão”. Segundo este salmo, os filhos são herança, mas não são nossos. O Senhor os dá para que os pais cuidem deles para o próprio Deus. No entanto, os filhos têm sido, muitas vezes, a razão de existência para muitos, contrariando o ensino das Escrituras Sagradas, que os coloca como herança do Senhor.
Outra razão para que não façamos de nossa família a razão de ser da nossa existência é que, assim como nós, nossos familiares estão sujeitos às circunstâncias da vida, não transcendendo as dificuldades nem o tempo. Por isso, nós não podemos colocar a segurança de nossas vidas, a razão de nossa existência em nossos familiares, pois eles também são suscetíveis às agruras da vida. Eles passam, assim como nós passamos. Eles são mortais, assim como nós também o somos.
Por fim, não podemos construir o fundamento de nossa existência por uma razão escatológica importante: nossos laços familiares são restritos a esta vida. Na eternidade não existirá relações de parentesco. Assim, quando sofremos pela perda de uma familiar, devemos agradecer a Deus pela oportunidade de servir a Deus através daquela vida, e também pela alegria do vínculo de parentesco. Porém, precisamos ter a consciência de que tal vínculo se finda ali, na morte.
Sei que este ponto é muito delicado, posso parecer insensível, mas sei quanto me custaria a perda do meu filho ou da minha amada esposa. Porém, sabendo que as circunstâncias na vida são instáveis e passageiras, preciso ensinar ao meu coração as perspectivas corretas sobre minha relação familiar, a fim de sobreviver aos tempos de sofrimento.
Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada pela segurança que transcende as circunstâncias, e a família não transcende as circunstâncias, estando sujeita à elas.
Por fim, vendo que a perda dos bens e da família não abalaram a fé e a integridade de Jó, ainda que tivessem abalado suas emoções, o anjo promotor parte para o ataque pessoal, e a saúde de Jó é tocada de forma dura.
Percebe-se, claramente, em 2.4 que o anjo aposta tudo, agora, na vida de Jó, no sentido de roubar-lhe a saúde e, assim, fazê-lo fracassar em sua integridade. Observem o que é dito neste versículo: “Então, o anjo-promotor respondeu ao Senhor: pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida”.
Estas palavras revelam que, para o anjo, a razão da vida estava no próprio ato de viver, e se isso fosse ameaçado, o homem apostaria em tudo que lhe pudesse restaurar a saúde. Como se vê em nossos dias, esta verdade apontada no versículo continua presente. E em nome da saúde milhares de pessoas tem vendido a sua alma por um tempo tão passageiro, diante da eternidade.
Mas a armadilha não deu certo, pois Jó não blasfemou contra Deus. Manteve-se íntegro, manteve-se firma, mesmo sofrendo, porque sua vida não era tudo, viver não era o mais importante, sua segurança não estava depositada na transitoriedade da vida.
Agora, pense um pouco sobre a razão de vida de muitos. É impressionante o número de pessoas que vivem em função de sua própria existência. São pessoas que não admitem a possibilidade da morte, ou se fazem de desentendidas quanto ao assunto, porque para elas o viver é tudo, é o mais importante. Essas pessoas valorizam a tal ponto suas próprias vidas, seus prazeres, fazendo-as a razão plena da existência, que não admitem qualquer possibilidade de enfermidade; e se isto acontece, “Deus não é justo”, segundo a cosmovisão que adotaram.
É preciso que voltemos à ideia de que a vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança que transcende as circunstâncias, e nós não transcendemos as circunstâncias. Assim como tudo passa, também passaremos. Podemos até ser curados de alguma enfermidade, mas isto não evitará que, mais cedo ou mais tarde, morramos.
Se nossas vidas estivessem acima das circunstâncias, então, sofreríamos com sobriedade, sabendo suportar os reveses do tempo. Estamos sujeitos a todas as variações do cotidiano, e quando nossa vida é atingida por tais variações nós sofremos, e a vida só continua a fazer sentido quando não calcamos nossa segurança em nós mesmos, em nossas próprias forças.
Você, a esta altura, deve estar se perguntando: já que meus bens, minha família e minha própria vida não me proporcionam segurança para viver, o que, então, pode me dar segurança?
Só uma pessoa transcende as circunstâncias da vida, as vicissitudes do dia-a-dia: Deus, em Cristo Jesus, seu Filho amado. Por isso, é importante que Deus seja nossa razão de vida. Deus tem que estar acima de tudo e de todos. Se isso não ocorre em nossas vidas nos tornamos sujeitos a perda do sentido de viver, pois seja qual for a nossa motivação, ela estará sujeita às circunstâncias instáveis da jornada.
Somente Deus transcende o tempo, o espaço, as circunstâncias e suas variações. Assim, Ele se fez homem, transcendo todas as dimensões possíveis, a fim de que olhássemos para Ele, através de Jesus, e fôssemos curados. Por isso, Ele precisa ser a razão de nossas vidas, o primeiro e o último; o bem mais precioso que possuímos; o relacionamento familiar (por isso o chamamos de Pai e a Cristo de nosso irmão), mais doce e singelo no qual nos envolvemos e entregamos o coração; a razão de viver essencial.
Vida que permanece em tempos de sofrimento é marcada por uma segurança que transcende as circunstâncias, e somente Deus, em Cristo, é capaz de transcender o tempo, o espaço e as variações da vida. Aleluia! Amém.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

VIDAS QUE PERMANECEM EM TEMPOS DE SOFRIMENTO

Amados irmãos(ãs) e amigos(as), no dia 08 de Agosto de 2009 comecei a pregar uma série de sermões sobre o sofrimento, a partir do livro de Jó, tendo em mente compreender como aquele homem sobreviveu a tantas perdas e dores. Estas mensagens, a partir de hoje, estão sendo disponibilizadas neste blog, de forma escrita. No blog de nossa igreja, www.episcopaldf.blogspot.com, você terá acesso ao áudio e vídeo destas mensagens. Que o Senhor te conceda graça ao meditar nestas mensagens. Abaixo você terá o primeiro sermão desta série. A paz de Cristo a todos, na alegria de poder servir ao Reino de Deus,
Pr. Airton Williams
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Deus! Oh, Deus! Onde estás que não respondes!
Em que mundo, em que estrelas tu te escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde, desde então, corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

Este era o grito do continente africano, nas palavras do nosso poeta, Castro Alves. Neste poema, intitulado “Vozes d´Africa”, um continente brada por Deus, pois já estava cansado de ver seus filhos serem aprisionados e serem vendidos como escravos, padecendo as piores humilhações e torturas.
Este grito sai porque parecia que Deus estava escondido, em algum lugar, sem tomar conhecimento dos sofrimentos e aflições vividas pelo povo que lá habitava. Além de tudo, parecia que Deus também era surdo, ou então, se omitia diante de tanto sofrimento, pois outros gritos já haviam sido dados, sem, contudo, haver uma resposta.
Onde estaria Deus? Por que não fez Ele alguma coisa? Não via que o povo sofria? “Onde estás, Senhor Deus?”
O livro de Jó fala de um homem de quem se diz ser muito religioso, rico e pai de uma família abençoada. Neste sentido, é interessante observar que ele tinha sete filhos e três filhas, o que era considerado no mundo antigo como uma família ideal, uma vez que estes números, e a soma deles, simbolizavam a perfeição, claro favor divino.
Pelo que fica claro, ainda, ele era alguém que galgava de uma posição invejável, visto que ele é tido como “o maior de todos os do Oriente” (1.3).
Do ponto de vista religioso, Jó não era alguém hipócrita, pois vivia a sua fé de forma intensa. Diz-nos o versículo 5 que em certo período, o qual não sabemos exatamente a que correspondia, ele chamava seus filhos e os santificava, além de que sacrificava pelos seus filhos, fazendo holocaustos, com medo que estes tivessem pecado contra Deus. E isto era feito regularmente.
Como podemos ver, ali estava um homem feliz, em paz com tudo e com todos, inclusive com Deus. Mas aquele homem nem imaginava que algo estava para acontecer, e que mudaria sua vida profundamente.
Nas regiões celestes houve um diálogo entre Deus e um anjo da corte celeste, cuja missão é executar a vontade punitiva de Deus e por à prova os homens para testar-lhes a fé e a sinceridade do coração (para um entendimento melhor deste ponto, sugiro que você leia o post anterior). Neste diálogo, o Criador mostrou, com muita alegria, a vida exemplar do seu servo Jó (v.8).
É, então, que o anjo aproveita para lançar uma tese: afirmava ele que Jó só era exemplar porque Deus o cobria de proteção, pois se ele a retirasse aquele homem o desprezaria. Por isso, o Senhor concede ao anjo a permissão para tocar em tudo o que Jó tinha, até mesmo sua vida, posteriormente, a fim de prová-lo, fazendo transparecer a verdade sobre a vida daquele homem.
A partir daquele momento a vida de Jó é colocada de cabeça para baixo. Ele perdeu toda a sua riqueza, além de ter sido acusado por seus amigos de haver pecado. E tudo isto ocorreu de uma hora para outra, sem que ele esperasse.
Esta história se assemelha a muitas que conhecemos, às vezes à nossa própria história. Isto porque, o sofrimento é algo que cada um de nós já sentiu, já experimentou no dia-a-dia. Ninguém está isento dele. É bem verdade que ele ocorre de diferentes formas e intensidade. Como já dissemos em post anterior (“Não andeis ansiosos de coisa alguma”), muitos experimentaram a dor do sofrimento por causa dos seus próprios pecados (conheço bem esta experiência); outros por causa da irresponsabilidade e desumanidade de outros (também conheço esta dor); outros por causa do azar que deram em alguma situação; e outros, por causa de decisões erradas que tomaram na vida, sem que isto tivesse ligação direta com o pecado, Deus, os outros ou o azar.
No caso de Jó, seu sofrimento nos leva a ponderar uma quinta razão para o sofrimento, o teste da fé e do caráter. Sim, Jó sofreu porque era íntegro, e somente o sofrimento poderia dar provas suficientes da veracidade de sua virtude.
Destas situações aprendemos algumas atitudes importantes. Se o nosso sofrimento resulta dos nossos pecados, a única coisa a fazer é se arrepender, arcar com as consequências e agarrar-se à misericórdia de Deus, pois se a sua ira nos faz chorar a noite toda, é certo que a alegria vem pela manhã (Salmo 30.5), pois o Senhor não despreza um coração, verdadeiramente, quebrantado (Salmo 51.17). O caminho não é viver em torno da culpa, pois toda culpa é prejudicial ao nosso crescimento; Deus não quer que nos sintamos culpados, mas que nos arrependamos.
Agora, se o nosso sofrimento não resulta de pecado, precisamos aprender a lidar com este momento de dor, a fim de não naufragarmos. E esta é a razão destas mensagens que tenho pregado. Em 2007 vivi o meu deserto espiritual, e o que compartilho com você neste post são verdades que alimentaram o meu coração durante a travessia e que me ajudaram a me reencontrar com a vontade do meu Senhor, com a graça que Ele me ofertou na cruz. Por isso, tenho pregado nestes dias sobre a vida de Jó, pois percebemos nele algo muito raro na vida daqueles que sofrem. O que se destaca em sua história é a forma como ele permaneceu firme diante de tanto sofrimento. Teve seus momentos de crise, sim, mas a vida continuava, e ele permaneceu firme, sendo testado em sua fé.
Mas qual o segredo de Jó? O que o mantinha firme, diante de tal situação?Estas são questões nos levam a estudar a vida deste homem e aprender com ele alguns princípios, que nos ajudarão a caminhar, mesmo quando provados por tanto sofrimento. Assim, quero meditar sobre: “Vidas que permanecem em tempos de sofrimento”: quais as lições que podemos aprender a partir de Jó?
A primeira lição que extraímos de Jó, sobre o tema proposto, é que vidas que permanecem em tempos de sofrimento são marcadas por uma integridade sincera (v.1). Observemos que a causa do sofrimento de Jó era a prova pela qual passava sua integridade. O anjo da corte celeste havia dito a Deus que Jó era só uma casca, uma espécie de “santo do pau oco”; que aquela integridade, da qual Deus se agradara, era só uma farsa. Afirmava ele que se Deus tocasse nos bens de Jó, este revelaria sua verdadeira face.
Deus, então, permitiu ao anjo que tocasse nos bens de Jó, dando-lhe autoridade divina para isto, a fim de provar que a integridade daquele homem era sincera. Assim, o anjo tocou nos bens e na família de Jó. Mas para sua surpresa, Jó manteve-se firme em seu procedimento. O sofrimento era real, a dor era profunda, mas aquele homem não perdeu a sua dignidade. Isto porque sua integridade era sincera, não era uma virtude fingida.
Agora, qual a relação entre a integridade e o sofrimento? De que forma a integridade de vida nos ajuda a sobreviver aos tempos difíceis de dor? Duas são as razões básicas que fazem da integridade algo importante diante do sofrimento:
1. A integridade é alicerce para o coração; é dela que procedem as convicções que sustentam nosso viver, nossa caminhada em tempos difíceis.
2. Quando somos provados, sofrendo desta feita, a primeira coisa que nos acontece são os questionamentos; em seguida, passamos a questionar nossos valores e crenças. Por isso, se não houver integridade sincera, seremos vítimas da dor, levados por todo vento de esperança.
Destas questões decorre uma pergunta importante: o que é integridade? Literalmente, significa algo que é “inteiro”, sem divisão. Ou seja, íntegro é aquilo, ou aquele, que não é ou não está dividido. Este sentido refere-se à “perfeição”, não no sentido de não pecar, mas no fato de proceder de forma exemplar, não sendo repreendido por nada.
A visão bíblica refere-se à fidelidade para com Deus, procedendo de acordo com sua vontade. Vejamos, então, algumas marcas práticas da integridade que devem nos acompanhar em tempos de sofrimento:
1. Harmonia entre nossos valores morais e espirituais com a nossa prática de vida.
O texto de meditação nos diz que Jó era um homem “íntegro e reto”. Isto nos revela que o íntimo de Jó estava cheio, completo, pela disposição para praticar o que era correto. Revela que, pela sua lealdade a Deus, o que ele mais desejava era fazer a vontade do seu Senhor. Ou seja, ele não estava dividido entre o certo e o errado. Mostra-nos que ele não estava dividido entre fazer a vontade de Deus ou satisfazer seus desejos.
Agora, o que é mais extraordinário em tudo isto é vermos a palavra “reto” após o termo “íntegro”. Isto releva-nos que Jó vivia tudo aquilo que ele cria; sua crença, seus valores, morais e espirituais, eram vividos. Ele não só conhecia a vontade de Deus, mas realizava, em sua vida, esta vontade.
Podemos afirmar que ele era honesto, e por isso ninguém poderia culpá-lo, ninguém poderia chamar-lhe de fingido, falso, hipócrita. Realmente, era um homem que vivia de acordo com suas convicções, e sua maior convicção era Deus e o Seu direito soberano.
Quando olhamos a realidade dos nossos dias e a maneira como as pessoas reagem ao sofrimento, percebemos quão distante estamos disto. Diante da realidade desta marca da integridade podemos dizer que existem pessoas que nem convicções tem para viver, por isso vivem sem sentido, tresloucadamente, e quando vem o sofrimento são derrotadas facilmente, pois seus valores estão ligados a estilos de vida, e não à essência da vida, Deus; outros, no entanto, têm conhecido a vontade de Deus, seus valores, mas não os têm vividos, e quando surge a provação, trazendo consigo o sofrimento, são derrotados, e até praguejam a Deus, pois nunca experimentaram, realmente, em suas vidas, a vontade de Deus.
São pessoas que vestem uma máscara de cristãos; se dizem conhecedores de Deus, através da pessoa de Jesus Cristo, no entanto, vivem de forma contrária à tudo aquilo que o Senhor no ensina, em Sua Palavra. Pessoas assim não suportam o sofrimento, pois sempre viveram com máscaras, sem nunca terem descoberto a integridade sincera, que harmoniza a sua profissão de fé com sua vida. Porque vivem com máscaras não suportam a dor, pois esta remove a máscara, e a pessoa não tem onde se apoiar.
Com Jó não aconteceu isto, pois sua integridade era autêntica. Nele não havia hipocrisia, como fora acusado pelo anjo da corte, pois ali estava um homem que vivia aquilo que cria. Ali estava um homem que fazia valer a vontade de Deus em seu viver.
Por causa desta integridade sincera, marcada pela harmonia entre seus valores morais e espirituais com a prática de sua vida, Jó suportou seu sofrimento. Então, diante do exposto, fica a pergunta: será que encontramos em nós tal harmonia? Nossos valores morais e espirituais condizem com nossa prática? Quando falta isto, nos falta o chão para pisar.
Perdi meu chão em 2007, me faltou esta integridade. Mas não perdi meus valores. Diante disto, decidi buscar o caminho do arrependimento, do reencontro entre minha fé e prática. Foi um ano muito difícil, de muitas lágrimas, muita dor; foi um deserto terrível, mas que valeu à pena. A integridade da minha fé era real, mas faltava a harmonia com minha prática e isto Deus, misericordiosamente, restaurou. E isto me ajudou a sobreviver ao pior “vale da sombra da morte” em minha vida.
2. Temor de Deus, esta é a segunda marca da integridade sincera.
Jó não andava simplesmente de forma digna, irrepreensível, diante dos homens. Ele também tinha um relacionamento verdadeiro com Deus. Lembremos que o anjo da corte aborda esta questão no seu diálogo com o Senhor. Ele disse que se o Senhor tocasse em tudo o que Jó tinha, este blasfemaria contra Deus (v.11). O que o anjo desejava demonstrar era que aquele temor, dito de Jó, era só uma farsa, uma questão de interesse. Enquanto Deus estivesse abençoando a Jó, este continuaria temendo-O, caso contrário, ele largaria mão do Criador.
Todavia, Jó manteve-se fiel. Todos os bens lhe foram tirados; seus filhos lhe foram tirados; até sua vida foi tocada, vindo a padecer de uma séria doença. Mas ele não blasfemou contra Deus, porque no seu íntimo havia este temor ao Senhor todo-poderoso, fruto da sua integridade.
Ele foi tentado não somente pela dor à blasfemar contra Deus, mas teve, também, um empurrãozinho de sua mulher. Observe o capítulo 2.9, onde lemos: “Então, sua mulher lhe disse: ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre”. Mas a sua resposta foi diferente: “Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?” (2.10). Isto é integridade marcada pelo temor genuíno a Deus.
Mas, o que, exatamente, significa temor? Essencialmente, há dois significados no Antigo Testamento: medo e reverência. Os dois sentidos são verdadeiros e válidos. Há momentos que sabedoria nos levará a temer a Deus, pois sendo Ele justo, não deixará impune os pecados. Todavia, a palavra, em Jó, refere-se ao conceito da reverência. De uma forma prática, podemos dizer que temor, enquanto reverência, é um relacionamento de respeito a Deus por quem Ele é, e não pelo o que faz ou dá.
Era isto que impedia Jó de blasfemar contra Deus, pois o seu amor pelo Senhor o levava a respeitá-lo independente do que Dele recebesse. Não era uma relação de respeito pautada em barganha, mas em humildade diante da majestade do seu Deus.
Infelizmente, muitas vezes, ao olharmos para as nossas próprias vidas, fazendo um autoexame do relacionamento que temos com Deus, vemos quão superficial é o temor que dizemos ter do Senhor. Basta um pequeno problema para começarmos a achar que Deus não é justo, que Ele não é bom, etc.
Nesta relação, Deus parece ser um escravo para nós, dos nossos caprichos e vontades; um escravo que só é útil quando está tudo bem. Porém, quando as coisas pioram, O descartamos. Em grande parte, o nosso relacionamento com Deus é interesseiro. Só o respeitamos à medida que recebemos algum benefício, caso contrário, O desprezamos.
3. Rejeição do mal caracteriza a terceira marca da integridade.
O versículo 1, do primeiro capítulo, termina afirmando que Jó era um homem “que se desviava do mal”. Na realidade, esta expressão significa “rejeitar o mal”, o que implica que em momento algum Jó se compactuara com o mal. A integridade de vida o fazia abominar tal procedimento.
Mas cabe uma pergunta aqui: o que se entende por “mal” no texto? A visão bíblica sobre a questão, e que se aplica aqui, refere-se a todo procedimento contrário à vontade de Deus. Jó era um homem íntegro, pois rejeitava tudo aquilo que fosse contrário aos ensinos do Senhor.
É interessante observar em nossas vidas a tendência natural de se procurar harmonizar a vontade de Deus com as nossas próprias vontades, os nossos desejos. Isto porque, as nossas vidas não estão solidificadas na integridade do ser. Ainda encontramo-nos divididos em nossos desejos; assim, a vontade de Deus não é absoluta em nossas vidas. Por isso, temos visto muitos cristãos abatidos, sem vida estampada em seus rostos, porque lhes falta a integridade que lhes faça dizer não ao pecado.
Na realidade, se pararmos para pensar, o mal é atraente para nós. São valores morais fáceis de serem vividos; não exige um compromisso de vida; não temos que nos preocupar com ninguém, a não ser conosco mesmo.
E quantos de nós vivemos esta vida dúbia. Quantas vezes dizemos sim ao pecado e nos afastamos da graça oferecida por Cristo. Muitos cultivam pecados de estimação e não abrem mão deles. Pessoas que acham que não há nada de errado com determinadas práticas pecaminosas; entendem que um “pecadinho” aqui, outro acolá, não vai atrapalhar sua relação com Deus, e por aí adiante.
A integridade de um homem é marcada pela sua rejeição ao mal, ao pecado. Isto porque, a integridade revela quem somos, e aqueles que convivem em suas vidas com pecado não são de Deus. E é justamente esta relação com o mal que nos impede a experiência e a maturidade que procede da integridade. Integridade, esta, que nos alicerça na hora da dor, do sofrimento. O mal nos cega para entendermos que a dor é passageira, e mesmo que não seja, a nossa esperança não está fundamentada aqui, nesta vida.
O mal nos impede de ver a prova pela qual passamos a fim de nos qualificar, lapidar, em nosso viver. O mal impede tudo isto porque ele só cultiva em nós o gosto pelo prazer, como se este fosse o sentido da vida. Quando vivemos pelo prazer, nos tornamos pessoas mesquinhas, egoístas, que não conseguem se apoiar em lugar algum quando provados pela dor.
Jó permaneceu firme diante do sofrimento porque em seu coração não havia espaço para o mal que o tentava naquela hora. Assim, manteve-se íntegro, e uma vez íntegro, soube passar pela dor insuportável que o abateu.
Temos ensinado, até aqui, que a integridade do coração de Jó foi a primeira marca para que ele sobrevivesse ao sofrimento que passara. Suas crenças e ações não estavam divididas, o que lhe fazia forte para enfrentar o sofrimento.
O temor que ele tinha por seu Deus o impedia de blasfemar contra Ele, buscando na frivolidade da vida subterfúgios para a dor da alma. Este temor era fruto de sua integridade, a qual não olhava para o seu Criador com desejos próprios ou mesquinhos, mas dirigia-se com profundo amor, independente de ter ou não bens, família ou saúde. Para Jó, Deus era o seu bem maior, era tudo o que precisava.
Jó permanceu firme porque o pecado não tinha lugar de prazer em sua vida, não podendo induzi-lo ao fracasso.
Diante disto, te convido, meu irmão e amigo, a permanecer firme diante da dor. Permita que Deus crie em sua vida uma integridade sincera, que faça de você uma pessoa honrada, de valor, em todo tempo. Não permita que dor, o sofrimento, jogue no lixo a honra que Deus te deu ao te fazer à Sua imagem e semelhança. Não permita que o pecado, a frivolidade da vida, te afaste para longe do teu Criador quando te encontrares abatido.
Como dissemos, este foi o primeiro ponto detectável na vida de Jó que o fez um vencedor diante do sofrimento. Na próxima mensagem olharemos a segunda marca deste homem que o fez modelo para nós. Que o Senhor Jesus, Deus-homem que sabe o que é padecer, mas que venceu a morte, te ilumine e fortaleça o teu coração. Amém.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

BLOG DA IGREJA EPISCOPAL CARISMÁTICA DE BRASÍLIA

Irmãos, irmãs, amigos e amigas, neste ano Deus me deu um grande presente, a restauração do ministério pastoral em minha vida. Há 3 meses começamos a implantação da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, em Brasília. E através do irmão Ricardo recebemos um outro grande presente, a possibilidade de disponibilizarmos os estudos e mensagens que temos ministrado na igreja. Através do nosso blog você terá acesso gratuito a este material: www.episcopaldf.blogspot.com Que este instrumento seja útil para edificação do Corpo de Cristo e a salvação daqueles que foram eleitos por Deus, em Cristo Jesus.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

QUEM É SATAN, NO LIVRO DE JÓ?

Neste mês de agosto, 2009, comecei a pregar sobre a questão do sofrimento na igreja que pastoreio, a Episcopal Carismática de Brasília. Estamos meditando a partir do livro de Jó. Todavia, para uma correta compreensão do livro e de sua mensagem, é necessário desmistificar a figura de satan na história. Antes, gostaria de deixar claro que creio na existência de Satanás e no seu poder (ainda que limitado) para enganar e aprisionar as almas. Assim, creio em possessão demoníaca, opressão maligna, e todas as demais coisas que a fé cristã tem declarado, historicamente, sobre a ação do diabo. Isto, porém, não me obriga a ver o diabo em todo lugar da Bíblia e a interpretar o termo satan como Satanás quando, claramente, o texto não o afirma.
A fim de evitar que você se perca nas meditações sobre o sofrimento, decidi postar este artigo antes, para que a leitura, posterior, flua melhor. Aqui, pretendo demonstrar porque satan, em Jó (e que fique bem claro isto, no livro de Jó), não refere-se a Satanás, mas a um anjo da corte celeste, cuja função é a execução punitiva da vontade do SENHOR e por à prova o coração dos homens diante de Deus. Há 8 pontos para serem ponderados:
1. Do ponto de vista linguístico, temos um sério problema. O termo satan, em hebraico, é precedido de um artigo, lendo-se, neste caso, hasatan. Ora, quem conhece hebraico sabe que, neste caso, não se trata de nome próprio, mas de um título que exige tradução, sendo esta a de “acusador”. Porque estamos acostumados a ver o diabo como “acusador”, interpretamos a passagem, imediatamente, como se referindo a ele. Acontece que no Antigo Testamento há um anjo da corte celeste que recebe este título também por causa de sua função, uma espécie de “promotor” da corte. Além disso, ele se faz presente no Êxodo (na matança dos primogênitos), com Saul (atormentando sua vida), no censo de Davi, e na corte, novamente, acusando o sacerdote Josué (Zacarias 3.1).
2. Em 1.6 se diz: “Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também satan entre eles”. Observe que o texto afirma, “entre eles”. Talvez isto não fique claro para você, mas em hebraico a ideia refere-se a alguém daquele grupo. Ou seja, satan era contado entre os filhos de Deus, expressão que se referia aos anjos dos céus (é importante observar que filhos de Deus aqui em Jó não é a mesma coisa que filhos de Deus em Gênesis 6.2, o qual diz respeito à descendência adâmica).
3. Do ponto de vista teológico, surge outra questão. Se satan, em Jó, fosse Satanás, teríamos uma situação complicada, pois nesta ocasião este já teria sido expulso dos céus por causa de sua rebelião. Em 2.1 este satan volta a se apresentar diante de Deus com os demais anjos. Se ele foi expulso do céu, de onde vem esta liberdade para ficar entrando no céu sem reprimenda de Deus? Muitos teólogos falam da “vontade permissiva de Deus”, mas esta é uma dedução que não pode ser tirada do texto, pois o mesmo nada fala desta vontade. A leitura natural do texto é que tal figura era um anjo da corte, e não o inimigo de Deus e de nossas almas, o diabo.
4. Em 1.19 se fala de fenômenos da natureza que teriam provocado a morte dos filhos e filhas de Jó. Neste sentido, toda a teologia bíblica afirma que tal poder sobre a natureza somente Deus tem. É por isso que os discípulos ficam assustados quando Jesus manda o vento e o mar acalmarem.
5. Do ponto de vista literário, o sofrimento de Jó, em momento algum, é atribuído ao diabo, mas a Deus. Quando todos os males vêm sobre Jó, sua mulher ataca sua integridade diante dos males e recebe como resposta: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?” (2.10). Observe, Jó tem como certo que o mal, sofrimento, que recebe vem de Deus, e não do diabo.
6. Os amigos de Jó em momento algum cogitam da possibilidade daquele mal vir de Satanás, mas em todo momento entendem que procede de Deus por causa de algum pecado de Jó.
7. A partir do capítulo 38 Deus entra em cena e assume para si toda a situação manifestando sua soberania. Novamente, nenhuma acusação é feita a Satanás.
8. No final do livro, cap. 42, a sorte de Jó é mudada, e por isso, seus parentes vem festejar com ele. No v.11 se diz: “Então, vieram a ele todos os seus irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quanto dantes o conheceram, e comeram dele, e o consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado”. Observe, o mal, sofrimento, é atribuído a Deus, e em momento algum se fala do diabo.
Não estou fazendo uma apologia do diabo, não. Apenas estou fazendo uma análise literária e lexicográfica do sentido de satan, em Jó. E neste sentido, o termo refere-se ao anjo da corte celeste. Por que este entendimento é importante?
1. Porque desmistifica as elucubrações e devaneios dos proponentes da “batalha espiritual” que fica atribuindo ao diabo mais poder do que, de fato, ele tem.
2. Porque desfaz a teologia maniqueísta de que Deus e o diabo estão num confronto por representarem forças iguais. O diabo, de si mesmo, nada mais é do que um ser vencido pelo sangue do Cordeiro, o nosso Senhor e Salvador Jesus.
3. Porque nos ajuda a entender a soberania e a natureza de Deus em meio ao sofrimento. O nosso Senhor não é escravo da nossa vontade, podendo dar-nos tanto o bem quanto o mal, do jeito que quiser e quando desejar, visando o nosso crescimento.
Creio que a partir deste entendimento o livro de Jó se mostra mais encantador, pois nos revela um Deus soberano, amado não pelo que dá aos seus servos, mas pelo que é, Senhor e galardoador da vida. Com este entendimento, convido-o a ler as mensagens que serão postadas nas próximas semanas. E caso queira ouvir a pregação, basta acessar: www.episcopaldf.blogspot.com
A paz de Cristo.
Pr. Airton Williams